Cotidiano

Cientistas fazem protesto contra o presidente americano, Donald Trump

Science Rally

BOSTON ? A conferência anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês) deveria ser apenas o encontro para o debate dos mais recentes estudos em áreas como genética e mudanças climáticas, mas o evento, realizado em Boston, se transformou num palco para um protesto que reuniu centenas de cientistas contra o presidente americano, Donald Trump.

? Hoje (domingo) enviamos uma mensagem ao senhor Trump de que os EUA funcionam com ciência ? disse Geoffrey Supran, pesquisador pós-doutor que trabalha na Universidade Harvard e no Instituto de Tecnologia de Massachusetts estudando soluções de energias renováveis, em entrevista à Associated Press. ? A ciência é a coluna vertebral de nossa prosperidade.

Os manifestantes, muitos vestidos com jalecos brancos usados em laboratórios, exigiram que o novo governo admita as evidências das mudanças climáticas e que tome ações para proteção do meio ambiente. As críticas também se dirigiram a Scott Pruitt, nomeado por Trump para chefiar a Agência de Proteção Ambiental, apesar de ser um reconhecido defensor da indústria petrolífera.

A ?Marcha em Defesa da Ciência? foi realizada na Praça Copley, em frente ao edifício onde foi realizado o encontro anual da AAAS, a maior e mais importante associação científica do mundo, com mais de 120 mil membros e responsável pela publicação do conhecido periódico ?Science?.

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Esta foi a primeira grande manifestação de rua da comunidade cientifica americana contra o novo presidente. Para abril está sendo planejada a ?Marcha pela Ciência?, que deve acontecer simultaneamente em várias cidades do país, mas a iniciativa ainda levanta polêmica. O físico Jim Gates, que atuou como consultor de Barack Obama, afirmou que aparentemente ainda falta um objetivo para o protesto planejado, um pré-requisito para a ação política.

? Até onde eu posso detectar, não existe uma teoria da ação por trás. Isso me incomoda tremendamente ? disse Gates, ao ?Guardian?. ? Eu não entendo como os organizadores dessa marcha podem se proteger contra provocadores. Eu não sei se eles estão prontos, eu não sei se eles consideraram esse tipo de perigo. Ter a ciência representada como uma força política é um perigo extraordinário.

Do outro lado, defensores do protesto, que incluem o diretor executivo da AAAS, Rush Holt, afirmam que a organização vai trabalhar com outros setores da sociedade americana para ?fazer da marcha um sucesso?.

? É a primeira vez nos meus 50 anos de carreira que eu vejo muitas pessoas falando em defesa da ciência ? disse Holt. ? Eu já vi contra ou a favor da energia nuclear e outros assuntos. Esse é um fenômeno incomum.

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A cientista climática Astrid Caldas, da União de Cientistas Preocupados, afirmou que o protesto deste domingo mostrou que ?os cientistas que normalmente estão felizes dentro dos laboratórios estão falando?:

? Eu acho que os cientistas estão percebendo que precisam usar as suas vozes, como cientistas, em defesa própria.

Segundo Jacquelyn Gill, ecologista na Universidade do Maine, os cientistas estão percebendo que as instituições que financiam e apoiam a ciência estão sob ataque direto do novo governo americano. Para ela, o presidente ?não apenas não valoriza as nossas instituições, ele não parece valorizar a tomada de deciões baseada em evidências. Isso é alarmante para nós?.

? Eu estou preocupada de que vamos perder a EPA. Estou preocupada de que vamos perder regulações que têm impacto direto na saúde humana, como as emissões de carbono ? disse Jacquelyn. ? As pessoas vão ficar doentes. Pessoas vão morrer por causa da falta de regulação ambiental e pesquisas médicas.