Esportes

Bastidores do sistema de cronometragem usado nos jogos

A193_C052_121009BERNA, Suíça – A visita a uma das unidades da Omega ? companhia suíça que é a cronometrista oficial dos Jogos Olímpicos ? supõe entrar num templo dedicado ao que há de mais moderno em tecnologia para aferir a performance dos atletas e determinar a premiação. Mas o que chama a atenção assim que se adentra o imenso galpão em Corgémont, no cantão de Berna, é um painel com dezenas de sinos. Sim, o velho e bom instrumento de bronze, que, atravessando séculos, mantém sua forma original e produz aquele indefectível som agudo, capaz de ser ouvido a quilômetros de distância quando pendurado no alto de uma igreja. No caso de alguns esportes disputados na Olimpíada, o sino também tem algo de sacro. No atletismo, no ciclismo de pista e de estrada e em provas de mountain bike, é ele que marca a última volta ? e faz disparar o coração, acionando, nos atletas e em quem está assistindo, aquele friozinho que percorre a espinha. Na parede na Omega, cada um deles tem gravado em relevo o torneio em que foi usado, como os Jogos Pan-Americanos de 2007 no Rio. Mais uma vez, o nome da cidade ganha destaque, desta vez com o logo ?Rio 2016?. Vinte e um deles estarão aqui, marcando as tais últimas voltas.

Momento ?Rádio Relógio?: você sabia que o sino produzido pela empresa é quase todo feito manualmente numa fundição suíça e usa areia com 50 anos de idade, retirada de Paris? Depois de peneirada, ela é colocada no devido molde e então aquecida a 1.200 graus, ajudando a dar ao sino a forma sinuosa e o ar reluzente que lhe são característicos.

Ultrapassar a tal parede de sinos significa deixar a Era do Bronze e entrar no século XXI. Com experiência em cronometrar provas esportivas desde os Jogos Olímpicos de 1932 (foi encarregada disso em 26 momentos), a Omega investe em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para cumprir a missão. É na unidade em Corgémont onde nascem e amadurecem todos os equipamentos usados na Olimpíada. A cada edição do torneio, que este ano congrega 206 países, a empresa tão associada a relógios de pulso tenta provar que é capaz de apontar recordes e vencedores com uma precisão cada vez maior, sem abrir brechas para resultados divergentes e conflitos entre atletas e sua respectivas nações.

59830932_RG - Olimpíada - Omega.jpgA companhia desembarca aqui, depois de dois anos desenvolvendo e aperfeiçoando instrumentos de cronometragem para a empreitada em solo carioca, com uma bagagem de peso: 450 toneladas de equipamentos. O arsenal inclui 335 placares, específicos para cada esporte, e 200 quilômetros de cabos e fibra ótica, e será operado por 480 profissionais, sem contar 850 voluntários treinados para colaborar. Para se ter uma ideia de como o tempo corre, no longínquo ano de 1932, tudo se resumia a um cronometrista e 30 dos chamados cronógrafos de alta precisão. Aos poucos, os cronômetros manuais saíram de cena para a entrada de novas ferramentas, dando à luz o olho eletrônico, em que a máquina foi superando a galopes o olho humano.

Câmeras que acompanham as disputas em pistas de corrida, sensores de largada dos velocistas, dispositivos submersos em piscinas que marcam a chegada dos nadadores, sistemas de detecção de falsa largada, placares dos mais diversos, como os usados em golfe, e um mecanismo que registra pontuação em provas de tiro com arco são alguns dos instrumentos que definem a posição de cada atleta no pódio, ou fora dele. Até aquela pistola que dá início a uma corrida ficou mais high-tech. Eletrônica, ela agora emite flashes e som, mas de forma que todos os corredores recebam o sinal ao mesmo tempo, sem prejudicar ninguém.

59830571_RG - Câmera de sistema de cronometragem da Omega - Olimpiada.jpgComo um pai exibindo o filho que já sabe ler e escrever, Alain Zobrist, CEO da Omega Timing, apresenta algumas das tecnologias que estarão aqui. Os interlocutores precisam se esforçar para acompanhar o ritmo à la Usain Bolt com que enumera as características e aplicações de cada uma. A menina dos olhos é uma câmera que combina detector de tempo e cronógrafo capaz de registrar dez mil imagens digitais por segundo. Num mundo em que qualquer fração de segundo é determinante, outro destaque é o uso de fotocélulas que mostram quem cruza primeiro a linha de chegada em provas como as de corrida de obstáculos. Se para os atletas um erro ou queda no rendimento significa dar adeus a uma medalha, aos sistemas de aferição de resultado também não é permitido erro ou dúvida.

? Participamos de mais de 500 eventos por ano. Então, a tecnologia está mais do que testada em vários casos ? diz Alain.

*O jornalista viajou a convite da Presença Suíça, do Departamento Federal de Assuntos Exteriores (DFAE)