Cotidiano

Caldo de cana e jiló: Zeca Baleiro une extremos em ?Era domingo?

2016 910799915-zeca baleiro_0219_©rama de oliveira.jpg_20160520.jpgRIO ? ?Era domingo? é o 16º disco de carreira de Zeca Baleiro, segundo seu site oficial, desde a estreia, em 1997, com ?Por onde andará Stephen Fry??. Já seria bastante trabalho se o compositor maranhense de 50 anos não vivesse procurando balas para mastigar, fazendo turnês em dupla, lançando projetos especiais (como o delicioso disco infantil ?Zoró ? Bichos esquisitos?), DVDs e outras paçocas.

O engenho de açúcar de Zeca parece inesgotável. ?Era domingo? traz o compositor em forma, em seu típico estilo morde-assopra: para uma canção melancólica como a faixa-título, que abre o disco, logo vem o ska-reggeaton ?Ela parou no sinal?, com apimentado sabor caribenho-paraense; para a pessimista ?Homem só? (?Meu amor gastei em sonhos sem futuro/ Esperanças vãs reduzidas a pó?), a resposta é o humor negro de ?Desejo de matar?, com arranjo tarantinesco e refrão grudento. Como uma versão moderna de Adoniran Barbosa (1910-1982) ? que ia da alegria inocente do ?Samba do Arnesto? ao mundo cão de ?Saudosa maloca? ?, Zeca Baleiro desliza azeitado entre a tragédia e a comédia, tendo à disposição um arsenal sonoro e de referências muito mais amplo do que o do venerável compositor de ?Trem das onze?.

Zeca Baleiro – Era Domingo

Não exatamente conhecido por simplificar, Zeca usou 13 produtores nas 11 faixas do disco ? certamente um recorde. Nomes como os dos músicos que o acompanham (Tuco Marcondes, guitarra e violão; Kuki Stolarski, bateria; Fernando Nunes, baixo) aparecem no posto, assegurando ao mesmo tempo a diversidade entre as canções e a unidade do disco, já que o cantor passeia tradicionalmente entre gêneros e formatos, e são exatamente aqueles músicos que ajudam a definir sua sonoridade.

Ávido regravador, Zeca se mostra fominha ao assinar todas as composições, com apenas três parceiros, como o poeta romântico Sousândrade (1833-1902), cujos versos aparecem em embalagem de rap sofisticado em ?Desesperança?. O ponto final perfeito numa volta ao mundo da MPB sem deixar o Maranhão.

Cotação: Ótimo.

Discos da semana (31/05)