Política

Cida demite presidente da Ceasa após protesto que suspendeu alimentos a instituições sociais

A governadora Cida Borghetti (PP) retirou a indicação de Vilson Goinski, ex-prefeito de Almirante Tamandaré, para a presidência das Centrais de Abastecimento do Paraná (Ceasa). Em nota nesta terça-feira (22), Cida afirmou ter "compromisso com os produtores, permissionários e comerciantes das Ceasas do Estado do Paraná".

A demissão veio após permissionários, liderados pelo sindicato da categoria, boicotaram a distribuição de frutas, verduras e hortaliças, ao Banco de Alimentos, que atende isntituições sociais. A categoria protestava justamente contra a nomeação do político. 

Nessa segunda-feira (21), o protesto comprometeu a distribuição de alimentos para organizações que atendem pessoas carentes em Curitiba e região. O chamado Banco de Alimentos da Ceasa distribui gratuitamente todas as semanas toneladas de frutas, verduras e hortaliças que podem ser reaproveitadas.

Responsável pela ONG Anjos da Cidadania, que fica em Fazenda Rio Grande, a tutora Adriana de Paula afirmou à rádio BandNews FM que atende 130 crianças com os alimentos coletados semanalmente na Ceasa. Ela conta que não houve aviso prévio. Chegou à Ceasa na segunda-feira para pegar os alimentos e foi informada que a distribuição foi suspensa por ao menos 30 dias. "Cortaram por causa dos políticos. Cheguei aqui e simplesmente não tinha", disse. 

Para tentar resolver a situação, nessa terça-feira à tarde a governadora Cida Borghetti retirou a indicação de Vilson Goinski para a presidência da Ceasa. Antes disso, por meio de nota, o Governo do Estado disse que acompanha com preocupação a manifestação de permissionários do Ceasa de Curitiba que deixaram de repassar produtos para o Banco de Alimentos, reduzindo o estoque do programa e o atendimento a organizações assistenciais beneficiadas pela iniciativa.

Segundo o governo, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento busca agendar uma reunião com a entidade que representa os permissionários da unidade da capital para entender a situação e evitar que pessoas e instituições que necessitam dos alimentos sejam prejudicadas.

Ainda segundo a nota do governo, neste período de outono e inverno há uma natural diminuição da produção, refletindo também na retração da comercialização e, por consequência, na diminuição das doações feitas para os respectivos Bancos de Alimentos.

Até o ano passado, segundo números divulgados pelo governo, 17 mil quilos de alimentos que seriam jogados fora nas cinco Ceasas do Paraná eram doados diariamente. Só em Curitiba são sete toneladas. Carros e caminhonetes fazem fila na Ceasa para coletar os alimentos. As frutas e verduras beneficiam 88 mil pessoas no Paraná por meio do programa desenvolvido pela Ceasa, que é vinculada à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento. 

Os bancos de alimentos existem na maioria das centrais do Brasil. Em Curitiba, foi criado em 2013. A distribuição é feita para creches, hospitais, asilos, casas de recuperação, casas lares e outros, que atendam pessoas em estado de insegurança alimentar e nutricional e famílias em vulnerabilidade social.

Responsáveis por essas organizações dizem que a legislação brasileira, que responsabiliza os doadores de alimentos por doenças ou males causados por eles, atrapalha o engajamento das empresas. Desde 2014, organizações tentam criar uma legislação específica para regulamentar a atividade. No Brasil, o desperdício de alimentos chega a 40 mil toneladas por dia, de acordo com a pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Quarenta e dois por cento das hortaliças colhidas são perdidas. A quantia seria suficiente para alimentar cerca de 19 milhões de pessoas diariamente