Cotidiano

Brasileiro tem dificuldade de renegociar dívida, diz Idec

dinheio_gastos_agência o globo.jpgRIO ? Refinanciar dívidas para fugir do endividamento continua sendo um obstáculo para os brasileiros. Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) com 1.815 internautas, entre julho e setembro de 2016, mostra que 53,6% dos participantes já tentaram renegociar uma dívida. Porém, deste total, mais de 60,8% tentaram uma negociação com as instituições financeiras e não tiveram êxito. Apenas 39,2% conseguiram refinanciar seus débitos.

Vários são os motivos de insucesso. Para 29,1% desses clientes, a transferência da dívida para outra empresa foi o que impediu o processo. Já 27,3% disseram não ter conseguido novo prazo para pagar,enquanto 24,2% foram informados de que o banco não renegocia dívida cujo pagamento ainda não está em atraso.

O estudo também mapeou os critérios dos bancos no tratamento dos clientes endividados. Foram consultadas as cinco instituições financeiras mais lembradas pelos consumidores como principais credores: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Itaú. Questionados pelo Idec, as instituições não apresentaram respostas efetivas, principalmente sobre a transferência das dívidas para escritórios especializados em cobrança. Conforme explica a economista do Instituto e responsável pela pesquisa, Ione Amorim, as respostas são genéricas e contrastam com o que dizem os consumidores.

?Os bancos responderam as perguntas sobre as políticas de tratamento ao endividado de forma genérica, o que todos afirmam basicamente é oferecer a repactuação ou prolongamento da dívida como única alternativa de renegociação e informam disponibilizar conteúdo de educação financeira em seus respectivos sites. O conteúdo disponível nos sites costuma ser informações padronizadas e frias não qualificam o perfil do consumidor, não apresentam estatísticas e não realizam monitoramento para garantir a capacitação ? ressalta a especialista. ?Os frequentes acordos firmados com repactuação e alongamento da dívida, se apresenta como a única alternativa oferecida pelas instituições para solucionar o problema do endividamento.

Com relação às políticas para o combate ao superendividamento dos clientes, todos os bancos disseram que adotam essa prática. Mas o Idec constatou durante a pesquisa que 46% dos consumidores não tiveram nenhum tipo de orientação a respeito. Apenas 0,7% mencionaram ter participado de oficinas promovidas pelas instituições sobre o assunto. Embora as instituições financeiram dizem dialogar com o cliente para renegociar o débito e aque adotam políticas de educação financeira para evitar a inadimplência, Ione Amorim diz que a prática é bem outra:

? É elevada reincidência da inadimplência decorrente os acordos frustrados, inflexibilidade dos bancos, imposição de propostas fora da capacidade de pagamento, transferência de dívidas para escritórios e não renegociar dívidas que não estão em atraso, tudo isso sem nenhuma orientação de educação financeira.

Para o Idec, é muito preocupante a elevada taxa de inadimplência dos contratos renegociados, atrás apenas do índice dos cartões de crédito. Segundo Ione, o cenário avaliado aponta para o aumento da vulnerabilidade dos consumidores, diante das frustrações pelo descumprimento dos acordos, as renegociações sem analise da capacidade de pagamento, o agravamento da situação do endividamento.

? As ações dos bancos se resumem em repactuação e refinanciamento das dívidas, a concessão de crédito ainda é realizadas sem o rigor necessário, o que impede atribuir a responsabilidade pelo quadro de endividamento somente pela falta de educação financeira do consumidor. Os bancos também são responsáveis pela publicidade agressiva de crédito até para renegociar dívidas, vendem a ilusão de sair das dívidas tendo a facilidade do crédito como solução.

A especialista do Idec aponta que faltam iniciativas para a fase seguinte, no momento em que o endividamento já está consolidado, e acrescenta que o quadro atual de endividamento apresenta lacunas regulatórias, onde o consumidor não tem acolhimento e tratamento amparado num programa que promova a saída da situação de endividamento. O modelo contribui para a preservação do ciclo de transferência de renda na forma de juros e a exposição permanentemente ao uso do crédito, um desequilíbrio nas relações sobre contratação de crédito e manutenção da capacidade de pagamentos.

? Os mesmos bancos que concedem o crédito depois sentam com os consumidores para renegociar, contratos muitas vezes repletos de abusividades, vendas casadas, negociados muitas vezes sobre pressão para aderir a serviços para conseguir o crédito. Para melhorar o equilíbrio entre consumidores e instituições financeiras é preciso programa de acolhimento com estatísticas de reincidências, qualificação dos endividados, monitoramento e capacitação sobre educação financeira ? afirma Ione, completando que, para o Idec,é imprescindível discutir o assunto e, inclusive, fomentar o debate sobre uma regulação que possibilite os consumidores formas mais eficientes para o tratamento de suas dívidas junto aos bancos.