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Bernardinho, campeão de novo no vôlei, diz não saber sobre seu futuro

Bernardo Rezende está fechado para balanço. Após conquistar a sétima medalha olímpica ? duas de ouro, três de prata (uma como jogador) e duas de bronze (com as meninas) ?, o técnico da seleção masculina de vôlei precisa de um tempo para pensar no futuro. Fará isso andando de bicicleta pela cidade, perto da família, e tocando outros projetos. Ele não diz nem que sim nem que não sobre a permanência no comando do time. A fotografia perfeita registrada na memória neste domingo, num Maracanãzinho lotado, ovacionando sua equipe, e com a presença das filhas Júlia, de 14 anos, e Vitória, de 6, poderia ser a deixa para a aposentadoria de quem está há 26 anos na beira da quadra. Porém, a paixão pelo desafio o faz recuar de um possível fim.

Vôlei: brasil campeão olímpico

? As pessoas se motivam por dois aspectos: necessidade e paixão. Na minha vida, não me faltou nada, não lutei por necessidade, tive todas as oportunidades. O que me moveu foram os desafios. Continuar vencendo depois de uma vitória como essa? Esse é o grande desafio, e é isso que me instiga. Mas preciso pensar nisso. Há novas fotografias lindas pela frente, há sempre uma nova montanha a conquistar ? disse Bernardinho, que, além da cobrança dentro das quadras, sofre com as de fora, como a da família, principalmente da mulher, Fernanda Venturini, e até dos sócios de seu restaurante. ? Perdi muitos momentos das minhas filhas, não vi uma nascer, e perdi coisas importantes da outra.

Até o filho mais velho, que tem contato próximo com o pai, acha que esse é o momento de ele dar adeus à seleção.

? Ele que tem de decidir por ele. Mas acho que está na hora de descansar um pouco. Essa loucura de fazer o clube e a seleção, acho que não dá. Falo como filho. Ele está numa idade que tem de aproveitar a vida. Já deu demais para a gente ? opinou o levantador Bruninho.

Independentemente da decisão, após merecido descanso, Bernardinho considera que o momento é de retribuir tudo o que conquistou na longa carreira:

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? Sou um devedor da vida. Experiências como essa, poucas pessoas tiveram. Eu lutei por ela, tenho que agradecer muito e devolver de alguma maneira.

Daqui a três dias, Bernardinho fará 57 anos. Nos últimos quatro, ele teve de reavaliar alguns comportamentos. Após a dura derrota na final para a Rússia, em Londres-2012, o técnico suportou críticas ao trabalho, passou por um câncer e se desentendeu com membros da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), por questões políticas e de corrupção na entidade.

As sete medalhas de Bernardinho nos Jogos Olímpicos

?Não permito coisas acontecerem daquela forma e sem fazer nada. Óbvio que teve retaliação. Fiquei 10 jogos suspenso (por Ary Graça, ex-presidente da CBV e atual comandante da FIVB) por não comparecer a uma entrevista coletiva, algo que não aconteceria com ninguém. Ainda tive um problema de saúde sério. Muitas coisas aconteceram… ? relembra, sem dar muitos detalhes.

COMPORTAMENTO MAIS CONTIDO

A única mudança, no entanto, foi no tratamento aos jogadores. O treinador sempre foi reconhecido pelo jeito explosivo à beira da quadra. Porém, desde o jogo contra a França, quando o time poderia ser eliminado ainda na fase de grupos, Bernardinho amaciou.

Brasil é ouro no vôlei masculino

? Errei muito por ser intenso e tentei mudar minha relação com os jogadores. Ser um Bernardo diferente na beira da quadra, colocar menos pressão neles, pois eles já sofrem muita. Infelizmente, algumas coisas não consigo mudar ? brincou o treinador.

Qualquer que seja o desfecho da sua carreira, ele garante que há outras pessoas capazes de tocar o futuro do vôlei brasileiro.

? Sou plenamente substituível. Há pessoas prontas, talvez sem a experiência que tenho. Não estou querendo antecipar nem criar nada, quero pensar um pouco na vida. São decisões de vida, não vou largar o vôlei, não consigo. Mas certamente temos pessoas prontas para dar sequência ? acredita ele.

Além das sete medalhas olímpicas, uma como jogador (em Los Angeles-1984, quando era levantador, reserva de William) e seis como treinador ? bronze em Atlanta-96 e Sydney- 2000, com a seleção feminina, prata em Pequim-2008 e Londres-2012, e ouro em Atenas- 2004 e Rio-2016 ?, Bernardinho tem três Mundiais (2002, 2006 e 2010) e oito Ligas Mundiais (todas as edições entre 2001 a 2010, com exceção de 2002, prata, e 2008, fora do pódio). No comando da seleção desde 2001, o Brasil nunca ficou fora do pódio em mundiais e Olimpíadas.