Cotidiano

'Brasil ainda deve respostas sobre a microcefalia por zika' diz médica do Unicef

IMG_9699.JPG SÃO PAULO- A médica Francisca Maria Andrade, especialista em programas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), afirma que o mundo voltou os olhos para o Brasil com a explosão de casos de bebês com microcefalia e que ainda “devemos ” muitas respostas para a sociedade. Em entrevista ao GLOBO, a pediatra defende que os estímulos às crianças ocorram não somente em clínicas, mas que também as famílias sejam treinadas para desenvolverem em suas casas.A instituição fez uma parceria com o facebook, cujos detalhes foram divulgados nesta terça-feira em São Paulo. zika

Com base em insights de conversas online, foi possível identificar as principais dúvidas das pessoas sobre o vírus. A partir desses dados, o Unicef direcionou sua campanha digital de conscientização e prevenção. Na atuação em campo também houve aprimoramento, como informações diretas e pontuais de conscientização e prevenção ao mosquito Aedes aegypti em calendários impressos entregues em residências de municípios do Nordeste, onde se concentram a maioria dos casos no Brasil. Dados da rede social mostram que, de 5 de maio a 31 de agosto , foram 17,3 milhões de interações sobre o vírus zika na rede social – reações, comentários e compartilhamentos.

O que mudou no trabalho de campo do Unicef a partir dos dados divulgados pelo Facebook?

A gente estava direcionando as campanhas para as gestantes. E vimos que não estava surtindo o efeito esperado na conscientização e prevenção; não estavam, por exemplo, usando repelente. Quando vimos que eram os homens quem postavam material sobre zika vírus, começamos primeiro a insistir na presença do companheiro nas consultas do pré natal, e depois no acompanhamento dos bebês nascido com microcefalia.

Você afirmou que o mundo está olhando para o Brasil e cobra respostas. Que tipo de respostas estamos devendo ?

A Colômbia, por exemplo, esperava muitos casos de síndrome congênita por Zika. De 700 previstos, apenas, foram 60 confirmados. Aqui no Brasil ainda estudamos fatores coadjuvantes que tentam explicar este grande número de casos no Nordeste . A região Norte também tem problemas de saneamento e não registrou tantos casos.
Outro ponto importante também é como convencer mães de bebês com microcefalia a usar preservativo. Já existem mulheres em nova gestação. Esses são alguns pontos.

O nascimento de um grande número de bebês com microcefalia expôs uma deficiência de rede de atendimento como fonoaudiologia , terapia ocupacional e que existe uma “dívida ” dos gestores para estes pacientes . De que forma o Unicef tem ajudado a melhorar esta assistência ?

As secretarias estaduais foram ver qual a rede que tinha para atender esses bebês e descobriram que a lacuna era muito grande. Hoje, tem o projeto rede de inclusão que começamos em Recife e em Campina Grande, em parceria com o Ministério da Saúde e Organização Pan Americana de Saúde, onde desenvolvemos uma metodologia de atendimento aos bebês, nas comunidades, dentro de casa.
Grande parte do esforço é que as famílias aprendam também a estimular esses bebês em casa. Apoiamos também uma experiência em Fortaleza que produz mobiliários como pranchas que mantêm crianças de pé, cadeiras especiais para banho e alimentação, com custo baixo por serem feitos com materiais como canos de PVC e de forma artesanal. São extremamente funcionais.