Cotidiano

Brexit é ameaça para Reino Unido, UE e o mundo

A menos de uma semana do plebiscito, as campanhas pró e contra a permanência do Reino Unido na União Europeia (UE) cresceram em intensidade, incentivando uma fervorosa retórica nacionalista entre os que são a favor do Brexit — como a saída do país do bloco europeu é chamada, em inglês. O clima de ódio e fanatismo é de tal ordem que está sendo apontado como o motor por trás do assassinato da deputada Jo Cox por um homem que gritava “Reino Unido em primeiro lugar!”, enquanto atirava contra ela e a esfaqueava, na última quinta-feira.

Importantes instituições multilaterais, como o FMI e a OCDE, economistas e bancos de investimento vêm alertando sobre o impacto que o Brexit terá sobre a economia britânica, citando, entre outras aspectos , o desemprego, a perda de influência econômica e o enfraquecimento da libra. O Brexit seria igualmente calamitoso para a UE, cuja integridade como projeto já vem sendo desafiada pela crise dos refugiados sírios, a crescente popularidade de políticos nacionalistas e xenófobos e uma precária recuperação econômica, que ainda não se traduziu em prosperidade efetiva.

O FMI, em seu último relatório sobre o continente, recomendou que os governos europeus comecem, com cautela, a elevar gastos sociais. Do contrário, a instabilidade política e econômica ameaçará a UE. Num tom de alerta pouco usual, o Fundo enfatizou a importância de seguir as regras de saúde fiscal e manter uma boa relação dívida/PIB, mas acrescentou que “sem ações mais decisivas para estimular o crescimento e fortalecer a integração, a zona do euro estará sujeita à instabilidade e seguidas crises de confiança”.

Mas o Brexit também se soma a outros focos de incertezas que ameaçam a economia global, ainda abalada pela crise financeira de 2008. Ao explicar por que manteve a taxa básica de juros da economia no patamar de flutuação entre 0,25% e 0,5% na última quarta-feira, a presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Janet Yellen, reconheceu que uma elevação agora “poderia ter consequências para as condições econômicas e financeiras nos mercados financeiros globais”, alimentando um círculo vicioso de estagnação econômica geral.

A preocupação de Yellen é correta, embora ao menos uma alta de juros esteja prevista para este ano. Com o dólar como moeda global, o aperto monetário nos EUA tem consequências no resto do mundo, sobretudo para os exportadores de commodities, como o Brasil, mergulhado em sua pior crise; e a China, ameaçada pelo risco de estouro de bolha financeira diante do alto endividamento de suas empresas e bancos.

Por isso, os olhos do mundo estarão voltados para os britânicos na próxima quinta-feira. É neste quadro mais amplo que o risco de uma saída do Reino Unido da UE se coloca, elevando seu poder destrutivo.