Cotidiano

Clima muda cenário agrícola regional

Todas as culturas estão sofrendo com atrasos no plantio ou na colheita

Toledo – Em um ano em que já se registrou excesso de chuva nos primeiros meses, três geadas intensas e moderadas consecutivas em apenas um mês (julho), estiagem de mais de 60 dias interrompida por uma chuva no mês passado e secura extrema novamente nas últimas semanas, além de um inverno em que há pelo menos 15 dias as temperaturas máximas ultrapassam os 30ºC, o cenário agrícola regional está sofrendo com tantas mudanças climáticas, está completamente alterado e provocando alertas constantes aos produtores.

Todos os ciclos estão modificados, desrespeitando zoneamentos e há preocupação em todas as áreas a serem cultivadas nos próximos dias, seja com soja, milho ou feijão, ou as que ainda precisam ser colhidas, como é o caso do trigo, cujo estágio de retirada do campo deveria estar mais avançado, mas até o momento apenas 20% das áreas já passaram pelo processo de colheita.

“O clima influenciou muito e apenas 20 mil hectares foram colhidos até agora. Restam ainda 80 mil hectares. Acreditamos que haja uma intensificação na colheita nos próximos dias, mas ainda temos o cereal em fase de desenvolvimento no campo. Já consideramos perdas de 20% por conta de tantas interferências climáticas, mas isso pode aumentar mais”, alerta o técnico do Deral (Departamento de Economia Rural) no Núcleo Regional da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) de Cascavel José Pértille.

Feijão: apenas 10% plantado

A situação é ainda mais crítica quanto às lavouras de feijão. A variedade das águas, que deveria estar 100% plantada até o próximo domingo (10), quando se encerra o zoneamento agrícola, tinha apenas 10% lançada no solo. E, dessas lavouras -que estão encolhendo ano após ano e que neste ciclo devem chegar a 4 mil hectares- estima-se que 400 hectares foram cultivados, conforme análise do Deral: “Não chove há dias e sem chuva não têm como lançar as sementes ao solo. A situação é bem preocupante porque o plantio deveria se encerrar no domingo, mas não tem previsão de chuva até lá e os produtores deverão prorrogar ainda mais o ciclo”, reforça José Pértille, ao lembrar que, quando cultivado no período indicado, a colheita ocorre em dezembro. Em todo o núcleo de Cascavel se espera uma produção de 8,4 mil toneladas apenas.

Área com milho vai encolher mais 22%

Outro aspecto que influencia no campo diz respeito à diminuição das áreas com milho na safra de verão – período mais indicado para este cultivo. A retração ocorre mais uma vez em detrimento às lavouras de soja. Em todo o oeste, considerando os núcleos da Seab de Cascavel e Toledo onde são acompanhados 48 municípios, essas lavouras vão baixar de 30 mil hectares cultivados no ciclo 2016/2017 para pouco mais de 25,5 mil hectares na safra 2017/2018, queda de 22%. “As lavouras de milho estão desaparecendo na região no ciclo de verão porque, em termos de valores, a soja compensa mais”, reforça a economista do Deral em Toledo Jean Marrie Ferrarini.

Apesar da queda acentuada das áreas destinadas ao milho, o incremento à soja é irrisório e não representa 1%. A oleaginosa vai deixar de ocupar 1,034 milhão de hectares observados no ciclo passado para acomodar 1,035 milhão de hectares no que começará a ser plantado nos próximos dias.

PLANTIO AMEAÇADO

E por falar em plantio, ele também está ameaçado para a soja devido à loucura do clima. Mais uma vez o fator que preocupa é a falta de umidade no solo. “Se a chuva prevista para a segunda-feira da próxima semana for expressiva, tiver de 30 a 40 milímetros pelo menos e generalizada, aí vai ser possível plantar e acreditamos que ocorra uma verdadeira caravana no campo para acelerar esse processo. Caso contrário, os produtores vão ter que esperar a precipitação vir, porque, sem umidade, não existe germinação”, reforçou José Pértille.

Segundo ele, muitos produtores deverão investir neste ano, se o clima contribuir, nas variedades precoces e superprecoces, as mais indicadas para quem lança as sementes na terra agora. Assim, a colheita pode ser intensificada em janeiro de 2018, dando espaço às lavouras de milho safrinha, a principal cultura de inverno em toda a região.

Fim do vazio sanitário

Neste ano o zoneamento indica o plantio de soja a partir deste domingo (10) e não mais no dia 15. Isso porque o fim do vazio sanitário foi antecipado em cinco dias após a pesquisa indicar que não há risco iminente da proliferação da ferrugem asiática, ameaça às lavouras.

Apesar da área maior neste ciclo, a produção regional de soja promete ser menor. E como isso é possível? Mais uma vez a explicação está nos fatores climáticos. Como o clima colaborou com a safra 2016/2017, a safra foi recorde, histórica, com números nunca vistos antes para todo o Paraná. Na região oeste, neste ano, deverão ser colhidas quase 4 milhões de toneladas contra 4,3 milhões produzidas no cultivo passado. “O clima contribuiu em tudo no ciclo 16/17 e tivemos uma excelente safra. Quanto a este ano, ainda não temos como afirmar”, completa o técnico José Pértille.

E a chuva?

Nos principais institutos meteorológicos brasileiros não há previsão de chuva para os próximos dias. Ao menos não de forma expressiva. Segundo o Cpetc (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos), pode chover neste domingo, mas serão pancadas ocasionais e em volume pouco significativo. Assim, os dias seguem quentes, abafados e com a umidade relativa do ar abaixo dos 40%.

Até o fim de semana os termômetros na região passam dos 30ºC e não baixam dos 15ºC indicando, a cada dia, que o inverno já se despediu. Por outro lado, não se descarta o avanço de novas frentes frias e massa de ar polar ainda neste mês, mas não há informações se elas vão provocar quedas nas temperaturas.