Economia

Campo Mourão concentra polo de fabricação de equipamentos médicos

Cidade se tornou centro tecnológico do Centro-Oeste do Estado e abriga empresas dedicadas à produção de materiais hospitalares, odontológicos e estéticos. Concentração de empreendimentos nesta área foi estimulada pela Fundação Educere

Foto: Geraldo Bubniak/AEN
Foto: Geraldo Bubniak/AEN

O município de Campo Mourão, no Centro-Oeste do Paraná, se tornou um importante polo de empresas fabricantes de equipamentos médicos, hospitalares, odontológicos e estéticos. Esta reportagem da série que apresenta os produtos feitos no Paraná, apresenta a história de empresas de pequeno e médio porte que estão conquistando cada vez mais mercado neste segmento.

Em meados da década de 1990, o empresário Ater Cristófoli estava com dificuldades de conseguir mão de obra qualificada para sua empresa, a Cristófoli Biossegurança, empresa líder nacional em vendas de autoclaves de mesa. Foi assim que surgiu a ideia de criar uma instituição que capacitasse jovens interessados em entrar no mundo da robótica, mecânica e design de produtos.

“A Fundação Educere nasceu em 1997 e logo foi-se percebendo o perfil empreendedor de muitos alunos. Foi assim que a Fundação passou a ser também uma incubadora de projetos inovadores”, explica Lídia Mizote, diretora executiva da organização. Depois de 23 anos, 14 empresas foram lançadas.

A ligação com o segmento médico fomentou o desenvolvimento de produtos nesta área. “Das 14 empresas graduadas, oito fazem parte do quadro de mantenedores da Fundação. Além da contribuição financeira, elas participam da diretora, dão mentoria aos projetos incubados e participam das bancas de seleção de projetos”, conta Lídia.

A cada dois anos, a Educere abre 30 vagas para jovens de 14 a 16 anos interessados em entrar no mundo da tecnologia com aulas de eletrônica, mecânica e design de produto. Após dois anos, os alunos participam, como bolsistas, de projetos desenvolvidos pelas empresas incubadas. Alguns pulam essa etapa e são diretamente contratados pelas empresas graduadas.

FUTURO – “Nosso principal objetivo é que, no futuro, esta garotada venha a empreender. E eles têm uma ótima motivação. Hoje, as duas empresas que mais faturam e que foram incubadas por nós, foram criadas por ex-alunos da Fundação”, afirma a gestora da Educere.

Sidmar Rocha dos Santos, sócio-proprietário da Lizze, entrou na Educere com 14 anos, se encantou com a possibilidade de empreender e não tirou mais da cabeça a ideia de um dia ter o seu próprio negócio. Dirigindo uma das empresas com maior faturamento que já passaram pela Educere, ele começou sua trajetória em uma das empresas de biossegurança da região.

“Mas meu objetivo sempre foi abrir a minha empresa. Então, em 2008, a Lizze foi incubada”, conta. Num primeiro momento, Santos queria produzir equipamentos na área de estética. No entanto, a burocracia e a demora para conseguir as devidas liberações inviabilizaram os projetos.

Antes de virar empresário ele havia trabalhado num aparelho de clareamento dental a laser e usou a mesma tecnologia para criar um segundo produto, o Photon, que usa o laser para alisamento de cabelos. O produto, exclusivo para uso profissional, deu tão certo que Santos conseguiu um sócio investidor – Ater Carlos Cristófoli – e a Lizze não parou mais de crescer.

MERCADO – Hoje, além do Photon, a empresa fabrica chapinhas, secadores de cabelo, máquinas de corte e uma vasta gama de materiais para uso exclusivo em salões. “Produzimos os equipamentos na China, mas todo o projeto e desenvolvimento é nosso. Daqui, vendemos para o país todo e exportamos”, conta.

Atualmente, o carro-chefe da empresa é a chapinha de cabelo. Segundo Santos, o diferencial do produto é permitir ganho de tempo para os cabeleireiros. “Enquanto com uma chapinha comum o cabeleireiro leva cerca de duas horas para fazer um atendimento, com o nosso produto, ele faz o mesmo trabalho em 40 minutos. Então, vendemos produtividade para os nossos clientes”, afirma.

CRESCIMENTO – Em 2018, 10 anos após sua fundação, a empresa fechou o ano com R$ 18 milhões de faturamento. Em 2019, foram R$ 40 milhões e a Lizze espera fechar 2020 com R$ 70 milhões faturados, mesmo com a pandemia.

“Agora nosso foco tem sido as exportações. Queremos nos tornar na América Latina o mesmo que hoje somos no Brasil. Vendemos mensalmente cerca de 20 mil chapinhas. Este ano, nossas vendas com secadores cresceram 500%. Em até dois anos, queremos que este produto atinja o mesmo nível de vendas das chapinhas ou até mais”, afirma.

PIONEIRISMO – A Vollenz, fundada em 2014, é outra empresa incubada na Fundação Educere e que hoje está presente em todo o mercado nacional. Especializada na produção de guinchos e guindastes para transferência de pessoas, é a primeira empresa a ter um guincho hidráulico de uso doméstico com certificação da Anvisa no Brasil.

“Nossa missão sempre foi produzir equipamentos de reabilitação que fossem acessíveis”, conta Jackson Bisi, sócio-proprietário da empresa que emprega nove funcionários e desenvolve, monta e entrega seus produtos. “Compramos as peças de fornecedores locais, não temos usinagem aqui dentro. Nosso crescimento está baseado no desenvolvimento de produtos”, explica.

E o negócio vem crescendo. A projeção da Vollenz é mais que dobrar o faturamento este ano, fechando 2020 na casa dos R$ 2 milhões, ante os R$ 800 mil faturados em 2019.

Os sócios Luiz Danilo de Oliveira e Marcos Adriano de Carvalho são ex-alunos da Fundação Educere. As aulas de robótica, design de produto e empreendedorismo estimularam a visão de negócios de ambos e em 2014 resolveram criar a Ponce, que foi incubada na Fundação.

“Começamos fabricando equipamentos que não precisavam de registro da Anvisa para outra empresa da cidade. Os equipamentos que fazemos hoje, na área de estética, precisam de registro na Anvisa. Então foram três anos de trabalho até conseguirmos regularizar nosso projeto e a primeira venda aconteceu em 2017”, explica Oliveira.

A Ponce produz equipamentos para fototerapia, micropigmentação, entre outros. “Temos capacidade para fazer 1.000 equipamentos mensais. Hoje contamos com 12 colaboradores e vendemos nossos produtos para todo o Brasil”, afirma.

FEITO NO PARANÁ – Criado pelo Governo do Estado, o projeto busca dar mais visibilidade para a produção estadual. O objetivo é estimular a valorização e a compra de mercadorias paranaenses. O projeto foi elaborado pela Secretaria do Planejamento e Projetos Estruturantes e quer estimular a economia e a geração de renda.

Empresas paranaenses interessadas em participar do programa podem se cadastrar pelo site www.feitonoparana.pr.gov.br .