Cotidiano

Clean beauty: A revolução natural na indústria cosmética

Com capacidade para movimentar 48 bilhões de dólares até 2025, os ingredientes naturais estão revolucionando a indústria cosmética

Clean beauty: A revolução natural na indústria cosmética

 

Com capacidade para movimentar 48 bilhões de dólares até 2025, os ingredientes naturais estão revolucionando a indústria cosmética.

A fim de atingir um público cada vez mais exigente, responsável ecologicamente e preocupado com a vida animal e vegetal do planeta, indústrias, fábricas e marcas de cosméticos de todo o mundo têm investido na substituição dos derivados de petróleo utilizados para produzir maquiagens, sabonetes, xampus, e outros produtos de higiene e beleza.

Gerando oportunidade de trabalho para um público antenado nas tendências globais e no respeito ao meio ambiente, e a grupos diversos como veganos, alérgicos, hipersensíveis e pessoas com cabelos e tipos de pele que nunca foram vistos como público alvo da indústria, os ingredientes naturais e orgânicos estão cada vez mais presentes nas fórmulas, substituindo componentes como a parafina líquida, por exemplo, utilizada em hidratantes com o objetivo de criar uma película que mantém a hidratação natural da pele, porém, evita que outros nutrientes penetrem nos poros.

Dr. André Aguiar, alergista no Rio de Janeiro, explica que há, inclusive, componentes que podem causar alergias, como o Sodium Laureth Sulfate, presentes em muitos cosméticos e produtos de higiene, que podem ser substituídos por opções mais seguras e saudáveis para o organismo humano e o meio ambiente, como um todo.

A mudança no mercado cosmético, no entanto, não surgiu por iniciativa da indústria. Trata-se de uma exigência de pessoas de diversos países do mundo, que decidiram rejeitar produtos sintéticos e optar por utilizar apenas ativos orgânicos, naturais ou extraídos da natureza sustentavelmente, mesmo que precisem pagar mais caro, comprar de lugares distantes ou pagar frente na internet e ficar fazendo o rastreio correios até que seus produtos cheguem.

Esse público entende que precisa fomentar o mercado sustentável e que, a princípio, pode ser preciso pagar um pouco mais por isso, até que as marcas compreendam que há motivos de sobra, inclusive comerciais, para apostar na mudança de matéria-prima.

Os preços mais altos dos cosméticos veganos ou orgânicos não são desencadeados por uma questão de marketing, relacionada à moda ou exclusividade.

Na verdade, a questão é bem mais profunda.

Os produtos sintéticos, utilizados até então pela indústria, existem em larga escala no mercado e podem ser produzidos por custos baixíssimos em laboratórios.

Quando se fala de produtos naturais ou orgânicos, as coisas mudam consideravelmente, pois alguns elementos naturais não são produzidos o ano todo. Dependem de safra, plantio, colheita ou extração, espaço para cultivo, mão de obra para colheita e tratamento. Além disso, conservar esses produtos exige muita tecnologia, o que não é barato.

A vitamina C, por exemplo, oxida muito rapidamente se exposta ao ambiente, porém, o que pode conservá-la por mais tempo, geralmente, não é natural ou orgânico, e pode retornar para a natureza de forma insustentável.

Para criar uma solução saudável, empresas têm investido pesado em tecnologia e parcerias internacionais, a fim de desenvolver biocápsulas que consigam preservar os efeitos da vitamina, sem comprometer o meio ambiente.

As pesquisas são caras, levam tempo, e precisam ser financiadas pelas vendas de produtos que já estão no mercado. O que explica, mais uma vez, porque esse tipo de produto pode custar tão mais caro do que os cosméticos que já estão, há décadas, nas prateleiras dos supermercados e farmácias mundo afora.

A preocupação das marcas que estão desenvolvendo esse tipo de produto também se estende a outros aspectos, além do próprio cosmético. A embalagem precisa ser sustentável, o processo logístico deve ser limpo e o mais seguro possível para o meio ambiente, a empresa precisa ser energeticamente econômica e, se possível, gerar energia limpa, como a solar, para a própria utilização.

Os consumidores estão realmente interessados nessas questões, e se uma marca resolve se posicionar, mas faz isso de forma superficial, pode ser publicamente cobrada, questionada, ou, até mesmo, boicotada.

Parte do público consumidor já compreendeu que suas escolhas refletem no planeta, e que se individualmente a maioria das pessoas não pode resolver a questão ambiental de forma direta, é possível movimentar grandes empresas através de escolhas de consumo.

Rafaela Brugnati, analista de negócios do Sebrae-SP, afirmou, em entrevista à Você S/A: “Já existia essa tendência, principalmente pela questão do impacto ambiental. Mas o boom aqui no Brasil se deu mesmo por causa da pandemia. As pessoas passaram a se preocupar mais com a saúde e com o que estão consumindo.”

Em relação ao mercado brasileiro, ainda não há números exatos de quanto os cosméticos “limpos” podem gerar de faturamento, mas as marcas mais inovadoras já estão se movendo para poder descobrir.

As novidades chegam ao mercado todos os dias, tanto de grandes marcas como a Unilever, que em 2019 adquiriu a Tatcha – marca de cosméticos limpos – por um valor estimado de 500 milhões de dólares, quanto por empresas que possuem marcas próprias de produtos como o Walmart e a Amazon. Apesar disso, são as companhias e empresas que possuem um discurso ecológico há mais tempo ou desde o início de suas atividades, que realmente ganham a atenção do público mais exigente.

Ainda há muito espaço no mercado para quem quiser investir nos cosméticos orgânicos, e, certamente, essa é uma tendência mundial.

Para quem quer empreender, vale a pena ficar de olho nesse segmento. Para quem quer utilizar produtos cada vez melhores, também.

Redação: Bruna Bozano.