Cotidiano

Brasil e Argentina aumentam pressão sobre Maduro

O ministro de Relações Exteriores do Brasil, José Serra, defendeu em Montevidéu, após encontro com o presidente do Uruguai e presidente temporário do Mercosul, Tabaré Vázquez, o adiamento da reunião de cúpula do bloco para meados de agosto. A medida é a primeira ofensiva na área diplomática do governo do presidente interino, Michel Temer, na tentativa de bloquear a entrega da presidência rotativa do bloco ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, cujos rasgos totalitários são conhecidos. Pela proposta, em julho ocorreria apenas uma reunião de chanceleres, segunda-feira, sem poder para efetivar a Venezuela na presidência pro tempore do Mercosul.

A estratégia é ganhar tempo, diante de uma complexa agenda à frente e da falta de consenso entre os sócios sul-americanos. O Paraguai é contra a entrega da presidência a Maduro, antes que o país cumpra a cláusula democrática do bloco. A Venezuela, além de estar mergulhada numa crise econômica sem precedentes, tem seu presidente acusado de violar direitos humanos e de impor uma gestão autoritária, impedindo que a oposição possa atuar segundo as regras democráticas. Líderes como Leopoldo López continuam presos, e Maduro, com a conivência de um Judiciário submisso, vem emperrando as iniciativas da oposição no Legislativo, inclusive a realização do referendo revogatório do seu mandato presidencial.

A presença da Venezuela no Mercosul sempre foi tema controverso. Defendida pelo Brasil de Lula e Dilma Rousseff e pela Argentina do casal Kirchner, favoráveis a uma integração da América Latina à moda chavista, a iniciativa foi rebatida pelo Paraguai, com o argumento da violação de direitos humanos pelo regime de Caracas. Com a vitória de Mauricio Macri na Argentina, em dezembro, e o afastamento de Dilma, em decorrência do processo de impeachment, cresceu a pressão sobre o governo de Maduro e a adesão do país ao bloco volta a ser discutida.

Serra, que levou a Montevidéu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, defendeu que Vázquez permaneça na presidência do Mercosul até agosto, contrariando a vontade do presidente uruguaio, que prefere o cumprimento do rito previsto. Já Macri, que também apoia o adiamento da cúpula, admitiu que não deseja que Maduro assuma a o comando do bloco, propondo que Vázquez continue no próximo semestre. A reunião em agosto daria mais tempo a todos para que se definissem esses impasses.

É positivo que os principais sócios do Mercosul, enfim, se articulem para pressionar o governo de Maduro a avançar rumo à democracia plena. Isso é prerrequisitos para adesão ao Mercosul. Sem cumprir esse compromisso básico, não há sequer razão para sustentar o atual regime venezuelano no Mercosul.