Cotidiano

Cassidy Curtis, matemático: ?O espaço virtual pode ser infinito. O real, não?

201611011105135523.jpg?Tenho 45 anos, sou formado em Matemática, mas sempre quis trabalhar com animação. Em 2015, fui para o Google Spotlight Stories, para contar histórias em realidade virtual, em 360 graus. Meu trabalho é fazer a ligação entre a arte e a Engenharia. Eu busco entender as escolhas dos artistas, para que a arte seja reproduzida em software.?

Conte algo que não sei.

Quando você desenha no papel ou no Photoshop, essa imagem não é renderizada automaticamente para uma animação de 90 quadros por segundo (a frequência de filmes em realidade virtual). Passar de uma coisa para a outra é um ato de interpretação. E também um ato criativo, porque às vezes é preciso inventar um sistema que não existe. Há pinturas muito lindas que, quando transportadas para a realidade virtual, ficam parecendo arte em computação gráfica. Eu trabalho para que elas continuem parecendo exatamente como a pintura original.

Como é, na prática, o processo de se criar um filme em realidade virtual?

A parte criativa é quase a mesma de um filme em 2D. A diferença é que o resultado, em vez de oferecer apenas um ponto de vista, tem todo o espaço vivo para que se observem as imagens de qualquer ponto de vista. Quando o diretor de um filme chega a um lugar, a primeira coisa que ele faz é escolher o plano que vai gravar. Na realidade virtual, não é assim que funciona, porque o público é quem controla a câmera. É necessário buscar formas de contar sua história sem o controle da câmera.

Por exemplo?

Se há algum personagem em algum canto da cena, fazendo alguma coisa importante, é preciso esperar até que o público observe esse personagem, para que a ação transcorra. Mesmo que seja necessário começar de novo a ação. Outra dificuldade é com as músicas. Como se faz para misturar as músicas de um momento para o outro, dependendo do olhar do público? Nós pesquisamos esses caminhos.

Como vocês chamam esse novo público de um filme em realidade virtual? Ele ainda é o ?espectador? típico de cinema?

Há várias palavras, mas uma é bastante interessante, sobretudo quando se usa o capacete de realidade virtual, que é ?hóspede?. É como se você estivesse convidando alguém para entrar naquele espaço.

Como se faz a interação entre o movimento no espaço virtual e o movimento no espaço real desse hóspede?

Um problema é que o espaço virtual pode ser infinito, mas o espaço real não é. Já fizemos nove histórias no Google Spotlight, e todas são do tipo 360 graus, em que a pessoa fica mais ou menos estática e pode rodar para ver o ambiente. Mas o ?Pearl?, que acabamos de fazer, tem um pouco mais da ideia de movimento. Ela acontece inteiramente dentro de um carro, você pode colocar a cabeça para fora ou ir para o banco de trás. Cada escolha muda um pouco o sentido da história.

Pensando em aplicações para o futuro, há um limite ético para o uso da realidade virtual?

Toda tecnologia tem um uso bom e um ruim. Eu acho que a realidade virtual é perfeita para quando se precisa estar sozinho, fora do trabalho e sem alguém para conversar. Haverá uma separação natural do uso ideal da tecnologia.

É possível imaginar um uso da realidade virtual para o jornalismo?

No jornalismo e em documentários, há um grupo de problemas que não existem em animação. O maior problema é que a atenção das pessoas pode variar, e tem que se achar um jeito para guiar essa atenção. Se você está apenas reproduzindo o que acontece na realidade, às vezes vai dar certo, em outras vezes, não.