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Caio e Duca, eternos!

Assunto que entristeceu toda uma nação e nos fez ser todos Chapecoense e desejar força à equipe e aos familiares das 71 vítimas fatais da tragédia com o avião da Lamia, o acidente aéreo com a delegação catarinense completa um ano nesta terça-feira. Mais precisamente, completou durante a madrugada, às 2h58, o que naquele dia nos fez acordar com a vontade de que tudo não tivesse passado de um pesadelo.

Dentre os passageiros do Voo 2933 estavam os cascavelenses Luiz Calos Saroli e Eduardo de Castro Filho, mais conhecidos como Caio Júnior e Duca, que comandavam a equipe catarinense como treinador e auxiliar-técnico, respectivamente.

“O tempo não amenizou a dor, porque como ele morava fora, não ficava o tempo todo conosco, e quanto mais o tempo passa, mais dá saudade, porque dá a impressão que ele está viajando. Mas agora, como já faz um ano, e a gente nunca ficou tanto tempo sem ver ele, parece que a saudade começa a apertar mais ainda. Sinto que a dor aumentou. Tem dias que pega mais, que sentimos mais, e outros que seguimos no automático, sem pensar. A repercussão foi tão grande que nem parece que aconteceu dentro de casa, parece coisa de filme”, diz Isabella de Castro Paulin, irmã do eterno Duca.

O mesmo sentimento tem familiares de Caio Júnior. “Está complicado amenizar a dor. Estamos aqui e vira e mexe lembramos, não tem como esquecer, querendo ou não. A TV lembra, encontramos pessoas e dentre uma conversa e outra o assunto surge, então vamos levando, mas no dia a dia sentimos falta. Ele era parceiro, além de irmão ele era meu parceiro. Sentimos muita falta. A mãe é mais. Ontem ela chorou, lembrou-se de um ano da data. Nós vamos à missa, à igreja, rezamos e vamos levando, mas não é facial”, diz Celso “Chico” Saroli, irmão do eterno Caio Júnior.

Sentimento de injustiça

Um ano depois da tragédia com a delegação da Chapecoense, a saudade daqueles que fizeram seus familiares se acostumar com suas ausências enquanto percorriam o mundo da bola parece ser mais intensa. Maior também é o sentimento de impunidade aos responsáveis.

“Um vai jogando a culpa para outro a culpa e isso ainda vai longe. Com o tempo é capaz de tudo isso ir para o esquecimento. Essa gente grande têm advogado, então vai enrolando o processo. O pior de tudo fica para as viúvas dos jogadores, que estão sem receber o seguro. Torcemos para que não fique nisso aí, que a Justiça seja feita, mas não temos muita esperança, não”, lamenta Chico Saroli.

“Temos acompanhado bem de perto o caso e essa última novidade [divulgada segunda-feira pelo Ministério Público da Bolívia, de que os donos da empresa de aviação são o ex-senador venezuelano Ricardo Alberto Albacete Vidal e sua filha Loredana Albacete Di Bartolomé] dá um pouco de esperança pelo menos da parte financeira, que pode ser o que traga um pouco de Justiça, mas o que queremos é que as pessoas envolvidas fiquem presas, porque nenhum dinheiro no mundo vai pagar a falta dele”, diz Isabella de Castro.

Indenizações e punição ainda são incertezas

Parentes das vítimas do acidente com o voo da Lamia criaram duas associações para concentrar informações e somar forças em busca de respostas. Uma delas esteve reunida na semana passada com advogados da Chapecoense e das famílias e solicitou documentos para ficar a par de tudo o que está acontecendo judicialmente.

Apesar da união, as famílias têm entrado por conta própria na Justiça. A de Duca conta com a assistência da VGP, do advogado Luiz Fernando Pereira, que é primo de Duca e atua em Cascavel, mas ainda assim tem representante em Miami (EUA), onde fica localizada a Bisa Seguros e Resseguros S/A, que prestava serviço à Lamia e que alega que o contrato não cobria voos na Colômbia e que a apólice não tinha validade na data do acidente. A dúvida é sobre a legalidade da cláusula restritita de voo e também se a apólice é verdadeira e se outras seguradoras não estão por trás da Bisa.

Há incerteza também sobre o prazo de buscar responsáveis pela tragédia na Justiça boliviana, de onde partiu o avião e foi traçado o plano de voo. Os familiares da tragédia têm o dia de hoje como sendo o último para ingressar na Justiça.

O certo mesmo é que aqueles que tinham contrato com a Chapecoense receberam da equipe o valor referente à recisão de trabalho, com 13º, férias, salário daquele mês e também o seguro de vida que o time tinha feito para seus contratados, equivalente a 14 salários (foram pagos 28 salários por ter sido acidente). A própria Chape também é alvo de enxurrada de processos, que solicitam indenização de acordo com a expectativa de vida das vítimas.

“Está sendo muito difícil lidar com a falta do Duca. Ele fazia parte de tudo em nossa vida. Como ele era solteiro, vivia intensamente a vida dos meus pais. Ele ajudava em tudo aquilo que eles iriam fazer, inclusive financeiramente e desde o menor até o mais complexo assunto. Ele participava de absolutamente tudo, comunicava-se com meu pai duas vezes por dia, mesmo quando estava em Dubai. Já quando estava por perto, como em Chapecó, meus pais iam o visitar. Eles sempre estavam juntos e o Duca sempre ajudou a decidir tudo dentro da nossa casa”, (Isabella de Castro).

“Ele saiu de casa aos 13 anos para jogar no Flamengo e meu pai nunca foi chamado por causa de nenhum problema causado pelo Duca. Ele sempre estava nos treinos no horário certo, sempre fez tudo certinho e dentro do que mandavam. Ele tinha o grande sonho de seguir o Tio caio, era a vontade dele. Tanto que depois que largou o futebol como atleta foi estudar, fazer faculdade e curso de técnico, porque sabia que só ser sobrinho do Caio não bastava, e o próprio tio Caio deixou isso claro, que ele deveria ser preparado. Ele estava feliz por estar o lado do tio, para isso estudou se especializou. Seu sonho era estar perto do tio e ser técnico futuramente” (Isabella de Castro)