Cotidiano

Brasil tem 61 milhões com restrição de crédito

Cerca de 70% das vendas no comércio são feitas parceladamente

Rondon – Em época de crises sérias, recordes que não podem ser comemorados costumam ser batidos com facilidade e sucessivamente. É o que ocorre com o Brasil principalmente nos últimos dois anos. Uma dessas marcas mostra a gravidade do cenário agravado por decisões e escolhas erradas por parte do governo e de sua equipe econômica: 61 milhões de consumidores têm atualmente algum tipo de restrição ao crédito no Brasil.

Antes que uma boa notícia se confirme, a tendência, conforme os birôs de crédito espalhados pelo País, é que o número ficará ainda maior, chegando aos 63 milhões no último trimestre de 2016. Há mais de dois anos o índice de pessoas com algum tipo de restrição de crédito ficava na casa dos 35% e agora deverá alcançar os 41% da população com mais de 18 anos e economicamente ativa.

“E esse não é um fato isolado. Ele ocorre em todos os cantos do Brasil, inclusive no Oeste do Paraná”, diz o especialista em crédito Eduardo Berndt, que é de Marechal Cândido Rondon. Diante de um risco potencializado de inadimplência, que pode contribuir para o fechamento de empresas em um período de vendas em queda, a recomendação é clara: transformar as consultas aos bancos de proteção em rotina. Os maiores birôs nacionais contam com sistemas e softwares avançados, que permitem acesso a inúmeras informações, tanto de pessoas físicas quanto jurídicas.

Hábito

Diretor de SPC da Caciopar (Coordenadoria das Associações Comerciais e Empresariais do Oeste do Paraná), Eduardo informa que as empresas precisam tornar a consulta de crédito em hábito. Não apenas em época de crise acentuada, mas em todos os períodos. Agindo dessa forma, elas darão importante parcela de colaboração para a formação de uma base de dados ampla e ainda mais confiável. “Embora nem todos ainda entendam desta forma, a busca de informações é investimento e não custo”.

Eduardo informa que mesmo com todos os recursos que os birôs têm em mãos ainda não é possível chegar a 100% de acerto sobre suposta inadimplência ou calote. “Devedores contumazes serão barrados, mas não é possível identificar nem prever questões pontuais. Exemplo é o de um trabalhador que perde o emprego e, sem perspectivas de curto prazo de arranjar outro, precisa optar entre o pagamento em dia da mensalidade da geladeira ou garantir o alimento da família”. Esse, entretanto, é aquele pagador que, tão logo puder, vai regularizar a situação. Mas outros, todavia, tendem a ignorar seus compromissos.

Todos precisam ser consultados

Alguns empresários não conseguem, mesmo que queiram, adotar a regra da consulta da forma como gostariam ou deveriam. A maioria considera constrangedor consultar amigos e até parentes que optam pela compra a prazo. Diante de tudo o que já viu em décadas de experiência com serviços de proteção ao crédito, o especialista Eduardo Berndt informa que todos, indistintamente, precisam ser checados. É há formas discretas para fazer isso.

Caso o empresário não queira simplesmente negar a solicitação, então que informe em local visível que a política de crédito da empresa tem regras que precisam ser obedecidas. Em caso de algum problema cadastral, então não será o empresário amigo do requerente que não permitiu que o negócio fosse fechado e sim o não cumprimento de regras específicas definidas pela empresa. “Tenho certeza que, em caso de fechamento da loja, nenhum dos que não pagaram estará lá, no fim, para consolar o patrão falido”, afirma Eduardo.

Os bancos de dados têm dezenas de informações sobre crédito pessoal, bem como serviços diferenciados. Cada empresa pode, segundo sua demanda e necessidade, escolher o tipo de consulta que melhor cabe no seu orçamento e expectativas. No caso da região Oeste, um dos caminhos mais fáceis é procurar o setor de SPC que geralmente funciona em uma associação comercial. 

Cadastro positivo

O Brasil está atrasado em relação a alguns países no que se refere à consulta sobre crédito. Aqui, ainda se dá grande importância à informação negativa, gerada quando o consumidor, por um motivo ou não outro, não pagou e é incluído no banco de registros. Diante disso, todos são colocados em um mesmo patamar e os riscos encarecem taxas de juros e criam dificuldades adicionais na concessão do crédito.

O caminho, no entanto, é a informação positiva, informa a analista de treinamentos do SPC Brasil, Priscila Pardin. Priscila esteve há poucos dias no Oeste para coordenar curso a operadoras de Serviços de Proteção ao Crédito e afirmou que a empresa em que trabalha já dá passos importantes na criação de um banco de dados que valoriza, em vez de penalizar, os bons pagadores.  Mas para contar com informações precisas é fundamental que todas as entidades parceiras passem a trabalhar nessa direção.

Os bancos de negativação estão há décadas no mercado e contam com suporte, tecnologias e conhecimentos adquiridos com o tempo. Por isso, a colaboração de todos é tão importante na construção de uma estrutura ampla e igualmente confiável para o cadastro positivo, conforme Priscila. Entre as vantagens aos bons pagadores estará acesso facilitado a linhas de crédito, taxas mais baixas e condições diferenciadas para quitar o débito.