Esportes

Brasileiros amargaram a lanterna em suas modalidades na Olimpíada

2108 - saltos.jpgQuando a dupla de saltos ornamentais Ian Matos e Luiz Felipe Outerelo
terminou a a prova no Centro Aquático Maria Lenk, no dia 10, Luiz saiu da
piscina chorando. Sabia que o resultado seria um dos piores da disputa, já que o
erro que havia cometido no ar tinha sido o mais grave de toda a sua carreira: o
atleta não esticou as pernas na saída do trampolim, atrapalhando a sincronização
com Ian, que havia feito tudo certo.

Ainda chorando, ficou inconsolável quando a lista final de notas apareceu no
telão, com a bandeira do Brasil em último lugar. Um gesto malfeito, e tinham
sido os piores daquela manhã, daquele estádio, daquela modalidade. Ian e Luiz
não eram, literalmente, melhores do que ninguém. Nem eles nem os outros 31
brasileiros que, entre 465 atletas do país a participarem dos Jogos, também
ficaram na lanterninha de suas modalidades: os 12 integrantes do time de rúgbi
masculino; as 13 do polo feminino, os quatro jovens que competiram no florete
por equipes, na esgrima; e outra dupla de saltos ornamentais, Juliana Veloso e
Thammy Galera.

? Eu me lembro muito de uma cena que aconteceu logo
depois, e que só eu vi. As pessoas foram esvaziando o estádio, e eu ali, parado,
sem acreditar no que tinha acontecido. E aí vi que só tinham quatro pessoas na
arquibancada: eram quatro amigos meus de infância, que ficaram até o final para
falar comigo. E de repente éramos só eu e meus melhores amigos lá, onde eu tinha
acabado de cometer o erro mais grave da minha vida ? contou Luiz Felipe, no
ônibus, a caminho do treino, nove dias depois da prova fatídica. ? Eles tinham
raspado a sobrancelha com dois traços, como um sinal de ?Tóquio 2020?, para me
mostrar, já sabendo que dificilmente teríamos medalhas, mas sem imaginar que
seríamos os últimos. Aí, no dia seguinte, eu raspei também. Seis países conquistam o primeiro ouro olímpico na Rio-2016

No dia seguinte, ele arqueou as sobrancelhas raspadas ao checar suas contas
nas redes sociais: eram mais de 500 mensagens de apoio no Instagram e pelo menos
600 no Snapchat. Luiz respondeu uma a uma:

? Eu não imaginava que tinha tanto apoio. Nunca senti isso. Eu tive muito
medo da vaia quando errei o salto, e o sentimento de medo com decepção foi uma
das piores coisas que já senti. Mas a felicidade de receber tanto carinho também
era inédita. Eu acho que só quem fica em último lugar pode entender essa
confusão:

o trajeto para se chegar à Olimpíada é muito mais complicado do que a prova
em si. Talvez eu não tivesse experimentado tudo isso se tivesse ficado, sei lá,
em quarto ou quinto lugar.

As histórias dos últimos lugares nessa Olimpíada são tão
inspiradoras quanto a dos medalhistas: lanterninha dos 100m livre, o nadador
etíope Robel Kiros ? com peso e tempo que sobravam aos padrões olímpicos ?
aproveitou a fama repentina provocada pela relação entre seu desempenho e seu
tipo físico para criar a Fundação Baleia, com o objetivo de difundir a prática
do esporte na Etiópia, que não tem uma piscina olímpica sequer. A maratonista
cambojana Nary Ly também comoveu o público que acompanhou a prova, disputada
pela cidade no dia 14, com sua trajetória: chegou em último lugar, quase uma
hora depois da campeã, mas levava com ela 44 anos de uma vida dedicada aos
estudos do HIV. Pós-doutora em Imunologia, Nary pesquisa a transmissão do vírus
de mãe para filho em seu país. Ao fim da prova, tornava-se a primeira cidadã do
Camboja a cumprir uma maratona olímpica. Todas as medalhas do Brasil no Rio-2016

NO RÚGBI, GOLEADA PARA A ARGENTINA

É nos exemplos dos ?últimos que são os primeiros? que o capitão do time de
rúgbi brasileiro Lucas Duque se mira. Com desempenho constrangedor para uma
Olimpíada, em que chegou a perder de 31 a 0 da argentina, o time não conseguiu
computar uma só vitória nas cinco partidas que disputou nos Jogos, ficando em
último lugar no geral.

? Nós sempre soubemos que seria muito complicado. Não
temos um histórico favorável. Nunca vencemos um campeonato mundial, nada. Mesmo
assim, treinamos duro e tivemos a chance de participar de uma disputa com as
maiores potências do mundo. Claro que foi muito difícil: a gente queria ao menos
uma vitória, e nem isso foi possível. Fica aquele gosto de ?e se? que não passa
nunca ? desabafou Lucas, já em casa, em São José dos Campos. ? Mas tudo é a
forma como você olha. Não há maneira mais eficaz de popularizar um esporte como
apresentá-lo numa Olimpíada, e foi o que fizemos. Eu sou o mais velho do grupo,
posso dizer que vi o rúgbi brasileiro caminhar do amador para o olímpico. É
incrível. Espero que os nossos patrocinadores não desistam e também pensem
assim…