Cotidiano

Biogás faz de problema uma solução econômica

Cascavel – A pesquisa e tecnologia são aliadas para conduzir à solução de alguns dos mais sérios problemas contemporâneos. Em alguns casos, as saídas são tão engenhosas que, além de proteger o meio ambiente, potencializam o crescimento econômico. É com base em projetos de sucesso em outros países, que o Oeste do Paraná, e por consequência o Brasil, avança na disseminação prática de conhecimentos e parcerias para o aproveitamento do biogás, energia limpa, renovável e de alta eficiência. Técnicos, pesquisadores, agricultores e empresários debateram o assunto ontem, na Acic, em Cascavel.

O potencial de avanços na área é gigantesco e não pode ser desprezado, diz o agropecuarista Ibrahim Faiad, um dos entusiastas da nova matriz energética. “Estamos costurando parcerias que permitirão saltos importantes e, em breve, vamos transformar problemas em soluções. Melhor que isso, em desenvolvimento econômico”, conforme Ibrahim, que esteve recentemente nos Estados Unidos e ficou impressionado com o estágio das tecnologias da extração de gás da biomassa.

O Oeste, por meio da Itaipu e do PTI (Parque Tecnológico Itaipu), dá passos vigorosos na disseminação e popularização de biodigestores, responsáveis pelo processo de extração de gás de dejetos animais que, então, são transformados em energia. Alguns projetos em andamento, chamados de condomínios, em Marechal Cândido Rondon e Entre Rios do Oeste, surpreendem. Para aprofundar conhecimentos e dar os próximos passos do projeto, Itaipu e PTI, com auxílio do Cibiogás, um centro de pesquisas que funciona no Parque Tecnológico, trouxeram à região um dos maiores especialistas no assunto no mundo.

O norte-americano Eric Dvorak, vice-presidente da DVO, maior empresa do planeta em tecnologias de biogás, deu detalhes sobre testes, experimentos, descobertas e aperfeiçoamentos da tecnologia de extração. “O potencial do biogás é incrível. E posso afirmar isso porque venho de um país onde, para ter êxito, energias precisam ser extremamente competitivas. Lá, a energia extraída de barragens tem baixo custo”. Há vários modelos de biodigestores, que processam inclusive restos de alimentos e sobras de frigoríficos, abatedouros e indústrias.

Eficiência

O aproveitamento de dejetos traz inúmeras vantagens. Combate o lançamento de materiais poluentes de forma inadequada, reduzindo riscos a bacias hidrográficas e a disseminação de mau cheiro. Um dos desafios é tornar o processo altamente eficiente. Pesquisas, segundo Eric, conduziram à criação de biodigestores em formato da letra U, semelhante a um intestino humano. O bioprocessador tem várias câmaras, que realizam etapas distintas do processo de extração do biogás e purificação dos efluentes.

Cem milhões de metros cúbicos

Muitos dos avanços das tecnologias do biodigestor são inspirados no estômago e intestino, órgãos que no corpo humano extraem dos alimentos substâncias fundamentais ao bom funcionamento do organismo. O Brasil tem potencial para transformar cem milhões de metros cúbicos de biometano por dia, e parte considerável disso está no Oeste do Paraná. Devido à forte característica pecuária da região, projetos de aproveitamento de biogás despertam atenção. A região tem mais de dois milhões de cabeças de suínos, mais de um milhão de bovinos e bilhões de cabeças de frango. “É um potencial enorme e que pode contribuir para alavancar o desenvolvimento do território. Hoje, a biomassa é praticamente subutilizada e poderá promover saltos na economia do Oeste”, diz o presidente da Acic de Cascavel, Alci Rotta Júnior.