Cotidiano

Brexit pode gerar efeito dominó na União Europeia

LONDRES ? Todos os eurocéticos da União Europeia esperavam a saída do Reino Unido do bloco econômico para dar início a um efeito dominó entre os países do bloco e enfraquecer o atual modelo europeu.

Antes do referendo, deputados de extrema-direita fizeram campanha em Viena pelo Brexit, com bandeiras, música folclórica e o slogan ?a primavera dos povos?. A turma dos mais valentões está pronta para tentar a aventura de saída. A Itália se dá ao luxo de ter dois partidos eurocéticos ? um deles é o Movimento 5 Estrelas, que teve uma grande vitória nas eleições municipais do final de semana passado. CONTEÚDO BREXIT PAPEL 2306

? Sem medo ? disse o dirigente da Liga Norte italiana, Matteo Salvini, dias antes do referendo. ? Se a Europa é isso, antes só do que mal acompanhado.

A saída do Reino Unido ?demostra que é possível viver fora da UE?, disse recentemente a líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, que ocupa o primeiro lugar das pesquisas de primeiro turno das eleições para presidente na França em 2017.

? A França talvez tenha mil razões a mais para querer sair da UE do que os ingleses ? afirmou Le Pen, na sexta-feira da semana passada, em Viena.

Com o Brexit, os pedidos de referendo podem se multiplicar e ecoar nos países nórdicos, igualmente afetados pela onda nacionalista. Os países escandinavos, importantes contribuintes para o orçamento da UE, temem que as sucessivas crises europeias acabem afetando sua prosperidade.

? Os países pequenos, como a Dinamarca e potencialmente a Suécia, fazem parte do grupo ?de risco? ? indicou o cientista político Carsten Nickels, do grupo de análise de Bruxelas Teneo.

Putin, o vencedor

O chefe de governo húngaro, Viktor Orban, declarou seu amor à Europa na última segunda-feira, em uma súplica feita aos britânicos para que votassem pela permanência no bloco continental. O processo, entretanto, é realista e estratégico. A Hungria, como a Polônia e outros países da Europa Central, onde o euroceticismo vai de vento em popa, se beneficia de ajudas financeiras europeias. Orban se esforça para encarnar no coração da UE uma alternativa às políticas de Bruxelas, sobretudo em relação ao tema da migração.

Até o Jobbik (Movimento por uma Hungria Melhor), um dos partidos de extrema-direita europeu mais radicais, anunciou há pouco tempo que não quer sair da UE, para poder ?melhorá-la de dentro?. As retóricas incendiárias contra a União Europeia são uma coisa e a política executada no poder é outra, apontou a cientista política finlandesa Emilia Palonen, tomando como exemplo o partido de ultradireita Os Verdadeiros Finlandeses.

No outro extremo do heterogêneo panorama de euroceticismo, a esquerda grega do Syriza também mudou o tom em suas promessas de lutar contra Bruxelas.

As autoridades europeias advertem que não darão qualquer tipo de alívio aos britânicos. Essa mensagem busca também desmotivar os governantes que tentem uma aventura pelo rompimento.

Analistas afirmam que uma União Europeia enfraquecida só terá um vencedor. Werber Fasslabend acredita que o presidente russo, Vladimir Putin, aproveitará para recuperar sua influência no Leste Europeu e atingir o bloco europeu em descomposição em relação ao modelo russo.