Cotidiano

Casa Branca chama de covardes senadores contra controle de armas

WASHINGTON ? Um dia após o Senado americano ter rejeitado quatro medidas para o controle de armas, a Casa Branca chamou os legisladores de covardes por não responder com mudanças constitucionais ao maior ataque armado da História dos EUA. O governo afirmou que os senadores sacrificam a segurança nacional em nome de suas ambições políticas.

? O que nós vimos na última noite no Senado dos EUA foi uma exibição vergonhosa de covardia ? disse o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, à imprensa local.

Earnest disse que a votação de segunda-feira deveria ter incentivado o apoio bipartidário à medida que propunha a proibição da venda de armas às pessoas que integram a lista de suspeitos dos EUA. Segundo o porta-voz, autoridades estão preocupadas com os indivíduos ligados ao terrorismo ? ou suscetíveis ao recrutamento online do Estado Islâmico.

? Hoje não existe uma lei que evite que estes indivíduos entrem em uma loja e comprem armas ? ressaltou Earnest.

Na segunda-feira, o Senado dos Estados Unidos bloqueou as quatro propostas votadas para aumentar o controle sobre a venda de armas no país. A antiga discussão sobre o tema foi inflamada, na última semana, pelo massacre de 49 pessoas na boate gay de Orlando ? o maior ataque armado da História dos EUA.

As esperanças de aprovação para as propostas ? duas republicanas e duas democratas ? já não eram altas. Para passar pelo Senado, as medidas precisariam de 60 votos em seu favor, , mas a mais votada obteve apenas 57 votos.

Todas as propostas criavam limitações pequenas para que os incluídos na lista de suspeitos de ligação com o terrorismo fossem impedidos de comprar armas, ou seja, não tratavam de uma restrição mais profunda. Uma delas, por exemplo, indicava que os impedidos de voar nos EUA por suspeita de ligação com o terror não poderiam comprar armas. Outra estabelecia que se alguém que já figurou na lista de suspeitos do FBI ? caso de Mateen ? a compra da arma só seria permitida após consulta à Procuradoria-Geral.

PRESSÃO SOBRE WASHINGTON

O ataque à boate gay de Orlando vem pressionando Washington a revisar sua legislação sobre o controle de armas. Após anos de bloqueio ao tema, os senadores republicanos se comprometeram a votas as medidas. O seu partido afirma que o controle de armas fere o direito de posse de armas garantido pela Constituição dos EUA.

? É sempre a mesma coisa. Após cada tragédia, nós, democratas, tentamos passar medidas sensatas de segurança das armas. Tristemente, nossos esforços são bloqueados pelos congressistas republicanos, que tomam ordens do lobby armamentista do país ? disse o líder da minoria democrata no Senado, Harry Reid, na abertura do debate sobre as propostas.

Já o líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, disse que as medidas democratas seriam ineficazes. Ele afirmou ainda que os republicanos estão buscando reais soluções que podem ajudar a manter os americanos a salvo de ameaças terroristas.

No entanto, alguns legisladores ainda tentam firmar um compromisso para manter as armas de fogo longe dos integrantes da lista de vigilância anti-terrorismo das autoridades americanas. É possível que outras propostas sobre o tema sejam votadas no fim da semana, segundo fontes do Senado.

Alguns republicanos ressaltaram a proposta da Senadora republicana Susan Collins, que não foi considerada nesta segunda-feira. O seu plano seria proibir as compras de armas a apenas um pequeno grupo de suspeitos.

Mesmo que o Senado aprovasse uma proposta sobre o tema, ainda seria necessário que a medida passasse pela Câmara dos Representantes.

O debate sobre o controle de armas nos EUA também foi intensificado após os tiroteios em massa em uma escola de Connecticut em 2012 e a um centro de apoio a deficientes de San Bernardino, na California, em 2015. No entanto, em ambos os casos não houve mudanças na legislação americana.

Uma pesquisa conduzida na semana passada pela Reuters e pela Ipsos mostrou que 71% dos americanos são favoráveis a pelo menos uma regulamentação moderada no controle sobre a venda de armas. Em 2013 e em 2014, o mesmo índice era de 60%.

Hoje, os EUA tem mais de 310 milhões de armas espalhadas pelo país. O número é equivalente a cerca de uma arma para cada cidadão americano.