Cotidiano

Bertolucci admite que Maria Schneider não sabia da cena de manteiga em 'Último tango em Paris'

last-tango.jpgRIO ? Uma das cenas mais polêmicas da história do cinema ? entre Marlon Branco e Maria Schneider em “O último tango em Paris” ? voltou aos holofotes graças a uma entrevista recém revelada de Bernardo Bertolucci, diretor do filme. Na conversa, de 2013, o cineasta italiano admite que Schneider não sabia ? e portanto nunca consentiu ? sobre o uso da manteiga na cena.Me sinto culpado, mas não me arrependo. Não queria que Maria atuasse a ahumilhação, o ódio, eu queria que ela sentisse a humilhação e o ódio. Então ela me odiou pelo resto da vida

“Após o filme nós não nos vimos mais, poque ela me odiava”, disse o diretor, na entrevista gravada dois anos depois da morte da atriz. “A sequência da manteiga foi uma ideia que tive com Marlon na manhã antes da filmagem. Mas eu me portei de uma forma horrível com Maria, pois não contei a ela o que aconteceria.”

Na época das gravações, Schneider tinha 19 anos e Brando, 48. Bertolucci, hoje com 76 anos, defende sua atitude alegando que desejava tirar de Schneider uma reação mais realista na cena.

“Eu queria a reação dela como uma garota, não como uma atriz. Eu queria que ela reagiasse, como ela fez, sendo humilhada. E acho que ela me odiou, e a Marlon também, pois não contamos a ela o detalhe da manteiga usada como lubrificante.”

Questionado pelo entrevistador, Bertolucci diz que não se arrepende da ter filmado a cena dessa forma.

“Me sinto culpado, mas não me arrependo. Para fazer filmes às vezes, para obter algo, temos que ser completamente livres. Não queria que Maria atuasse a ahumilhação, o ódio, eu queria que ela sentisse a humilhação e o ódio. Então ela me odiou pelo resto da vida.” Bertolucci admite que cena da manteiga em ‘Último tango em Paris’ não foi consensual

Schneider morreu de câncer, em 2011, aos 58 anos. A atriz francesa tinha apenas alguns papeis pequenos na carreira quando foi escolhida por Bertolucci para viver a jovem francesa que entrava numa relação obsessiva com um americano 30 anos mais velho, vivido por Marlon Brando.

Na sequência mais famosa do filme, Brando usa manteiga como lubrificante numa cena de sexo anal com a personagem de Maria. Em 2007, numa entrevista ao jornal britânico “The Daily Mail”, a atriz disse que a cena da manteiga não estava no roteiro e que teria sido uma ideia de Brando, durante a filmagem. Ela também afirmou ter se arrependido de fazer o filme.

“Eles me enganaram. Eu me senti humilhada e, para ser honesta, um pouco estuprada, tanto por Marlon, quanto por Bertolucci. Essa cena não estava prevista. As lágrimas que se veem no filme são verdadeiras”, disse.

A atriz continuou atuando até 2008, mas ficou marcada para sempre pela cena. Após “O último tango em Paris”, teve mais um filme aclamado pela crítica em seu currículo, “O passageiro: profissão repórter” (1975), de Michelangelo Antonioni, ao lado de Jack Nicholson. Depois, conseguiu apenas papéis secundários.

Logo começou a entrar e sair de hospitais, devido a depressão e dependência de heroína. Abandonou o cinema por um tempo, para tentar carreira na música, sua antiga paixão ? entre outros trabalhos, chegou a lançar um disco dedicado ao cantor italiano Lucio Battisti. Seu filme mais recente foi “Cliente”, de 2008.

“O último tango em Paris”, de 1972, ficou proibido pela censura da ditadura militar no Brasil por mais de uma década.