Cotidiano

Cingapura mira bancos internacionais em escândalo de fundo malaio

CINGAPURA – A “caçada” global por ganhos indevidos ligados ao fundo malaio 1MDB foi ampliado nesta quinta-feira. Cingapura prometeu agir contra quatro bancos pelo que chamou de lapsos nos controles anti-lavagem de dinheiro das instituições. Com isso, foram confiscados US$ 240 milhões de Cingapura em ativos ligados ao 1MDB. A autoridade monetária de Cingapura também informou que ainda está averiguando “algumas outras” instituições financeiras”, sem informar nomes, acrescentando que os detalhes serão apresentados conforme as investigações iniciadas em março progridam.

A ação do Banco Central de Cingapura é o desdobramento mais recente do escândalo centrado no 1Malaysia Development Bhd, fundo soberando criado pelo primeiro-ministro malaio Najib Razak em 2009 para fomentar a economia da Malásia, que continuar a reverberar pelo sistema bancário global.

As descobertar preliminares da autarquia revelam ?instâncias de falha de controle? nas filiais dos bancos UBS, Standard Chartered e DBS Group Holdings na cidade-Estado, além de ?braços substanciais? de regulações anti-lavagem de dinheiro no Falcon Private Bank, informou o BC em comunicado nesta quinta-feira. O órgão regulador prometeu agir contra as quatro instituições pelos erros.

Os investigadores alegam que bilhões de dólares foram desviados de forma inadequada do 1MDB, o que levou aos inquéritos ao redor do mundo ? de Abu Dhabi, Suíça e Caribe a Hong Kong e Estados Unidos. Na quarta-feira, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos afirmou que mais de US$ 3,5 bilhões desviados do fundo ? que serviram para financiar filmes como ?O lobo de Wall Street? e comprar casas luxuosas e obras de arte. O órgão americano busca apreender cerca de US$ 1 bilhão em ativos que foram lavados pelo sistema bancário do país.

REDE COMPLEXA

Em Cingapura, o banco central disse que ?examinações de supervisão de instituições financeiras ligadas ao fluxo de financiamento de 1MBD revelaram uma complexa rede internacional de transações que envolvem múltiplas entidades e indivíduos operando em várias jurisdições?.

?Certas instituições financeiras em Cingapura estão entre as usadas como canais para essas transações?, informou a autoridade, que enfatizou que agirá contra elas.

Autoridades da cidade-Estado têm investigado vários fluxos relacionados ao fundo malaio por possível ligação com lavagem de dinheiro, fraude de títulos e outros crimes financeiros cometidos lá. Contas bancárias pertencentes a várias pessoas foram apreendidas e acordos em propriedades foram cerceados. Cerca de 120 milhões de dólares de Cingapura nas contas pertenciam ao financiador malaio Low Taek Jho e seus familiares. Low disse que forneceu consultoria ao 1MDB, mas que não violou nenhuma lei.

?Essas ações de cumprimento por autoridades e reguladores nos Estados Unidos e Cingapura relacionados à apreensão de bens ligados ao 1MDB são, provavelmente, coordenadas internacionalmente, mostrando uma frente comum de luta contra a lavagem de procedimentos criminais?, afirmou Nizam Ismail, chefe de práticas regulatórias do RHTLaw Taylor Wessing em Cingapura.

TRANSAÇÕES SUSPEITAS

Os quatro bancos citados pela autoridade monetária de Cingapura disseram em comunicados separados que estão cooperando com as autoridades, sendo que o DBS, UBS e Standard Chartered sustentaram que relataram transações suspeitas às agências relevantes. O ?Standard Chartered tinha ?fortalecido seus controles anti-lavagem de dinheiro?, disse um porta-voz.

O UBS, por sua vez, disse ter alertado operações suspeitas ligadas ao 1MDB aos reguladores, levando à investigação das contas envolvidas, segundo fonte próxima ao assunto. As transações, no entanto, não foram imediatamente reconhecidas pelo UBS como suspeitas, disse a fonte sob condição de anonimato devido à privacidade da questão.

Segundo o banco central da cidade-Estado, houve casos de fraqueza no DBS e nas filiais de Cingapura do Standard Chartered e UBS no processo de aceitação de clientes e monitoramento de transações, além de ?atrasos indevidos? na detecção e relação de tais operações.

? Infelizmente e tragicamente, um grupo de autoridades corruptas tratou esse fundo público como uma conta bancária pessoal ? afirmou a procuradora-geral dos EUA, Loretta Lynch.

A ação civil e a apreensão de bens representa ?a maior ação única? já realizada pela Iniciativa de Recuperação de Ativos de Cleptocracia do Departamento de Justiça, programa de combate à corrupção nos EUA.