Cotidiano

Cláudia Abreu planeja a série infantil 'Valentins'

201606152221503805.jpgRIO ? Nas últimas semanas, Cláudia Abreu virou rato, se tornou mãe de oito crianças ? seus quatro filhos mais quatro da ficção ?, preparou bolos como uma alquimista, viu seu cabelo crescer num passe de mágica e viajou no tempo. A miríade de truques faz parte de uma transformação ainda maior. Aos 45 anos, Cláudia está prestes a ressurgir como coautora, coprodutora e atriz de uma série voltada para crianças no canal Gloob. Prevista para estrear no ano que vem, ?Valentins? vem sendo gravada no PoloRio Cine & Video, em Jacarepaguá. E já tem até uma segunda temporada confirmada, a ser rodada em março. Links TV: 26.6

A atriz produz a série com o marido, José Henrique Fonseca, de quem é sócia na Zola desde 2013 (Adilson Xavier e Eduardo Pop também são produtores). Ao projeto, somou-se ainda a escritora e roteirista Flávia Lins e Silva, criadora do seriado ?Detetives do prédio azul?, também do Gloob, com quem Cláudia escreveu os capítulos de ?Valentins?. A direção-geral será de José Henrique.

Conhecida na TV por suas atuações em ?Barriga de aluguel?, ?Anos rebeldes? e ?Celebridade?, entre outros, Cláudia ainda reforça o elenco da série no papel de Alice, a mãe da família Valentim. Vai aparecer no primeiro e no último dos 26 episódios. Ao lado dela, estarão Guilherme Webber (o marido, Artur, também transformado em rato) e Luiz Lobianco (o vilão Randolfo, responsável pela metamorfose).

? Fiz esse projeto pensando na minha própria família, assim como foi com a peça ?Pluft?, que estreei no teatro em 2003, quando minha filha tinha 2 anos, e refiz, uma década depois, para os outros três ? conta a mãe de Maria (15), Felipa (9), José (5) e Pedro Henrique (4). ? Quando fiz ?Pluft?, foi tão intenso. E comecei a reparar como os atores desprezam as produções infantis depois que a carreira se consolida. Poucos voltam.

NOVELA E CINEMA

?Valentins?, ela diz, veio também da necessidade de ir além da função de atriz, 30 anos após estrear na TV, na novela ?Hipertensão?. Seu último papel aconteceu em 2014, em ?Geração Brasil?. O próximo será em ?A lei do amor?, de Maria Adelaide Amaral, que irá substituir ?Velho Chico?, em outubro. No cinema, assumiu no início do ano o papel que seria de Camila Pitanga como protagonista de ?Berenice procura?. Adaptação do livro homônimo de Luiz Alfredo Garcia Roza, sob a direção de Allan Fiterman, o longa estreia em 2017.

? Quando o Zé me chamou para ser sócia dele, foi muito para incentivar meus projetos ? diz ela. ? Um desejo que eu tinha era o de não ser só atriz, o tempo inteiro no front, mas ser criadora em todos os lugares. Comecei a carreira ainda adolescente e, por conta da agenda, nunca tive tempo de fazer outras coisas. Havia sempre aquele projeto engatilhado que era atropelado por um personagem. E, como sócia da Zola, eu tinha esse compromisso.

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A história nasceu de uma observação. Cláudia reparou que o medo era um grilo recorrente entre os filhos. Medo do escuro, medo do mar, medo de tempestade…

? Eles têm medo, mas têm fascínio, querem se desafiar. Queria que as crianças tivessem atração pelo que temem, com vontade de se superar ? diz a atriz, formada em Filosofia pela PUC-Rio.

A ideia surgiu em 2012, quando a atriz trabalhava na novela ?Cheias de charme?. No fim de 2014, quando ?Geração Brasil? acabou, ela recebeu o o.k. do Gloob. Por indicação do marido, procurou Flávia Lins e Silva. E se descobriu roteirista:

? Foi a Filosofia que me deu intimidade com a escrita. Muita leitura, muitos trabalhos. E a Flávia me apresentou a uma professora de literatura incrível. Minha vontade agora é seguir escrevendo, algo que nem sei se publicaria.

Ao mesmo tempo, a mãe de quatro sentia falta de mais produções infantis nacionais. Quero ensinar a criança a pensar, ser criativa, ousada, corajosa. Como superar o medo sem a ajuda de um adulto

? Sempre tive implicância de ver minhas filhas imitando as caras da Hannah Montana, iCarly (personagens de séries americanas) e aqueles valores de winner (ganhador) e loser (perdedor), que não existem aqui. Eu quero fazer algo como o ?Sítio do Picapau Amarelo?, que deixou uma marca na minha infância e de outras pessoas. Na Europa, a criança é incentivada desde pequena a ir ao teatro, o que ajuda na formação cultural e afetiva. Aqui, muitas vezes a criança vê algo que não é pra idade dela. Um grande desejo meu é fazer algo que todo mundo possa ver.

Em ?Valentins?, a família protagonista vive no passado (em época não determinada) numa casa cheia de traquitanas, esconderijos, passagens secretas e invencionices como uma máquina de conselhos, que ajuda os garotos a lidar com os tais medos quando os pais (ela, uma alquimista e confeiteira; ele, um químico e inventor) são transformados em ratos.

? Tem novidade, ciência. Trata-se de uma família anárquica, irreverente ? explica ela. ? As pessoas tradicionais criticam a forma como aqueles pais criam os filhos, com liberdade e autonomia. Mas é por isso que eles conseguem viver sozinhos. Quero ensinar a criança a pensar, ser criativa, ousada, corajosa. Como superar o medo sem a ajuda de um adulto. ? avalia, descartando maiores semelhanças com sua própria família. ? Tenho quatro filhos, mas não seria louca de ser tão autorreferente (risos). Mas claro que é uma homenagem.

‘AS CRIANÇAS NÃO SÃO BOBAS’

Flávia Lins e Silva conta que a meta de ?Valentins? é justamente dar ferramentas para que as crianças lidem com o medo.

? Além disso, também procuramos estimular o conceito de união ? diz ela.

José Henrique Fonseca ? que, além da direção-geral, comanda diretamente alguns episódios, incluindo o primeiro ? conta que ?Valentins? é apenas o primeiro de uma série de projetos infantis da produtora.

? Sinto falta de ver coisas assim na TV. E temos que produzir com qualidade, as crianças não são bobas, você não as engana, não as convence facilmente. Temos histórias urdidas, com boas tramas. Finalmente fiz algo que meus filhos podem ver (risos) ? brinca o diretor da série ?Mandrake? (2005) e do longa-metragem ?O homem do ano? (2003).

Enquanto os dois trabalham na série, porém, Cláudia já lê o roteiro e se prepara para gravar, em julho, a próxima novela das 21h. Ela será a mocinha de ?A lei do amor?. E o cabelo curto, que lembra a personagem Heloísa de ?Anos rebeldes?, já é parte do novo papel.

? Eu que sugeri. Ela é a heroína, eu não queria um visual clássico, queria que ela fosse cascuda ? conta.