Esportes

Brasil não faz exame antidoping desde novembro

Russia Doping Double LifeOs Jogos Olímpicos passaram e a promessa de se criar uma ?cultura antidoping” esfriou. Pelo menos essa é a sensação, já que desde 20 de novembro a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) está descredenciada pela Agência Mundial Antidoping (Wada). Isso quer dizer que, desde então, não é feito nenhum exame antidoping no país, com exceção do futebol (CBF é a responsável). Nesse período, ligas de basquete, vôlei e handebol e torneios de ginástica e natação, por exemplo, foram disputados. Doping – ABCD – 20.11

E o Brasil entrará em 2017 na mesma situação, uma vez que a maioria das confederações olímpicas deve esperar a ABCD recuperar o credenciamento para voltar aos exames. A entidade, atrelada ao Ministério do Esporte, é a única autoridade de teste e planejamento de controle no território nacional. Ela está impedida de realizar antidoping porque a Wada entende que seu procedimento não está em conformidade com o código mundial antidopagem.

A ABCD pode, no entanto, recuperar o credenciamento antes mesmo da reunião do conselho de fundadores da Wada, em 18 de maio.

Questionada pelo O GLOBO, em 14 de dezembro, sobre os controles do ano olímpico, a entidade disse não ter finalizado o balanço. Antecipou apenas um dado geral: foram 2091 controles, sendo 49 positivos (o futebol realiza cerca de 4500 exames por ano).

Ao menos o vôlei de quadra e praia, basquete, ginástica, handebol, natação, polo aquático, saltos ornamentais, maratona aquática, judô e vela não estão aplicando testes nem sabem o que acontecerá no início do ano que vem. Nenhuma confederação dos esportes citados manifestou interesse em contratar empresa de coleta particular e requisitar às respectivas federações internacionais que passem a exercer a função de ?autoridade de teste? que hoje, por força de lei federal, é da ABCD. O alto custo do exame, de responsabilidade das confederações nesse caso, seria um dos motivos (só o teste custa cerca de US$ 300, sem contar o kit, transporte, custos com o oficial de coleta, entre outros).

Já a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), cuja modalidade é a segunda mais testada no Brasil, só atrás do futebol, contactou a Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF) para tê-la como autoridade de teste.

? Não queremos ter vácuo no controle. Os exames serão feitos pela Comissão Nacional de Controle de Dopagem (Conad), da CBAt, que não foi extinta com a criação da ABCD, tendo a IAAF como autoridade de teste. O custo será da CBAt, que pode repassar algo aos organizadores de provas. Mas pagaremos tudo nos testes surpresa ? explicou Thomaz de Paiva, da Conad, ao citar o orçamento do Programa de Combate a Dopagem.

Desde o descredenciamento da ABCD, no entanto, a CBAt não realizou nenhum controle. Os testes que serão feitos com a IAAF vão ser encaminhados, a princípio, para o Laboratório de Montreal, no Canadá.

Segundo a Wada, a perda do credenciamento da ABCD se deve à demora para colocar em funcionamento o Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem. Seus membros foram empossados em 14 de dezembro, após o descredenciamento.

? Isso nunca é bom. Porque não é só não poder testar seus atletas. A ABCD também não pode emitir autorizações de uso terapêutico e o laboratório do Brasil não pode funcionar para antidoping ? explicou Eduardo De Rose, cujo mandato no Comitê Executivo da Wada se encerrou. ? A Wada sabe que o Brasil está fazendo tudo para resolver questões pendentes, mas com eles não tem quase 100%. Ou está tudo certo ou não está. Como o Brasil, Espanha e Afeganistão foram descredenciados.

CUSTO DE R$ 600 MIL/ANO

Hoje, De Rose faz parte do Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem, cujos membros foram escolhidos pela Comissão Nacional de atletas, confederações esportivas e Ministério do Esporte. São eles: Fernanda Bini, Luísa Parente, Marcel de Souza, Guilherme da Silva, Gustavo Delbin, Humberto de Moura, Tatiana Nunes e Luciano Hostins (advogado na área desportiva há 20 anos e escolhido para ser o presidente). O órgão autônomo será responsável por julgar todos os casos de doping do país (hoje são julgados nos tribunais das confederações).

Segundo o Ministério dos Esportes, a instalação do tribunal estava prevista para ocorrer até fevereiro de 2017 e foi antecipada, sem ?qualquer interferência da Wada nesse processo?. Os trabalhos, segundo o órgão, iniciaram-se com a análise do regimento interno e, de acordo com a lei que criou a Justiça Desportiva Antidopagem, as atividades serão custeadas pelo Ministério do Esporte (cerca de R$ 600 mil/ano).

O Ministério informou ainda que programará as ações de controle de 2017 com base nos calendários fornecidos pelas confederações e que irá custear a coleta e a análise nos eventos aprovados, assim como nos controles fora de competição.