Cotidiano

Caso de estupro deve ser investigado pela DCAV, dizem especialistas

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RIO ? A investigação do caso da adolescente de 16 anos que foi vítima de um estupro coletivo semana passada no Morro São José Operário, na Praça Seca, virou motivo de polêmica. A advogada da jovem, Eloísa Samy, disse neste sábado que pedirá à Secretaria estadual de Segurança o afastamento do responsável pela investigação, Alessandro Thiers, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI). Ele acusou o delegado de tentar ?criminalizar a vítima?. Thiers se defendeu dizendo que a advogada está querendo ?bagunçar? seu trabalho. Para especialistas consultados pelo GLOBO, o estupro deveria estar sendo investigado pela Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV), que chegou a ouvir um depoimento da vítima.

O Ministério Público (MPRJ) anunciou que pretende analisar os autos do processo e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) anunciou ontem que vai designar um representante para acompanhar a investigação, atendendo a um convite da Chefia da Polícia Civil. A entidade informou que o criminalista Breno Melaragno, presidente da Comissão de Segurança de sua seção no Rio, foi o nome escolhido par a função. Para Eloísa Samy, a condução do interrogatório da jovem não foi correta.

? A linha de interrogatório usada foi para criminalizar e culpabilizar a vítima. Ele (Alessandro Thiers) perguntou se ela (a jovem) já tinha participado de sexo em grupo. Constrangida, a menina me perguntou: ?Preciso responder isso??. Eu disse que não, e o delegado continuou insistindo com esse tipo de pergunta. Depois disso, encerrei o depoimento. A menina chorou muito em vários momentos. Eu tive que interromper para que ela pudesse se recompor ? disse Eloísa.

A advogada afirmou ainda que esperava que Raí de Souza, de 18 anos, que filmou a vítima do estupro nua e desacordada, fosse preso. O advogado dele, Cláudio Lúcio, disse que, em depoimento na DRCI, seu cliente confessou ter gravado o vídeo, mas afirmou a divulgação das imagens pela internet foi feita por um outro rapaz.

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Alessandro Thiers rebateu as críticas e disse que a investigação do caso é técnica:

? A Chefia da Polícia Civil está sabendo de tudo. A investigação é técnica. Tudo que está sendo levantado tem coerência. Ela (a advogada) está querendo bagunçar a investigação, quando, na verdade, estamos fazendo um trabalho sério. Ela, inclusive, já foi presa pela DRCI. Todos os fatos estão sendo investigados. O que não foi passado até agora é porque ainda não há conclusão ? afirmou o delegado.

Naa noite de sexta-feira, o delegado disse que seria leviano falar, naquele momento, o que realmente aconteceu:

? A polícia está investigando se realmente aconteceu estupro de vulnerável ? disse.

Estupro sábado

O chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Veloso, disse neste sábado que, se a advogada tiver razão, vai avaliar e tomar as medidas adequadas. Ele disse ainda que não há dúvida de que houve uma conduta criminosa e afirmou que os culpados serão responsabilizados.

ESPECIALISTAS VEEM FALHAS

Professor da Universidade de Brasília e juiz federal aposentado, o advogado criminalista Pedro Paulo Castelo Branco disse que a investigação deveria estar sob o comando da DCAV, pois o principal crime do caso não é a divulgação das imagens da adolescente na internet, mas, sim, o estupro coletivo:

? A veiculação do vídeo é um delito posterior. Esse deve ser apurado pela especializada em crimes de informática.

Presidente da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa do Rio e ex-chefe da Polícia Civil, a deputada Martha Rocha (PDT) concorda que a DCAV deveria comandar uma força-tarefa para apurar o estupro coletivo. A DRCI, na opinião dela, deveria dar suporte à investigação.

? Ele (Alessandro Thiers) não tem que apurar o estupro, mas os crimes nas redes sociais. Se o crime principal é o estupro, a investigação tem que ser da DCAV. Também sinto falta de policiais, femininos ou masculinos, da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) no caso. É uma delegacia que faz um trabalho há 30 anos e tem gente especializada ? afirmou Martha, acrescentnado que, quando o delegado diz que está apurando se houve consentimento da jovem, está mesmo criminalizando a vítima.

Antes de ser interrogada por Thiers, a vítima do estupro coletivo prestou depoimento à delegada Cristiana Bento, titular da DCAV. Procurada para falar sobreo assunto, ela não se estendeu na conversa:

? Eu somente ouvi a menina na sexta. E acaba aí a minha participação no caso.

Ontem, 33 peças de roupas sujas de vermelho, como se fosse sangue, foram estendidas na Praia de Copacabana para repudiar a violência sexual contra a mulher. A iniciativa foi da Ong “Somos todos vítimas”, da Comunidade Evangélica Marca de Cristo, na Penha.