Policial

Cascavel registra três abusos por dia

Casos de exploração sexual envolvendo crianças cresceram 100%

Cascavel – Um olhar malicioso, uma palavra mais tendenciosa, uma simples “passada de mão”. Esses são apenas alguns dos tipos de abusos sofridos diariamente por pelo menos duas crianças em Cascavel. Os dados são assustadores quando se pensa que, na maioria deles, os abusadores estão dentro da própria casa e que, dificilmente essa criança ou adolescente vai procurar seus direitos e denunciar.

Segundo um levantamento feito por O Paraná com a Secretaria Municipal de Assistência Social, todo trabalho de apoio às vitimas é feito pelo Creas I (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e, somente no ano passado, mais de mil crianças e adolescentes foram vítimas de algum tipo de violência.

O caso mais preocupante é de exploração sexual, que é quando, geralmente, um maior usa uma criança para obter algum tipo de vantagem, principalmente em dinheiro. Conforme a Secretaria, esse tipo de registro dobrou em apenas um ano. Segundo dados do Creas I, em 2014 seis crianças foram vítimas desse tipo de violência e no ano passado, 12.

Na segunda colocação está a violência intrafamiliar, aquela cometida por quem tem por obrigação cuidar da integridade física e psicológica dos pequenos: a família. Em um ano o aumento foi de 61,7%, passando de 170 casos em 2014 para 275 no ano passado. A negligência dos pais ou responsáveis aumentou mais de 47% no período, passando de 210 registros em 2014 para 309 em 2015.

Já os casos de abusos sexuais aumentaram mais de 32%, saltando de 130 em 2014 para 172 em 2015. Cabe ressaltar que, segundo órgãos internacionais que monitoram esses tipos de violências, para cada caso denunciado, pelo menos outros dez são cometidos e que dificilmente são contabilizados.

Dentre os itens que são contabilizados pelo Creas, que incluem ainda a violência física, psicológica e o trabalho infantil, apenas dois tiveram queda: o trabalho infantil, com redução de 28,5%, passando de 49 para 35, e a violência psicológica, que em 2014 foram 242 registros e no ano passado 232, com queda de 4,1%.

Denúncia

Apoio da família é fundamental

Quem vê hoje a jovem Mariana (nome fictício) de 19 anos, não sabe o drama que ela viveu, dos 5 aos 12 anos, dentro de sua casa. O irmão, sete anos mais velho, foi seu algoz e, por anos, ela passou por um verdadeiro martírio. “Eu nem sabia direito o que estava acontecendo. Uma criança de 5 anos não sabe direito o que é certo ou errado no que diz respeito a sexualidade”.

Segundo ela, o trauma fica por toda a vida. “Pode passar o tempo que for, mas eu vou lembrar para sempre”. Estudante de Direito, ela escolheu a profissão justamente para defender as vítimas de criminosos como o irmão. “Quando fiz 12 anos, contei à minha mãe e ela não acreditou. Conversou com ele, deu uma surra e parece que para ela todo sofrimento que passei se resolveu em algumas cintadas”.

Na época o rapaz tinha 21 anos, namorava e estava prestes a se casar. “Vi nesse casamento a salvação da minha vida, mas depois de um tempo ele se separou e meus pais resolveram colocar ele de novo dentro de casa”.

Foi nesse momento que a estudante fez novamente a denúncia, mas dessa vez resolveu contar a outros familiares tudo o que aconteceu. “Ele confessou à minha mãe que abusava de mim, disse que precisava pagar por isso e ela não deu bola, ficou contra mim e a favor dele, dizendo que aquele monstro era doente e que ninguém podia saber”.

Quase seis meses depois que toda família ficou sabendo do caso, Mariana está sem conversar com a mãe e o irmão e mora hoje com a avó. “Ela optou por defender um criminoso e eu optei por não levar a denúncia até a polícia. Fui a um advogado, contei tudo a ele e fui orientada a denunciar, mas até hoje, como não tive apoio dos meus pais, fiquei quieta e escolhi tocar minha vida pra frente”.

Semana

Para discutir o tema e assim incentivar mais pessoas a denunciar esse tipo de crime, inicia amanhã, e prossegue até sexta-feira, dia 20, a Semana Municipal Contra a Violência às Crianças e Adolescentes.

A abertura será no auditório da Univel, a partir das 9h. À tarde, das 14h às 16h30, as equipes da Rede de Atenção e Proteção Social de Cascavel realizam um ato público na área central para sensibilizar a população sobre o tema.

Na terça e quinta-feiras, ocorrem atividades descentralizadas no Eureca I, II, CEU, Centro da Juventude, Apae e nas Unidades de Saúde, englobando uma série de palestras e apresentações culturais. Na quarta-feira, a partir das 13h, no Anfiteatro da FAG, ocorre a abertura do XIV Fórum Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes, e na sexta-feira, o promotor de Justiça Carlos José e Silva Fortes, idealizador nacional do movimento “Todos contra a Pedofilia”, promove uma palestra, a partir das 8h, no anfiteatro da Unipar, com o tema “Crimes Relativos à Pedofilia”. À tarde, o encerramento da Semana será realizado no Centro Cultural Gilberto Mayer com atividades culturais.

TIPO 2014 2015 %

Exploração Sexual        06     12     100

Abuso Sexual      130   172   32,3

Violência Física   132   141   – 6,8

Violência Psicológica    242   232   – 4,1

Violência Intrafamiliar  170   275   61,7

Negligência 210   309   47,1

Trabalho Infantil 49     35     – 28,5