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Ciclista trocou estrada pela pista e deu vaga olímpica ao Brasil após 24 anos

60050670_Gideoni Monteiro conquista medalha de bronze Velódromo Pan-Parapan Americano de Milton.jpg

A vaga para os Jogos de Londres havia escapado por pouco, Gideoni Monteiro havia ficado como o reserva da equipe brasileira de ciclismo de estrada, mas a vida precisava continuar. Em outubro daquele 2012, o cearense que aprendera a pedalar em Sergipe e vivera por três anos em Treviso, na Itália, saiu para mais um dia de treino. Pedalava junto ao acostamento da uma rodovia em uma rodovia de Ribeirão Preto, onde vivia, e não teve tempo de desviar do caminhão que cruzou abruptamente à sua frente, vindo de uma transversal.

Ciclismo De Bike

Bateu de frente, acidente que lhe custou uma fratura exposta no braço, uma luxação na bacia, uma cirurgia e ao menos três meses de repouso. O ano de 2013 foi quase todo de recuperação física e retomada do nível anterior. No começo de 2014, a estrada, velha conhecida, pregou-lhe outra peça. Um acidente automobilístico matou seu paí, que voltava a Fortaleza depois de uma viagem ao interior do Ceará.

? Aquilo me desabou, fiquei muito mal. Não rendia mais, fui mandado embora da equipe em Ribeirão Preto. Eu pensava: ?dois anos antes estava na Itália, e hoje estou desempregado, sem saber o que fazer da vida? ? recorda Gideoni, à época com 24 anos.

Os dois traumas em pouco mais de um ano certamente contribuíram para a mudança das estradas para a pista, embora Gideoni não verbalize esta relação. Não poderia haver decisão mais acertada: o ciclista decidiu se especializar na Omniun, modalidade que estreou em Olimpíadas em Londres-2012 e reúne seis diferentes provas no velódromo, em dois dias de disputa.

REGULARIDADE PARA A MEDALHA

Depois de ser campeão brasileiro ainda em 2014, no ano passado terminou em 15º no ranking mundial, o que lhe garantiu a vaga olímpica, entre os 18 que participarão da prova no Rio. É um feito: desde Fernando Louro, em Barcelona-1992, o Brasil não disputava provas de pista no ciclismo olímpico.

? Eu decidi que não poderia deixar tudo a perder. Já tinha algum contato de pista, e a chance de conseguir uma vaga nos Jogos me fez decidir pela Omniun. É uma modalidade que alia resistência e velocidade, fôlego e explosão. O segredo é ser regular em todas as provas. Como são só 18 na briga, e a diferença é pouca, não dá para descartar ninguém de cara para a medalha.

“Eu decidi que não poderia colocar tudo a perder. Já tinha algum contato de pista, e a chance de conseguir uma vaga nos Jogos me fez decidir pela Omniun. É uma modalidade que alia resistência e velocidade, fôlego e explosão”

Nascido em 1989 em Groaíras, pequena cidade do interior do Ceará, na ?grande Sobral?, que em 2010 tinha apenas 10 mil habitantes, Gideoni se mudou aos dois anos para Aracaju, onde foi morar perto de um tio dono de uma loja de bicicletas. Cresceu pedalando, saltou das competições estaduais para as regionais, depois nacionais. Antes do vestibular, optou de vez por ser atleta, e foi para Iracemápolis (SP).

Evoluiu, ganhou convite para treinar e viver na Itália, para onde foi em 2009. Passou três anos na Europa, e a crise econômica antecipou seu retorno ao país depois de três temporadas.

Depois de 24 anos, o Brasil volta a ter um atleta para competir no velódromo, justamente a arena cuja construção mais atrasou na Rio-2016. A demora fez com que o evento-teste fosse adiado, e Gideoni ainda não conhece a pista.

? Não tenho dúvidas sobre a qualidade da pista, é a mesma empresa que fez a de Londres. É importante, porque um mínimo detalhe interfere. Só lamento que demorou a ficar pronto porque teve menos tempo para divulgar o esporte para as pessoas.

Ele não precisa ficar preocupado com o interesse do público. A 11 dias dos Jogos, o ciclismo de pista é uma das poucas modalidades com ingressos esgotados para todas as sessões.

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Conheça a modalidade:

A modalidade que estreou em Londres-2012 consiste na reunião de seis provas do ciclismo. Em cada uma, o 1º lugar ganha 1 ponto, o 2º ganha 2, e assim por diante. No fim, ganha quem somar menos pontos no total. No Rio, serão 18 ciclistas no masculino. A pista do velódromo tem 250m de comprimento.

1) Volta voadora: Cada ciclista vai sozinho para a pista, dá duas voltas de aquecimento e a terceira é a que vale, cronometrada. Ganha quem fizer o menor tempo. Explosão pura.

2) Corrida de pontos: Os pontos são disputados a cada dez voltas (2,5km). O percurso total é de 30km para os homens e 20km para as mulheres. É a prova de maior resistência.

3) Corrida de eliminação: O pelotão disputa sprints eliminatórios. A cada duas voltas, quem cruzar a linha por último, é eliminado.

4) Perseguição individual: Dois ciclistas largam em lados opostos da pista, e disputam que faz mais rápido as distâncias de 4km (16 voltas) no masculino e 3km (12 voltas) no feminino. No sistema mata-mata, que perde é eliminado.

5) Scracht race: A corrida no formato clássico. Os 18 ciclistas largam juntos, vence quem completar primeiro os 16km (64 voltas) no masculino e 10km (40 voltas) no feminino.

6) Contrarrelógio (CR): Apenas 1km (4 voltas) para homens e 500m (2 voltas) para mulheres. Os ciclistas correm sozinhos e vence quem fizer o melhor tempo.