Esportes

Campeões sem medalhas

RIO – No Esporte, a vitória é muito associada ao topo do pódio. Mas existem os campeões sem o ouro. Aqueles que não levam o primeiro lugar, mas ganham o público com exemplos de superação, de persistência, de luta. A história dos Jogos Olímpicos revelou vários desses campeões. Quem não se lembra da suíça Gabrielle Andersen, que terminou a maratona de Los Angeles em 1984 quase carregada, mas que só aceitou ajuda médica depois de cruzar a chegada. Ou do britânico Derek Redmond, que terminou as semifinais dos 400 m de Barcelona em 1992 mancando, depois de romper o músculo do tendão direito. E nosso brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima, que perdeu o ouro na maratona em 2004 em Atenas, depois de ser empurrado e segurado por um padre irlandês.

Mais de 28 mil pessoas esperavam nas arquibancadas do estádio de Panathinaiko para a final olímpica. Vanderlei liderava a prova pelos últimos 18 quilômetros, quando um homem fantasiado (o ex-padre irlandês Cornelius Horan) o agarrou, levando-o para fora da pista. Faltavam apenas sete quilômetros dos 42 da prova. Vanderlei chegou a cair na calçada e levou nove segundos para voltar à competição, com a ajuda do grego Polyvios Kossivas e de seguranças. Dentro do estádio, ouviu-se um sonoro “Ohhhh” da torcida, lamentando o ocorrido.

Atordoado, Vanderlei foi ultrapassado pelo italiano Stefano Baldini e pelo americano Mebrahtom Keflezighi, mas, mantendo o espírito olímpico, conseguiu chegar ao fim da prova e conquistar um bronze com gosto de ouro para o Brasil. Agora, na abertura dos Jogos do Rio, teve seu maior momento olímpico ao acender a pira que simboliza o espírito da competição.

Já Gabrielle Andersen teve uma chegada épica na maratona de Los Angeles, em 1984. Desidratada e com cãibras em um dia de calor extremo, terminou a última volta da maratona depois que todos já tinham chegado. Foi em 37º lugar. O corpo estava exausto. Mas a suíça, aos 39 anos, queria concluir a que provavelmente seria sua última maratona.

Derek Redmond também tem uma história inesquecível. Um dos favoritos ao ouro em Barcelona 1992, chegou às provas decisivas do atletismo. Mas, faltando 150 metros para terminar, o músculo do tendão direito se rompeu e o britânico quase caiu de joelhos no chão, imóvel pela dor. Recusou as macas e terminou a corrida mancando. Mas terminou ao lado do pai, Jim, que não só acompanhou e apoiou a carreira do atleta desde o início, amparou Derek até o final da prova. No estádio, 65 mil pessoas se emocionavams. “Aqui estou, filho”, disse Jim a Derek, logo depois de furar o bloqueio de segurança que tentou impedi-lo. “Vamos terminar juntos”. Não houve medalha. Sobrou emoção.