Policial

Cartas apreendidas na PEC podem ter sido forjadas

Investigação apura se cartas foram forjadas por agentes da PEC

Cartas apreendidas na PEC podem ter sido forjadas

Cascavel – Cartas e bilhetes interceptados há cerca de duas semanas na PEC (Penitenciária Estadual de Cascavel) foram parar no setor de inteligência do Depen (Departamento Penitenciário do Paraná). Isso porque há suspeita de que eles tenham sido forjados. Há, inclusive, a possibilidade de responsabilização criminal dos autores.

O Depen e a direção da penitenciária foram procurados, mas nenhum deles se manifestou sobre o assunto.

A reportagem apurou que uma das frentes apura se as mensagens foram escritas por agentes penitenciários e depois vazadas; já outra frente investiga se foram escritas por detentos a pedido de agentes; também não está descartada a hipótese de terem sido de fato redigidas por presos.

Uma das cartas está datada em 15 de abril. Outra obtida pelo Jornal O Paraná não possui data. Entre os pontos que chamam a atenção, destaque para uma possível facilitação da direção da unidade – por meio da chefia de segurança – como troca de celas e outras “contribuições” concedidas a custodiados que alegam que manteriam a cadeia em paz em troca desses favores. O teor sugere que elas tenham sido escritas por presos integrantes de uma facção criminosa que não descartariam um novo motim com agentes feitos reféns mais uma vez.

Descontentamento

Dentre os motivos que levantam as suspeitas de que as cartas tenham sido forjadas está um possível descontentamento de um grupo de agentes com a direção e a chefia de segurança na unidade, que têm enfrentado certa resistência de um grupo de profissionais lotados na PEC.

A nova chefia tem um perfil mais operacional, além de adotar medidas na penitenciária para se cumprir a lei de execuções penais como ativação de sala de aula e visitas por parlatório. Embora as visitas presenciais não estejam vetadas, por conta do baixo efetivo, os agentes em serviço precisariam trabalhar ainda mais com as alterações propostas pela chefia, o que descontenta alguns profissionais.

Receptação

As cartas foram flagradas por um grupo de profissionais em serviço quando eram arremessadas de uma galeria a outra em linhas partindo, a princípio, das galerias 6 e 8 do bloco 1, em tentativa de comunicação com as galerias 2 e 4 do bloco 2 até chegarem à chefia da cadeia.

A principal preocupação no Depen estaria diretamente associada com a segurança da penitenciária propriamente dita. Como não se sabe a real autoria das cartas, elas colocaram em alerta a unidade prisional dos lados de dentro e de fora. Há casos, inclusive, de agentes que chegam a buscar auxílio médico quando ameaças de rebelião são registradas dentro da cadeia e que acabam se afastando das funções com medo, o que deixa o quadro ainda mais deficitário.

O Sindicato que representa os profissionais confirmou que os casos seguem em investigação, mas que não acompanha a situação de perto.

Rebeliões

Somente nos últimos cinco anos a PEC enfrentou duas sangrentas, agressivas e destruidoras rebeliões. Uma delas deixou cinco mortos e dezenas de feridos em agosto de 2014 e outra, em novembro de 2017, teve um morto. A destruição da estrutura interna foi tanta que uma das galerias destruídas continua desativada e sem previsão de reativação.

No último motim, ao menos três agentes foram feitos reféns, um deles foi agredido e ficou gravemente ferido.

Apesar de toda a fragilidade da estrutura, a PEC tem hoje mais de 900 internos, muitos deles considerados de alta periculosidade e boa parte ligada à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), que durante as rebeliões ostentou bandeiras nos telhados da penitenciária alertando comandar o motim.

O Sindicato que representa os profissionais confirmou que os casos seguem em investigação, mas que não acompanha a situação de perto.

Reportagem: Juliet Manfrin