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Camarões vence o Egito de virada e fatura a Copa Africana pela quinta vez

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Em uma final de Copa Africana de Nações na qual transbordava vigor físico e faltava técnica, um lance de grande habilidade, quase impensável dadas as circunstâncias, simbolizou com perfeição o tamanho da surpresa produzida por Camarões ontem. O jogo se aproximava do apito final e Aboubakar, camisa 10 que saiu do banco de reservas, tenta aparar de cabeça um passe longo. A bola cai próxima ao corpo, e o atacante aproveita para dar um chapéu no zagueiro mais próximo antes de finalizar de bate-pronto, sem chance para o goleiro egípcio.

Aos 42 minutos do segundo tempo, aquele foi o gol da vitória camaronesa por 2 a 1, de virada, sobre o Egito. Valeu o quinto troféu da Copa Africana para Camarões, de longe o mais surpreendente da galeria. Os títulos anteriores tinham vindo na década de 1980 e no início dos anos 2000, com as talentosas gerações de Roger Milla e Samuel Eto?o. Desta vez o papel de herói e ícone do título coube a Aboubakar, jogador de 25 anos alçado à condição de líder por força da ocasião, em um time recusado pelas principais estrelas do futebol camaronês.

O título, é claro, não poderia vir sem drama para a geração de operários dos ?Leões Indomáveis?, como é conhecida a seleção camaronesa. O Egito, maior campeão da Copa Africana, com sete taças, deu a impressão de que seguiria o roteiro e confirmaria seu favoritismo. O abismo técnico entre as duas seleções ficou evidente aos 22 minutos, quando Salah, atacante da Roma (ITA), deu ótimo passe para Elneny, meia do Arsenal (ING), encher o pé e estufar a rede defendida por Ondoa.

CONTRASTE TÉCNICO

Enquanto a seleção egípcia era liderada por jogadores que atuam nas principais ligas europeias, Camarões sentia a ausência de referências como o zagueiro Matip, do Liverpool, e o meia Choupo-Moting, do Schalke, que declinaram a convocação. O Egito sentiu-se tão confortável depois de abrir o placar que passou a abrir mão da posse de bola e esperar preguiçosamente em seu próprio campo, assistindo à dificuldade do time camaronês para concatenar jogadas realmente perigosas ao gol defendido por El Hadary.

Veio o intervalo, porém, e os 15 minutos de interrupção acabaram acentuando não mais o contraste técnico, e sim a diferença anímica. O Egito voltou ainda mais relaxado, enquanto Camarões se incendiou com as mexidas do técnico belga Hugo Broos. Ainda no primeiro tempo, ele havia lançado o zagueiro Nkolou no lugar do machado Teikeu. Depois, voltou do vestiário com Aboubakar na vaga de Tambe.

GARRAS À MOSTRA

Bastaram 14 minutos, quase o mesmo tempo da pausa no intervalo, para os ?Leões? mostrarem suas garras. Nkoulou, o primeiro escolhido pelo técnico Broos, conseguiu um belo cabeceio após cruzamento do capitão Moukandjo e deixou tudo igual. Nem o empate camaronês despertou os ?Faraós?, que estavam acomodados como se deitados em um sarcófago guardado nas profundezas da pirâmide, ao lado de todos os registros de fartura e glórias pregressos. Perceberam tarde demais que viver de passado não basta.

E Camarões, ignorando as estrelas ausentes e sempre mirando mais à frente, chegou à consagração no golaço de Aboubakar. Depois o Egito finalmente acordou, mas a guerra já estava perdida. Faltavam poucos minutos para reverter um comportamento indolente ao longo de toda a partida, simbolizado em apenas 38% de posse de bola para a equipe dos ?Faraós?, muito mais técnica e capacitada do que os ?Leões?.

Com o título, Camarões será o representante africano na Copa das Confederações de 2017, que terá os campeões continentais ? Portugal, Chile, Austrália, México e Nova Zelândia ?, além da Rússia, país-sede, e Alemanha, vencedora da última Copa do Mundo. A competição será disputada entre 17 de junho e 2 de julho.