LONDRES ? A um dia do referendo histórico que irá definir o futuro do Reino Unido na União Europeia (UE), a Otan foi clara em defender a permanência britânica no bloco. Alegando que o poder militar e econômico do país tem papel “crucial” no bloco, o secretário-geral da entidade disse que o Reino Unido é peça-chave para combater o terrorismo, a imigração ilegal e que sua saída poderia “exacerbar a instabilidade na região”.
? Um Reino Unido forte (…) é bom para a Otan. Estamos diante de desafios inéditos de segurança, com o terrorismo, instabilidade e um clima de incertezas. Uma Europa fragmentada acrescentaria a esta imprevisibilidade ? disse ao “Guardian” Stoltenberg. Brexit
Stoltenberg se somou a recentes apelos dos chefes de governo francês (François Hollande) e belga (Charles Michel) e afirmou que o poderio militar britânico é “fundamental” para a manutenção da estabilidade dentro do continente. Ele relatou ainda que o papel da Inteligência do país no combate ao terrorismo tem facilitado e dado vantagens “estratégicas” ao bloco, consequentemente ajudando a própria Otan.
? Combater a ameaça terrorista requer tanto a UE quanto a Otan, e precisamos de maior cooperação. O Reino Unido tem mostrado liderança de dentro dos dois.
Stoltenberg, que já foi primeiro-ministro norueguês, destacou ainda que a decisão em 1994 do país de não participar do bloco fez a imigração ilegal ser “muito maior”.
DIA FINAL TEM APELOS
As campanhas contra e a favor da permanência do país no bloco concentram-se seus últimos esforços para conquistar o voto dos indecisos. Entre 9% e 13% dos britânicos, de acordo com várias pesquisas, ainda não escolheram o lado que vão seguir. Com uma disputa acirrada e resultados não muito claros, o voto flutuante é crucial. Mais de 46 milhões de pessoas são elegíveis para votar.
O último dia de campanha será marcado pelo grande tributo à deputada Jo Cox, pró-UE, que foi assassinada na quinta-feira passada por um homem que gritou lemas da extrema-direita durante o crime. As pesquisas apontando uma pequena vantagem à permanência no Reino Unido.
Em uma entrevista a um programa de rádio da BBC nesta quarta-feira, o primeiro-ministro britânico, o conservador David Cameron, reiterou que uma eventual saída da UE será irreversível. Sua aposta pessoal ao convocar o referendo e defender o bloco europeu pode custar seu cargo em caso de derrota.
? Não há volta atrás se votarmos pela saída. É uma decisão irreversível ? disse Cameron, antes de rebater um dos principais argumentos dos partidários do Brexit, como é conhecida a opção de saída britânica da UE: ? A ideia de que não somos independentes não é certa.
Cameron recorreu mais uma vez ao tom de Winston Churchill que dominou seus últimos discursos, em um movimento direcionado às gerações mais idosas ? e com tendência maior de votar pela saída.
? Sou profundamente patriótico, não nos invadiram nos últimos 1.000 anos, temos instituições que nos prestam um bom serviço ? afirmou.
No lado do Brexit (adaptação de ?Saída Britânica? em inglês), o ex-prefeito de Londres Boris Johnson iniciou a quarta-feira em um mercado da capital britânica. Já o líder trabalhista Jeremy Corbyn vai protagonizar o último grande comício de seu partido a favor da UE.
? Estamos nas últimas 24 horas. É um momento crucial, muitas pessoas estão tomando sua decisão, e espero que acreditem em seu país, que acreditem no que fazemos ? disse Boris Johnson no mercado de peixes de Billingsgate.
Mais de cem personalidades dos dois lados se reunirão em um estúdio do Channel 4 durante a noite para discutir sobre o referendo. Entre os participantes estará o líder do Partido para a Independência do Reino Unido (Ukip), Nigel Farage, cuja oposição feroz à imigração foi relacionada ao assassinato da deputada Jo Cox.
A morte da deputada trabalhista freou o avanço do Brexit nas pesquisas. Seu marido Darren Cox afirmou na terça-feira à BBC que ela foi assassinada ?por suas posições políticas?.
Nesta quarta-feira, Jo Cox completaria 42 anos. Uma procissão percorre o Tâmisa em sua homenagem e um ato em sua memória será organizado em Trafalgar Square, praça no centro de Londres. Cinco fatos que você precisa saber sobre o Brexit do Reino Unido