Cotidiano

Cientistas descobrem por que feridas demoram a cicatrizar com a idade

33519064_Membrana acelera cicatrização e ajuda na regeneração do pele.jpg

RIO ? Ferimentos em pessoas mais velhas demoram mais para cicatrizar. Esta realidade do envelhecimento tem sido documentada desde a Primeira Guerra Mundial, com a observação de que as feridas se fechavam mais lentamente em soldados mais velhos. No entanto, até agora, os pesquisadores não sabiam exatamente o que retardava esse processo.

Experiências recentes na Universidade Rockefeller, em Nova York, exploraram esse quebra-cabeça fisiológico examinando as mudanças moleculares no envelhecimento da pele de camundongos. Os resultados, publicados nesta quinta-feira, dia 17, na revista “Cell”, trazem um novo panorama de como o corpo cura feridas. Trata-se de um processo de comunicação entre as células da pele e as células do sistema imune, que, em corpos idosos, demoram a responder.

? Dias após uma lesão, as células da pele migram para dentro e fecham a ferida, um processo que requer coordenação com células imunes próximas. Nossos experimentos mostraram que, com o envelhecimento, as interrupções na comunicação entre as células da pele e suas células imunológicas retardam esta etapa ? diz Elaine Fuchs, chefe do Laboratório de Biologia Celular de Mamíferos Robin Chemers Neustein.

? Esta descoberta sugere novas abordagens para o desenvolvimento de tratamentos que poderiam acelerar a cura entre as pessoas mais velhas ? acrescenta Elaine, que também é pesquisadora do Instituto Médico Howard Hughes.

Retorno das células da pele

Sempre que ocorre uma ferida, o corpo precisa consertá-la rapidamente para restaurar a barreira protetora da pele.

? A cicatrização de feridas é um dos processos mais complexos que ocorrem no corpo humano ? pontua Brice Keyes, co-autor do estudo ? Numerosos tipos de células, vias moleculares e sistemas de sinalização passam a trabalhar em escalas de tempo que variam de segundos a meses. Alterações relacionadas ao envelhecimento têm sido observadas em cada etapa deste processo.

Tanto as células da pele como as células imunológicas contribuem para este elaborado processo, que começa com a formação de uma casca. Novas células da pele, conhecidas como queratinócitos, mais tarde entram no local da ferida para preencher o espaço sob a casca.

A equipe de pesquisadores comparou a cicatrização de camundongos de 2 meses de idade e de 24 meses de idade ? o que é aproximadamente equivalente a seres humanos de 20 e 70 anos. Eles descobriram que entre os camundongos mais velhos, os queratinócitos demoravam consideravelmente mais para migrar para a lacuna sob a casca, e, como resultado, houve uma demora de dias para que a ferida fechasse.

Buscando uma reversão

Os pesquisadores, então, voltaram as atenções para uma proteína que as células imunes liberam normalmente após uma lesão. Quando aplicaram esta proteína no tecido de pele de um camundongo jovem e na de um velho, viram um aumento na migração de queratinócitos, que era mais pronunciado na pele mais velha. Com efeito, os queratinócitos da pele idosa se comportaram como mais jovens.

Os cientistas esperam que o mesmo princípio possa ser aplicado ao desenvolvimento de tratamentos para atrasos de cicatrização relacionados à idade.

? Nosso trabalho sugere que é possível desenvolver medicamentos para ativar caminhos que ajudam células da pele envelhecidas a se comunicarem melhor com suas vizinhos, as células imunológicas, e, assim, impulsionar as atividades que normalmente diminuem com a idade ? diz Elaine Fuchs.