Cotidiano

Câmara tem clima de normalidade no dia seguinte à cassação de Cunha

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BRASÍLIA ? No primeiro dia após a cassação de Eduardo Cunha, o clima na Câmara dos Deputados já se mostrou mais ameno nesta terça-feira, com conversas entre integrantes da base aliada ao presidente Michel Temer e representantes da oposição, além da aprovação de seis Medidas Provisórias, por acordo. Para governistas, as ameaças de Cunha se mostrarão vazias e, com o tempo, a tendência é que ele seja definitivamente esquecido na Casa.

? Se ele tivesse algo de fato contra o governo, ou mesmo contra os deputados, ele teria usado antes da votação e teria impedido esse placar que o defenestrou. Agora, ele não está em condições de ameaçar ninguém. Ele está na UTI. Já tem tantos inimigos, não vai querer acumular mais outros ? afirmou um aliado de Temer.

Cunha

Na noite de segunda-feira, Cunha teve o mandato cassado por 450 votos, com apenas 10 contrários, 9 abstenções e a ausência de 42 deputados. Durante o período final de seu processo, Cunha passou a se queixar fortemente a aliados de que não estaria recebendo ajuda do Palácio do Planalto para escapar da cassação. Em diversas ocasiões ele mandou recados para integrantes do governo, por meio de interlocutores de Michel Temer.

Mas, muitos deputados também levaram ao Planalto a informação de que a cassação de Cunha seria inevitável. Na avaliação do custo-benefício, o governo decidiu se intrometer o mínimo possível no processo. Assim como em relação aos deputados, se Cunha tivesse algo para ser usado contra Temer e seus assessores, já teria usado o material para forçar uma virada na votação, acreditam os governistas. A expectativa é que, agora, sua influência se dilua de vez.

? Eduardo não tinha mais influência nenhuma na Câmara. Estava enfraquecido e voltado, 24 horas do dia, para sua defesa. Nós conversávamos com ele sobre o processo dele, mas nem discutíamos mais a pauta da Câmara ? afirma um parlamentar da base.

A tentativa de integrantes da base é de fazer com que, encerrado o assunto Cunha, a oposição passe a debater os projetos do governo e deixem de lado o discurso político que contaminou os últimos meses no Congresso.

? A cassação do Eduardo Cunha tira o discurso que a oposição usava para fazer palanque e desgastar a base, de ficar dizendo que Temer se aliou a ele para fazer um golpe. Cunha estava sendo usado como escudo para a defesa deles no impeachment, para não aparecerem os problemas deles. Agora, fica um clima mais leve, acaba aquele ambiente pesado de discussões. Fica melhor para o governo e para todo mundo ? afirmou o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), que justifica sua abstenção na votação como forma de simbolizar que não havia posicionamento do Planalto sobre o processo.

No plenário da Câmara, tucanos e petistas retomaram o diálogo que há tempos se vê comprometido por radicalizações de ambos os lados. A sensação é de que, na ausência de Cunha, haja mais espaço para tratar os temas da economia, principal preocupação do governo.

? Cunha era como uma bactéria reincidente, que se alimentava do tecido contaminado da ameaça e do conflito. Estavam todos ansiosos para curar de vez esse quadro, ninguém gosta de viver em clima de guerra permanente ? disse um tucano.