Policial

Bandidos armados até os dentes;policiais têm armas de “brinquedo”

Agentes dizem que pistola 24/7 da Taurus falham com frequência ou disparam sozinhas

Cascavel – O Brasil vive uma guerra desigual com o crime organizado. Desigual porque de um lado estão os criminosos cada vez mais armados, organizados e preparados para uma verdadeira guerra naquilo que as forças de segurança já reconhecem como organizações terroristas; do outro, policiais munidos com armas com sistema de segurança duvidoso e que já não sentem confiança na hora de puxar o gatilho quando precisam. É como se estivessem com armas de brinquedo. Isso porque são armas que têm deixado os policiais na mão justamente no momento em que eles mais necessitam delas.

O desabafo vem de agentes de segurança pública que não se sentem seguros em usar a pistola que lhes é disponibilizada para o serviço. A Taurus 24/7, de fabricação nacional, estaria, segundo um dos policiais ouvidos pela reportagem, matando os agentes em serviço na região oeste do Paraná e em todo o País. “Existem inúmeros registros de policiais que se ferem e até que morreram por um suposto erro deles, quando, na verdade, a pistola falhou, simplesmente não disparou quando precisava disparar ou disparou sozinha. Ela não é confiável”, alertam.

De fabricação nacional, a pistola está entre as recomendadas pelo Exército Brasileiro para ser usada pelas forças de segurança e é ela que está prioritariamente nos coldres de todos os agentes. “É um política totalmente equivocada de protecionismo do Exército tentando fomentar uma indústria nacional para que ela ganhe projeção internacional e se torne competitiva lá fora. Ocorre que as pistolas não são confiáveis, matam policiais em serviço e ninguém as quer para trabalhar”, afirma outro agente de segurança.

Entre 100 testadas, 150 apresentaram problemas

A Polícia Federal, por exemplo, só conseguiu liberação para usar as pistolas da marca Glock no lugar da Taurus porque durante uma academia preparatória de agentes foram utilizadas 100 unidades da marca Taurus e incríveis 150 apresentaram problemas. Isso mesmo! Você deve estar se perguntando que matemática é essa e como isso foi possível. É que, segundo os próprios agentes que as utilizaram, das 100 enviadas para reparação na fábrica, 50 que voltaram apresentaram mais defeitos, além dos já reparados.

A partir desse laudo pericial, a PF foi autorizada a utilizar as da marca Glock. “Mas todas as vezes que se tentava usar a Glock o Exército dizia que tinha uma arma similar nacional numa política errônea de proibição de importação de armas. Isso era para tentar criar artificialmente um mercado para a indústria nacional se fortalecer e chegar ao mercado internacional. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma Glock custa US$ 450, cerca de R$ 1,8 mil. Aqui ela custa cerca de R$ 5 mil. Enquanto a Taurus custa US$ 200 nos EUA, algo em torno de R$ 700, no Brasil pouco mais de R$ 3 mil, mas quantas pessoas morreram por falhas da Taurus? Aqui, no Brasil, nós temos a cultura da irresponsabilidade. Essa política do Exercito já levou à perda de quantas vidas?”, questiona o agente da PF.

Mas se a arma é ruim, a munição então nem se fala. “Além da arma ruim, a gente sabe que a munição nacional não passa por um controle rigoroso de qualidade, custa dez vezes mais que a importada, mas o Exército insiste em dizer que não se sabe a procedência da trazida lá de fora. Mas nós que a utilizamos sabemos. Se você segurar uma arma sempre na mesma posição em direção a um alvo de treinamento, com a munição importada você terá um agrupamento bem próximo. Com a munição nacional, geralmente não é isso o que se vê. Por isso, é melhor que a munição seja preparada artesanalmente por alguém que saiba minimamente recarregar, do que usar a pronta, a nacional”, segue um policial federal.

Recarregar a munição

Recarregar a munição é justamente o que fez o policial militar da reserva Sebastião Madril. Ele reconhece que nunca chegou a testar a ineficiência dos projéteis nacionais, mas reconhece que recarregar é muito mais barato. “A gente sempre recarregou para os treinamentos, não tem como treinar tiro com munição original, é cara”, reforça.

Em média, o recarregamento custa, para quem tem a máquina para este serviço, cerca de 20% do valor do projétil original.

Para o policial da reserva, sabe-se que existem armas que apresentaram problemas, no caso da pistola 24/7 da Taurus, mas reforça que existem situações em que alguns agentes “também podem fazer besteira e colocar a culpa na arma”, indicando que cada caso precisa ser avaliado separadamente.

O que diz a Taurus

A Taurus afirmou em nota que “reitera, mais uma vez, que todas as perícias realizadas até hoje dentro das normas aplicáveis comprovam que não há defeito ou falha no projeto ou nos mecanismos de segurança e funcionamento de seus produtos”.

“O Exército Brasileiro fez avaliação completa do processo produtivo da Taurus e de suas armas e também não encontrou falhas de projeto ou fabricação que sejam responsáveis por acidentes com armas de fogo”, seguiu a nota.

Ainda de acordo com a empresa, “as ações judiciais movidas contra a companhia e baseadas nessas acusações estão sendo julgadas em favor da Taurus. A nova gestão da Taurus, para desfazer suspeitas infundadas, mantém um programa gratuito de revisão e manutenção preventivas de seus produtos, oferecido a todas as forças policiais do País, inclusive no Estado do Paraná. O objetivo é ajudar as forças policiais a manter seu armamento em estado adequado de uso e conservação”.