Cotidiano

Cesar Garcia, palhaço e improvisador: 'O erro é um presente'

“Tenho 38 anos e nasci na periferia de Lima. Meu nome de palhaço é 23, homenagem à rua em que cresci. Já fui gerente de
restaurante, cabeleireiro, terapeuta corporal. Também trabalhei na Marinha. Até
que encontrei a arte. Hoje tenho orgulho de ser palhaço.”

Conte algo que não sei.

Para o palhaço, o fracasso é o êxito. Se fracassa, chega ao sucesso. Nas
empresas, ninguém quer fracassar, acha que é o pior que pode ocorrer. Nosso
objetivo é tirar, aos poucos, os escudos que as pessoas têm. O normal de uma
empresa é pensar apenas em crescer e nos números. Só que não se deve crescer
sozinho, mas ao lado de um grupo.

Por quê você diz que o fracasso é o sucesso?

Se não cai, a pessoa vive algo falso, já que em algum momento vai cair, e
será mais difícil se levantar. Há quem participe de uma oficina de palhaço e
diga que não quer fazer porque não gosta de enfrentar problemas. Mas o palhaço
cai, e cai de novo. E se levanta, e mais uma vez se levanta. Esta é a vida dele:
faz rir através de seus fracassos. Isto é o mais belo que existe no palhaço.

Qual a essência do palhaço?

O palhaço é coração, vísceras e transformação. Mas também tem seu lado
escuro. Sorri e chora. As pessoas não devem ocultar seu lado escuro, mas
transformar em algo maravilhoso. O palhaço permite isso. Trabalhamos com a
escuta, a verdade, o olhar e a diversão.

Como funciona uma oficina de palhaço numa empresa?

A ideia é melhorar a convivência e buscar uma mudança
nas relações pessoais entre os trabalhadores. Não queremos robôs, queremos seres
humanos. Que as pessoas não encarem os outros como concorrentes, mas como parte
de um grupo. Não vou triunfar sozinho, mas ao lado de um grupo. Queremos tirar a
tendência do ?eu, eu, eu?.

Como ocorre essa transformação?

Começamos por brincadeiras simples, de criança, como um pique-pega. No
início, alguns dizem que não querem participar, mas aos poucos vemos a
transformação. Depois partimos para exercícios para soltar o corpo e para que as
pessoas se toquem. Algumas não gostam de ser tocadas, mas depois se dão conta
que não há nada de mal: as barreiras que a sociedade impõe vão sendo rompidas.

Que conceitos são
explorados?

É importante que as pessoas sejam mais generosas consigo
mesmas. Queremos que o ambiente seja agradável, que se possa trabalhar em
harmonia com o companheiro e com o público, como faz o palhaço. O palhaço escuta
muito a plateia. Às vezes, há o roteiro escrito, mas temos que deixar para trás
porque algo funcionou de forma diferente. É preciso flexibilidade. Dizemos que o
erro é um presente, o fracasso faz parte.

E a criatividade?

Trabalhamos com muito improviso, e os exercícios ajudam a aliviar a pressão.
Muitos têm o chefe em uma posição de distância, e isso não faz bem. Fazemos
questão que os chefes participem, dancem, brinquem. E, assim, mostramos que é um
ser humano também sujeito a erros.

Qual é o perfil das empresas que buscam os cursos?

São empresas de todos os setores: farmacêutico,
companhias aéreas, mineradoras, colégios, universidades, supermercados e até o
escritório das Nações Unidos no Peru. Nas mineradoras, os trabalhadores são mais
fechados. Fazemos muitos exercícios para ?soltar o coração dos operários?. Em
uma das empresas, vimos uma mudança forte nas relações pessoais. Trabalhadores
que antes só se cumprimentavam com apertos de mão passaram a se abraçar.