RIO A indústria cinematográfica se despede, nesta quinta-feira, do cineasta argentino radicado no Brasil Hector Babenco, morto aos 70 anos por conta de uma parada cardíaca. Em seu último filme, “Meu amigo hindu”, o diretor contou exatamente a história de um cineasta (interpretado pelo americano Willem Dafoe) diagnosticado com câncer.
Na época do lançamento, Babenco se esquivava do rótulo de obra biográfica.
Nunca pensei nesse filme como uma salvaguarda. Nós temos um nome, uma marca. Recusei a ideia da biografia para dizer: Olha só o que aconteceu comigo. Jamais escreverei meu obituário contou Babenco, em entrevista coletiva realizada em fevereiro em São Paulo.
Falando ao site “UOL” em outubro do ano passado, o cineasta abordou sua relação com a morte: “Hoje, depois de ser muito assediado pela ideia de fim, meu único pedido à morte era que ela me deixasse fazer mais um filme. E esse (“Meu amigo hindu”) é o filme que a morte me deixou fazer”.
Na obra da ficção, Diego Fairman, o cineasta, supera a doença e mergulha em um projeto sobre sua própria história, em meio a uma reviravolta amorosa.
Não falamos muito. Ele tinha um roteiro forte. Trabalhamos para encontrar o olhar. Eu era o material para que ele encontrasse aquilo de que precisava. Muitas vezes, eu perguntava a ele de onde vinham determinadas situações, e ele me contava histórias saborosas. Outras vezes, me dizia: Você é o Diego, você é que tem que me dizer disse Dafoe, sobre interpretar um personagem e ser dirigido pelo cineasta que o inspirou.
Exibido pela primeira vez no ano passado, na Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo, Meu amigo hindu teve sua duração reduzida em cerca de 20 minutos para a estreia originalmente tinha 2h20min , atendendo a orientações do distribuidor. Um grande flashback inicial, que mostra o personagem principal recebendo a notícia da morte do pai e o enterro, foi cortado, assim como sequências no meio do filme. Para Babenco, quem teve cenas mais sacrificadas foram as atrizes (Maria Fernanda Cândido e Bárbara Paz, ex-mulher do diretor):
Elas tiveram cenas muito importantes cortadas. Mas isso acabou dando mais força aos personagens delas.