Cotidiano

Chefe de ética pede a Trump para rever plano de negócios

NOVA YORK ? O diretor da agência de ética do governo americano criticou o plano de Donald Trump de manter seu império de negócios entregando-o a seus filhos, e pediu que o presidente eleito reconsidere a medida antes de tomar posse em 20 de janeiro. Em uma atitude pouco usual, Walter Shaub comentou publicamente sobre a questão de ética presidencial, dizendo que a solução de Trump para os potenciais conflitos de interesse causados por seus negócios globais é sem precedentes.

Shaub foi indicado pelo presidente Barack Obama e também trabalhou na agência durante o governo de George W. Bush. Segundo ele, o plano de Trump não corresponde aos ?padrões? de presidentes dos EUA nos últimos 40 anos, disse Walter Shaub.

Ele defendeu que o presidente eleito se comprometa a vender seus ativos corporativos e colocar o lucro em um ?blind trust? aprovado pelo órgão de ética. Neste modelo, os beneficiários do trust não tem conhecimento das participações nem direito de intervir nas negociações.

E-mails entre a agência e a equipe de transição Trump obtidos pela agência Associated Press mostram que Shaub repetidamente tentou convencer o presidente eleito e sua equipe de concordar com o modelo de ?blind trust? como a maneira mais correta para evitar potenciais conflitos éticos com seus investimentos e negócios.

O argumento é que com o plano inicial apresentado por Trump, ele não estará completamente desvinculado dos negócios, uma vez que os seus filhos terão conhecimento do andamento das empresas.

A mesma opinião foi expressada por Norman Eisen, que serviu como conselheiro de ética da Casa Branca durante o governo do atual presidente americano, Barack Obama. Ao ?New York Times?, ele disse que o plano de Trump foi uma decepção e não garante a ausência de conflito de interesses para o magnata durante seu mandato presidencial.

? Ele está armando uma crise constitucional no primeiro dia que assume o cargo ? disse Eisen ao jornal americano. ? Este é um convite ao escândalo e à corrupção. O dinheiro estrangeiro vai inundar estas brechas.

Legalmente, o presidente e o vice-presidente americanos são isentos das disposições sobre conflito de interesses que se aplicam a outros funcionários federais. Por isso, tecnicamente, Trump poderia continuar a administrar os seus empreendimentos bilionários enquanto ocupa a Presidência. No entanto, questionamentos sobre possíveis interferências dos seus interesses de negócios no seu governo poderiam manchar a sua reputação na Casa Branca, mesmo que não haja suspeita de atividades ilegais.

Numa longa explanação, Sheri Dillon, advogada de Trump, deu detalhes sobre o afastamento do presidente eleito dos seus negócio na quarta-feira. Ela afirmou que vários dos seus bens já foram liquidados. Os que restarem serão transferidos até 20 de janeiro, data da posse, para o trust, administrado pelos dois filhos. A filha Ivanka, no entanto, já deixou os negócios. Um conselheiro de ética deverá aprovar qualquer novo negócio do conglomerado no país, enquanto novos negócios no exterior não serão realizados.