Cotidiano

'Boi neon' não vai se candidatar ao Oscar em solidariedade a 'Aquarius'

RIO ? Consagrado como grande vencedor da mostra Première Brasil do Festival do Rio de 2015, “Boi neon”, do pernambucano Gabriel Mascaro não vai submeter sua candidatura ao Oscar de 2017. Apesar da coleção de prêmios (o longa também conquistou o prêmio especial do júri na mostra “Horizonte”, do Festival de Veneza, e uma menção honrosa em Toronto, no ano passado) a produção do filme questionou o processo seletivo da comissão brasileira que avalia os candidatos ao maior prêmio da indústria cinematográfica, afirmando que sua imparcialidade seria “questionável”.

Como adiantou o jornal “Folha de São Paulo”, Mascaro repudou a escolha do crítico Marcos Petrucelli, que assina a coluna “Sessão de cinema” na rádio CBN, para a comissão. O jornalista se envolveu em uma briga pública com o cineasta Kléber Mendonça Filho, depois que a equipe de “Aquarius” protestou publicamente contra o afastamento da presidente Dilma Rousseff durante o Festival de Cannes.

Nesta quarta-feira, o perfil oficial de “Boi neon” no Facebook tornou pública a decisão de não participar pela corrida pelo Oscar. Afirmando que Petrucelli se comportou de forma “irresponsável e pouco profissionai” em relação à equipe de “Aquarius”, o post explica que a atitude foi tomada em face da “gravidade da situação” e para que não se criem “precedentes desta ordem”. Veja abaixo o texto completo:

‘Boi neon’ não vai submeter filme a comissão do Oscar

ENTENDA O CASO

Petrucelli, que critica abertamente o governo Dilma em suas redes sociais, desaprovou os cartazes empunhados pela equipe de “Aquarius” em Cannes. Ele ainda voltou a manifestar sua reprovação pessoal ao diretor Kléber Mendonça Filho em diversos posts, tanto no calor dos acontecimentos na França, como mais tarde, mantendo a animosidade viva (“Quem não tem Cannes, caça com Gramado”, em 20 de julho, e “Eu acho que Kleber Mendonça Filho pensa que é o melhor diretor de cinema do país. Acho que, para ele, tudo o que existe hoje no mercado não presta, é uma porcaria. Mas seu filme, não… é uma obra-prima e ninguém chega aos pés”, no dia 7 do mesmo mês).

Em 27 de julho, o crítico tornou público o convite para integrar a Comissão Especial de Seleção ao prêmio de melhor filme de língua estrangeira, suscitando a desconfiança de que o longa estrelado por Sônia Braga pudesse ser desfavorecido na disputa pela vaga brasileira. Em artigo publicado na “Folha de São Paulo” em 11 de agosto, o jornalista se defendeu afirmando que a comissão tem outros oito membros e que não poderia julgar os méritos do filme por não tê-lo visto ainda. Ele ainda diz que a contrariedade com relação ao cineasta se resume ao posicionamento político de cada um.

Em resposta, Mendonça Filho publicou uma carta aberta, reproduzida no Facebook, na qual qualifica o posicionamento do desafeto de “estridente” e se defende de acusações supostamente feitas por Petrucelli de que “as férias” de 30 integrantes da equipe de “Aquarius” teriam sido pagas com dinheiro público, custando ? 500 por dia. Veja o texto completo abaixo: Kléber sobre Petrucelli

De fato, a reportagem encontrou um post em o jornalista realmente insinua que os brasileiros estariam de férias na França, porém o valor mencionado (? 500) não foi encontrado:

“Vergonha é o mínimo que se pode dizer sobre a equipe e o elenco de Aquarius, filme que está em Cannes esse ano. Ao passar pelo tapete vermelho, os brasileiros protestaram contra o impeachment com cartazes que diziam ‘O Brasil não é mais uma democracia’.
Ah não? Qual regime é esse, então, que permitiu ao diretor do filme levar 30 pessoas da equipe para tirar férias na Riviera Francesa? Nem blockbuster de Hollywood comparece a Cannes com tantas pessoas.”

Petrucelli contra manifestação de ‘Aquarius’