Cotidiano

Bactérias da Antártica podem revelar evolução do aquecimento global

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RIO ? Pesquisadores brasileiros coletaram 150 quilos de solo e gelo da
Antártica, que podem trazer novas revelações sobre a vida de micro-organismos no
continente gelado. O material também será usado para estudar o impacto das
mudanças climáticas no ecossistema.

Antártica

A coleta foi iniciada em janeiro e durou 24 dias. Agora, as amostras começarão a ser analisadas em laboratórios das instituições participantes do Projeto Microsfera. De acordo com os cientistas, a análise das bactérias é uma importante ferramenta para o estudo do aquecimento global. Estes micro-organismos respondem rapidamente a mudanças no clima e no meio ambiente, adaptando seu metabolismo para adequar-se a fatores como o frio e a escuridão no inverno. As transformações que se prolongam por muitos anos levam ao desaparecimento de algumas espécies.

? Os micro-organismos que vivem na Antártica estão sujeitos a diferentes pressões ambientais. Precisam, por exemplo, sobreviver em locais com poucos nutrientes, além do frio intenso, com períodos de congelamento e descongelamento ? descreve Carolina Alves Fernandes, estudante de agronomia e pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), uma das universidades vinculadas ao Projeto Microsfera. ? A radiação solar também é um problema, já que ela afeta o DNA das células e isso interfere na capacidade de reprodução das bactérias. Mas talvez seu maior problema seja a escassez de água líquida, que é necessária para todos os seres vivos.

Coordenadora do projeto e professora do Instituto Oceanográfico da USP, Vivian Pellizari destaca que os cientistas ainda não conhecem o ?elo mais antigo? ? o ancestral que seria comum a todos os seres vivos. O contato com organismos primitivos, coletados nas amostras de gelo, é fundamental para aproximar os pesquisadores do início desta linha do tempo.

? A vida dos micro-organismos está ligada a processos químicos e à História do planeta ? ressalta. ? A atual diversidade das espécies tem um ancestral comum. Ao estudarmos regiões como a Antártica, temos acesso a amostras que não foram expostas a células recentes.

Uma pesquisa coordenada por Vivian concluiu que existe uma tendência de redução da diversidade de bactérias no solo antártico. Como a região mais afetada será aquela que estava coberta de gelo nos últimos 30 anos, resta saber se a diminuição do número de espécies se deve a mudanças climáticas ou se esta é uma tendência natural deste ecossistema.

? São duas frentes de trabalho: a descoberta da evolução destes micro-organismos e os impactos provocados pelas mudanças climáticas ? explica Vivian. ? Também podemos ver como as bactérias se adaptam a novas condições, inclusive a sua resistência à radiação ultravioleta.