Cotidiano

Baseada em livro, peça recria a infância de Antonio Prata

NU DE BOTAS © Renato Mangolin 002.jpgRIO ? Xixi dentro ou fora do penico da Turma da Mônica? E o zíper? E o botão? Pra que complicar tanto a vida? E a cueca… Pra que essa inútil camada de pano entre a pele e a deliciosa textura do moletom? Perguntas e mais perguntas… Foi esse olhar virgem e curioso que a diretora Cris Moura encontrou no livro ?Nu, de botas? (2013), em que o escritor Antonio Prata revisita diversos episódios da sua infância. Ao recriar seu passado, Antonio constrói, conto a conto, uma espécie de romance de pré-formação, que a diretora transformou num espetáculo homônimo, com estreia amanhã à noite para convidados e sexta para o público no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

? Topei com esse livro na estante de um amigo, comecei a folhear e, de repente, já estava rindo muito, e não tenho o riso frouxo ? diz Cris. ? Mas as percepções e os comentários dele sobre a infância são muito singulares e, ao mesmo tempo, falam muito de todos nós. As histórias nos trazem de volta a esse olhar da criança, que está sempre descobrindo o mundo, vendo as coisas pela primeira vez, com uma lente de aumento, e isso nos faz perceber o quanto estamos distantes desse tipo de olhar que descobre, que se deslumbra e contempla coisas bem simples, pequenas até. Não só porque somos adultos, mas porque o mundo nos bombardeia tanto de informações e imagens que quase não sobra mais espaço e tempo para descobrirmos, por nós mesmos, certas coisas. A peça é um convite a outra experiência de olhar, de descobrir as coisas. E vejo muito humor e poesia nisso.

Ex-dançarina da Cia. Les Ballets C de La B, e criadora de obras que mesclam dança e teatro, Cris exercita em ?Nu, de botas? uma relação mais direta com a palavra; é a primeira vez que ela toma um livro como base dramatúrgica e não os improvisos e ações dos performers.

? Nesse sentido, também para mim o trabalho é uma descoberta ? diz.

Já do imaginário infantil, Cris se aproximou em 2011, quando dirigiu ?O menino que vendia palavras?. A diferença agora é que ?Nu…? se trata de um espetáculo adulto. Em cena, Inez Viana, Isabel Gueron, Thiare Maia, Pedro Brício e Renato Linhares narram as histórias de Antonio Prata como se ditas por adultos, evitando a imitação ou a entonação de vozes infantis. Cris buscou o contrário, e o humor gerado pelo contraste de vozes adultas proferindo percepções infantis sobre o cometa Halley, os desenhos animados da TV, a primeira paixão, as lembranças no quintal de casa, os amigos da vila, viagens de carro, o divórcio dos pais, dilemas morais, entre outras histórias contidas nos 17 contos escolhidos para a montagem.

? Nos descolamos da representação e nos dedicamos a apresentar esses textos no presente, sem nostalgia ou viagem ao passado ? explica a diretora. ? Os atores dizem os textos como adultos que são, mesmo que estejam falando da Turma da Mônica ou de um desenho animado.

Serviço ? ?Nu, de botas?

Onde: CCBB ? Rua 1º de março, 66 (3808-2052).

Quando: Quarta a domingo, às 19h30m.

Quanto: R$ 20.

Classificação: 14 anos.