Agronegócio

Campo retoma rotina e calcula perdas

Tupãssi – Apesar de no campo feriado prolongado ser uma utopia, esse último está sendo um pouco diferente. O trabalho ganhou um novo desafio: calcular prejuízos e reorganizar a rotina com alimentação animal, escoamento da produção, alojamento de aves e suínos.

Em uma das propriedades de Adilson Leite, dos oito aviários em Cascavel, quatro estavam com animais alojados quando a greve dos caminhoneiros começou, dia 21 de maio. Cerca de 130 mil frangos estavam prontos para o abate ainda na sexta-feira que antecedeu as manifestações. A retirada foi adiada pela integradora para a segunda-feira, dia que se iniciaram os protestos e dali foram mais 12 dias de espera, de angústia e de certeza das perdas aumentando a cada dia. Ele nem sequer sabia quantos animais estavam mortos. Os frangos começaram a ser retirados no fim da noite de ontem e esse processo só deve terminar na tarde de hoje.

Adilson afirma que não deu para contabilizar as perdas e a justificativa é simples: as luzes dos aviários foram apagadas para que os animais comecem menos, e do lado de dentro era quase impossível identificar todos os locais onde havia animais mortos. “Todos os dias temos tirado umas 200 aves mortas que encontramos, mas esse volume só poderá ser avaliado no fim de semana, quando as aves vivas tiveram saído”, conta.

Do lado desses quatro aviários onde há frangos, outros quatro estavam sendo preparados para novos alojamentos, o que só deve ocorrer nas próximas semanas. Mas as perdas vão além…

Próximo ao Contorno Oeste a família tem mais quatro aviários. Por lá ainda faltavam 15 dias para os frangos serem entregues para abate quando a greve teve início, mas uma situação foi unânime entre todas as estruturas: com menos ração, já que durante a paralisação apenas uma vez os caminhões chegaram com alimento para os animais, o volume de alimento que seria para um aviário teve de ser dividido para quatro. “E não adiantava estocar, primeiro porque não tinha insumos para produzir a ração, depois que cada fase é um tipo de alimento e, se a ração ficar muito tempo guardada, ela perde nutrientes”, reforça.

O que aconteceu com o Adilson é o verdadeiro efeito dominó da paralisação e onde a conta dos prejuízos só poderá ser fechada em alguns meses. Sócio de uma empresa que comercializa estruturas para aviários, chiqueirões e silos, as transações para esses produtos que já andavam fracas simplesmente estacionaram desde a semana passada. Mas se vendesse não teria como entregar, porque os caminhões da empresa também estavam parados por conta do protesto nacional. “Ainda não dá para contabilizar as perdas, mas não acredito que haverá uma reação muito grande do mercado para recuperação ainda neste ano”, lamentou.

Absorção das perdas

Já no produtor de leite Lindomar de Quadros, onde a reportagem esteve na semana passada e o temor era de jogar fora 1,3 mil litros de leite todos os dias devido à greve dos caminhoneiros, o prejuízo foi menos catastrófico do que o esperado, mesmo assim, um impacto para o bolso do produtor. “Ainda bem que não precisei jogar um litro de leite fora. Vendi para um laticínio de Cascavel que conseguiu buscar. Quando não tinha como retirar na propriedade, aumentamos a armazenagem”, destacou.

Ele entrega o produto para uma multinacional em São Paulo que paga em média R$ 1,4 por litro. Cerca de R$ 1,1 é custo de produção. Durante os dias em que precisou comercializar na própria região, a venda ficou na casa dos R$ 0,70 por litro. Ou seja, Lindomar pagou para trabalhar e cada litro de leite custou para ele R$ 0,40.

O mesmo ocorreu na propriedade de Neiva Severini. As 38 vacas em lactação tiveram de ser ordenhadas normalmente duas vezes por dia e apesar da empresa não conseguir retirar o produto, ela encontrou um mercado paralelo: uma queijaria próxima da propriedade. “Este pessoal que faz queijo retirou o leite. Ainda bem, se não a gente teria que jogar fora”.

O suinocultor Itacir Bellongo vai entregar neste fim de semana 400 animais que estavam na engorda, mas que por ironia perderam peso nas duas últimas semanas. “O suíno consegue resistir mais, mas a falta de ração fez com que perdessem peso. O suinocultor vive enfrentando crises, a gente briga com o mercado o tempo todo, mas de ficar sem comida para os bichos foi a primeira vez”, lamenta.

Retorno das exportações

Berço de nove das 25 cooperativas agroindustriais do Estado, o oeste do Paraná ainda não tem uma dimensão exata dos prejuízos deixados pela paralisação que travou o transporte rodoviário no País.

As perdas estimadas preliminarmente são de R$ 30 milhões por dia só na agroindústria do oeste, o que equivale a dizer que foram mais de R$ 300 milhões que deixam de circular na economia regional. Todos os frigoríficos já voltaram a abater e todos estão com turnos alongados, a maioria vai trabalhar intensamente neste fim de semana para dar vazão e retirar os animais que já deveriam ter sido abatidos, mas que seguem nos aviários e nos chiqueirões.

Para líderes regionais, os reflexos ainda serão sentidos por muitas semanas e as atenções também estão voltadas para daqui a 45 dias, quando as aves que deixaram de ser alojadas no período da paralisação forçarão mais um impacto nas linhas de produção.

As cooperativas e os frigoríficos do oeste também correm contra o tempo para cobrir contratos de exportação. No feriado os containers voltaram a deixar o Porto de Paranaguá, mas o segmento teme que possa haver rompimentos de contratos internacionais pelo desabastecimento provocado nas duas últimas semanas e pelo clima de instabilidade que foi criado.

IAP dispensa licenciamento para destinação de animais mortos

Para atender à necessidade de suinocultores e avicultores que registraram perda de animais por falta de ração para alimentação nos últimos dias, o IAP (Instituto Ambiental do Paraná) editou a Portaria 106/2018, que dispensa o Licenciamento Ambiental Estadual para o enterro ou destruição de animais mortos.

A medida considera as normas da Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) para sacrifício sanitário de bovinos e búfalos reagentes positivos para brucelose ou tuberculose, além de outros animais, em situação de caráter emergencial.

De acordo com a portaria, estão dispensados de licenciamento os casos em que seja determinado o sacrifício sanitário dos animais, que a mortandade seja causada por problemas de manejo, inclusive falta de alimentação e em situações causadas por eventos climáticos severos.

Para a destruição da carcaça pela queima a céu aberto, deverá haver a declaração da Adapar de situação de emergência sanitária. Caso haja necessidade de enterro dos animais mortos, o local escolhido pelo responsável legal da propriedade deve respeitar a legislação ambiental, estar em áreas mais altas da propriedade, distantes de recursos hídricos e fora de Áreas de Preservação Ambiental.