Cotidiano

BC diz que ?informações do corpo técnico da autarquia não são oficiais?

BRASÍLIA – Depois de instituir a lei do silêncio entre os técnicos do Banco Central, o presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn, partiu para uma ofensiva ainda maior para tentar coordenar a comunicação do BC. Soltou uma nota à imprensa para dizer ao mercado e à sociedade que informações atribuídas às fontes do corpo técnico da autarquia não devem ser levadas em consideração como oficiais.

?Informações ou opiniões atribuídas a membros do Copom ou a ?técnicos? do BC não compõem a comunicação oficial do BC e não devem ser encaradas como manifestações desta Autarquia?, frisou o Banco Central no comunicado publicado na tarde desta terça-feira.

Num longo texto, o BC expôs que comunicação com a sociedade é feita pelas mensagens, primordialmente, nas atas das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e nos Relatórios Trimestrais de Inflação. E que, de forma complementar, em discursos e entrevistas. E essas manifestações são ?alinhadas às mensagens veiculadas nos documentos oficiais?.

Na edição desta terça-feira, O GLOBO mostrou bastidores de uma reunião com diretores Carlos Viana (Política Econômica) e Tiago Couto Berriel (Assuntos Internacionais) e economistas do mercado financeiro. Segundo participantes ouvidos pelo jornal, Berriel aproveitou a oportunidade para afastar uma dúvida dos analistas: se a atual diretoria usa estrategicamente algumas palavras para indicar qual será o próximo passo para a política de controle de inflação. Ele teria dito que o BC não tem um ?dicionário oculto? e que usa apenas português.

A nota oficial confirma a informação de que a gestão atual não elegeu palavras-chave para orientar o mercado (prática comum da diretoria anterior).

?A comunicação privilegia a mensagem como um todo e não a utilização de palavras-chave para transmitir suas avaliações ou sinalizar futuras ações. Os documentos oficiais devem ser analisados em seu conjunto?.

Como revelado pelo GLOBO, os diretores do BC estavam preocupados com a leitura de que a autoridade monetária mira apenas em três fatores para combater a inflação. Na ata do Copom, os diretores colocam os três maiores riscos. Na reunião, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, Berriel teria dito que a leitura teria de ser mais abrangente. A informação também foi confirmada na nota desta terça-feira.

?O BC avalia que condicionar a evolução futura da política monetária a fatores relevantes para a inflação transmite de maneira adequada a racionalidade econômica que guia as suas decisões. Essa forma de comunicar se baseia em dados, não em datas?, disse o Banco Central na nota. ?Em outras palavras, as mensagens reagem à evolução dos dados apresentados, o que ajuda a entender as ações presentes e a projetar ações futuras da autoridade monetária?.

LEI DO SILÊNCIO PARA OS TÉCNICOS

Nos bastidores da equipe econômica, o presidente Ilan tem mostrado irritação e preocupação com algumas publicações na imprensa que citam ?técnicos do BC?. Ele até soltou uma orientação interna para que ninguém passe informações para a imprensa em ?off?, ou seja, respaldado pelo anonimato da fonte e disse que apenas diretores devem falar.

Ele não quer que ruídos sejam criados na orientação do mercado financeiro. A ancoragem das expectativas é uma meta cara ao presidente da autoridade monetária, que quer fazer uma gestão oposta do governo anterior, quando os analistas menosprezavam não apenas as comunicações, mas principalmente as projeções do BC.

A avaliação é que a expectativa de inflação é uma parte considerável (e crescente) da inflação vigente. Ou seja, apenas por esperar mais inflação, os empresários já remarcam preços. A orientação de Ilan para os técnicos do Banco Central é trabalhar para diminuir esse sentimento e domar as estimativas dos agentes econômicos.