Cotidiano

Bancos e gestoras buscam atrair investidores de alta renda

SÃO PAULO – Eles formam um grupo de cerca de 5 milhões de brasileiros, possuem uma renda mensal de R$ 10 mil e têm investidos pelo menos R$ 600 bilhões em fundos, poupança, ações e títulos de renda fixa . Classificados como ?clientes de varejo de alta renda?, eles se tornaram o principal alvo de bancos, inclusive de instituições que nem atuavam com esse segmento. Oferecendo a estes clientes assessoria financeira especializada e produtos antes disponíveis apenas para milionários, as instituições financeiras aumentam os ganhos com a receita de serviços.

O varejo de alta renda vem se tornando uma fonte de renda importante para os bancos porque é este público que mais está investindo, mesmo na crise. Enquanto no varejo tradicional os valores investidos crescem 5,6% ao ano e no segmento private (milionários e altíssima renda), a 9,1%, no varejo de alta renda o aumento da carteira de investimentos está na casa dos dois dígitos: 13,5%, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

De olho nesse ritmo, o BTG Pactual, um banco de investimento que só tinha foco nas grandes fortunas, agora começou a se interessar por este público. A instituição lançou o BTG Digital, que quer conquistar quem tem ao menos R$ 50 mil para investir. Sem uma rede de agências para chegar a esses clientes como os bancos de varejo ? que têm segmentos específicos, como Itaú Personnalité, Bradesco Prime, Santander Select e BB Estilo ?, o BTG decidiu fazer todo o atendimento através de uma plataforma digital.

APOSTA EM CANAIS DIGITAIS

Os únicos documentos necessários para iniciar as aplicações no banco são a carteira de motorista e o comprovante de residência. A imagem pode ser enviada pelo próprio aplicativo da instituição. Apostando nessa comodidade, o banco pretende ter, em cinco anos, 10% desse mercado, ou R$ 60 bilhões sob administração.

O diretor da área, Marcelo Flora, garante que as condições para acessar os fundos pela plataforma do BTG serão as mesmas existentes hoje para os milionários do private (taxas de administração baixas e mesmos prazos de resgate).

? Já vínhamos atuando com administração de recursos, mas sem uma presença no varejo de alta renda. Essa foi a forma que encontramos para crescer de forma relevante ? disse Flora, acrescentando que as investigações sobre o fundador do banco, André Esteves, envolvido em denúncias da Lava-Jato, não tiveram influência sobre esse novo projeto.

A XP Investimentos também passou a ter atendimento específico para quem tem mais de R$ 300 mil aplicados. Nesse caso, o acompanhamento é feito sempre pelo mesmo consultor e inclui reuniões presenciais, se necessário. Mas há também uma opção chamada de ?autoatendimento?, para quem tem no mínimo R$ 50 mil. Neste caso, a assessoria e as aplicações são feitas por meio de um canal digital. A Vérios, uma administradora de recursos que começou a operar em fevereiro para atender esse público de ?varejo de alta?, usa ?robôs? para definir os melhores investimentos para quem tem ao menos R$ 50 mil para aplicar. Com os canais digitais, ambas também tentam driblar a ausência de agências para chegar a esse público.

?FUNDOS ESPELHOS?

A Órama Investimentos oferece fundos destinados ao varejo de alta renda, mesmo para quem não tem R$ 50 mil para investir. Nesse caso, a aplicação mínima é de R$ 1 mil, mas o dinheiro fica em ?fundos espelhos?, em que os recursos de diversos investidores são aplicados num fundo principal.

? Isso dá a oportunidade para o pequeno investidor acessar o mesmo produto que os investidores de mais recursos. Esse é um mercado enorme, e tem muita gente sendo mal atendida ? ressaltou Habib Nascif Neto, responsável pela área de comercialização da Órama, lembrando que toda a oferta se dá por meio de uma plataforma digital.

Também de forma digital, o Banco Original tem uma segmentação que está restrita aos cartões de crédito, sendo que o voltado para o público de maior renda é o black. No entanto, segundo Marcos Lacerda, diretor de marketing, acaba sendo esse mesmo público o mais predisposto a investir.

? Mas os nossos valores de entrada são menores. Há fundos que em algumas gestoras pedem aplicação mínima de R$ 50 mil, e, no Original, esse valor cai para R$ 5 mil ou R$ 1 mil. Trabalhamos com um número menor de opções, mas o acesso é democrático ? disse.

Nesse segmento de varejo de alta renda, a maior operação de uma instituição privada é a do Itaú Unibanco, que tem a bandeira Itaú Personalité. Ao todo, são R$ 246 bilhões em recursos administrados que pertencem a esse público. O Bradesco, para aumentar a presença junto a esses investidores, comprou a operação brasileira do britânico HSBC.

? O cliente HSBC vai ter mantida a sua oferta de produtos. O Bradesco deve manter e ampliar esse portfólio. E vamos oferecer letras financeiras, que é um complemento, já que o HSBC não oferecia esses títulos ? explicou Carlos Firetti, diretor de relações com investidores do Bradesco.