Cotidiano

Christopher Cassidy, astronauta: 'Haverá homens morando em Marte um dia'

“Tenho 46 anos e estive no espaço em 2009 e 2013. Antes, servi na Marinha americana e participei de missões no Mediterrâneo e no Afeganistão. Tentei entrar na Nasa pela primeira vez aos 30 anos. Nunca havia pensado em ser astronauta, até saber que existia um processo de seleção.”

Conte algo que não sei.

Quando você está no espaço, não anda, ou seja, não usa os próprios pés. Você sequer usa sapatos. Por isso, depois de um mês, a pele dos seus pés começa a descascar e eles ficam como os de um bebê. Ninguém tinha me avisado que isso aconteceria, foi surpreendente.

Qual o momento mais marcante que viveu no espaço?

Na minha primeira missão, uma das minhas tarefas era, logo depois do lançamento, fotografar o tanque de combustível externo, aquela peça laranja que se separa da nave. Tirei meu cinto, me virei, comecei a fotografar e, de repente, fui surpreendido pelo que havia atrás do tanque. Era a Terra.

Chegou a ver a destruição do meio ambiente?

O que se vê de lá são as diferenças a partir das cores. A cor do deserto é diferente da da floresta, por exemplo. Particularmente, no Brasil, na região amazônica, dá para ver onde o desmatamento está acontecendo, com a falta de grandes porções de verde.

Por volta de 2030 será possível enviar homens para Marte?

É a previsão. Mas é muito caro, vários países precisam trabalhar juntos. Provavelmente, haverá homens andando em Marte um dia, até gente morando lá. Em cem anos, fomos de zero aviação no mundo para pessoas indo ao espaço. O que será possível nos próximos cem anos? Tenho certeza que será impressionante.

EUA e China podem trabalhar juntos para isso?

Ir a Marte demanda um esforço muito grande. Até que seja possível, todos os países terão passado por várias eleições, ou mudanças políticas, altos e baixos, recessões. O risco de uma missão como essa precisa ser dividido entre várias nações. Neste momento, a China tem a sua própria estação espacial e seus planos estão mais voltados a ir à Lua. Não estamos trabalhando diretamente com eles. A agência europeia está envolvida em negociações com os chineses. A beleza da exploração espacial é que ela une as pessoas e as nações de uma maneira positiva, pacífica.

Passou por alguma situação de risco?

Sim, em uma das caminhadas espaciais. O traje do astronauta que me acompanhava tinha água no capacete. Começamos a voltar. Em determinado momento, a água acabou cobrindo seus ouvidos, nariz, olhos… Ele não conseguia mais ver, ouvir ou falar. Voltamos à estação a tempo, mas foi bastante amedrontador.

O espaço é parecido com o que os filmes mostram?

Há dois filmes que são meus preferidos: “Perdido em Marte” e “Apollo 13”. As pessoas falam sobre “Gravidade”, que acho bem realista em certos aspectos. A estação espacial do filme é perfeita, assim como os trajes, mas há muitas coisas fora da realidade. Por exemplo, você não olha para a estação espacial chinesa de longe e diz “vamos até lá” (risos).

Haverá mudanças no programa espacial com Trump?

Independentemente das questões políticas, a visão que a Nasa tem de Marte e a volta dos lançamentos da Flórida com as companhias comerciais são ótimos planos. E vão muito bem.

Quão difícil é convencer a população americana a investir no programa espacial?

Sou um funcionário do governo. Se tiver sorte suficiente para ainda estar na Nasa quando forem para Marte ficarei muito feliz. Mas, como cidadão do mundo, também vejo a importância de tomarmos medidas massivas para resolvermos o aquecimento global.