Cotidiano

Brasil está ficando para trás em padrões de capital para bancos, diz S&P

FLORIANÓPOLIS – O Brasil está ficando atrás de outros países da América Latina em relação à qualidade dos padrões regulatórios de capital para bancos, disse nesta quarta-feira um executivo da agência de classificação de risco Standard & Poor’s.

? O Brasil já não está mais na frente na região em termos de padrões de capital ? disse o diretor gerente de instituições financeiras da S&P para a América Latina, Santiago Carniado, às margens do 37º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão.

De acordo com o executivo, países como México, Colômbia, Peru e Chile estão avançando mais rapidamente do que o Brasil em adotar exigências de capital com padrões de melhor qualidade.

? A qualidade do capital aqui é pior na comparação internacional ? disse Carniado. ? Hoje o México é o líder nesse quesito na região ? disse.

Um dos principais aspectos avaliados pela S&P para ter essa conclusão é que o Brasil ainda admite que os bancos do país usem um volume muito alto de créditos tributários para compor o índice de capital.

? Aqui isso representa em média metade do capital dos bancos ? afirmou o executivo. ? Você não vê isso em nenhum lugar do mundo, a não ser na Itália.

A situação poderia se agravar, caso a economia brasileira não volte a crescer logo, dado que os reflexos desse cenário tenderiam a fazer os bancos acumularem mais e mais créditos tributários resultantes das crescentes perdas com calotes. Os prejuízos com inadimplência dão aos bancos créditos tributários que podem ser usados para compor o capital regulatório.

De acordo com Carniado, os bancos do país têm tido uma rentabilidade média sobre o patrimônio ao redor de 13%, ante média histórica de 18%, refletindo em parte justamente as provisões elevadas para perdas com inadimplência.

Para a S&P, a situação é especialmente delicada nos bancos controlados pelo governo, os que têm níveis de capital mais baixos e que detêm mais de metade do crédito no país.

? O sistema financeiro do setor público, tem alocação de capital menos eficiente, tem algo como 30% do PIB do país. Isso equivale a todo o crédito do sistema como proporção do PIB no México ? comparou.

PPI

Para Carniago, o anúncio feito na véspera pelo governo federal do Projeto Crescer, que prevê a concessão de projetos de infraestrutura à iniciativa privada, e R$ 30 bilhões do setor público, incluindo a compra de debêntures por BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômia Federal, não deve ter grande impacto sobre os bancos.

? No passado recente, o BNDES chegou a receber R$ 100 bilhões de capital do governo num único ano ? disse o executivo da S&P. ? E agora, comprando debêntures, a alocação do capital tende a ser mais eficiente e os bancos não terão esses papéis no balanço ? concluiu.