Cotidiano

Avesso à ?medicina comercial?, Luiz Londres vai criar atendimento voluntário

Ele não para. Depois de participar do lançamento, em março, do Observatório da Saúde — site que reúne história, cultura e pesquisas da área —, Luiz Roberto Londres está a poucos passos de criar o Instituto de Medicina e Cidadania. Essa nova organização vai concentrar os objetivos que o cardiologista, de 75 anos, defende há anos: recuperar a saúde pública e fazer a medicina voltar às suas bases, quando valorizava a relação entre médico e paciente. O primeiro projeto do instituto, que está em processo de registro de CNPJ, será o “Médicos voluntários”. Ele vai dar continuidade a uma lacuna deixada pela ONG Médicos Solidários, que deixou de existir no Brasil pela falta de recursos. A ideia é prestar atendimento médico gratuito a quem não tem condições de pagar, além de dar vazão ao sistema público, já sobrecarregado.

No “Médicos voluntários”, profissionais que atendem na rede particular de saúde vão disponibilizar horários em seus consultórios para atender os pacientes carentes. Já os exames serão bancados por uma parceria entre o instituto e laboratórios. De Florianópolis, onde esteve semana passada para uma palestra sobre seu segundo livro, “Iátrica, a arte clínica”, Londres falou ao GLOBO-Zona Sul sobre o projeto e voltou a criticar o que chama de “comercialização da medicina” pela invasão dos planos de saúde, que, segundo ele, contribuem para minar a relação entre médico e paciente e a própria estrutura do sistema público.

— A saúde privada está deturpando o interesse social, quando deveria ser um adendo. Hoje existe um grupo cada vez maior de pessoas que querem acabar com essas distorções — conta.

Favorável ao retorno dos “médicos de família”, que tinham um contato mais próximo com os pacientes, suas ideias estão alinhadas com a diretoria da Academia Nacional de Medicina (ANM). Presidente da instituição, o urologista Francisco Sampaio, eleito ano passado, defendeu, durante sua posse, essa mesma reaproximação.

‘CERVEJINHA’ NO HOSPITAL

À frente da Clínica São Vicente, na Gávea, fundada por seu pai há 83 anos, ele conta histórias do lugar e da profissão, que exerce desde 1965, quando se formou pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Cumprindo promessa feita ao seu dentista, tomou uma cerveja com ele dentro do hospital, enquanto este se recuperava de um infarto. Outra vez, presenciou o músico Baden Powell acalmar, com um concerto de violão, uma paciente que sofria de um surto psicótico. Pai de sete filhos, gosta de ler e caminhar por lugares novos.

— Sou fã de Niterói e da Ilha do Governador. Também olho para os subúrbios do Rio e vejo o resquício de uma cidade mais humana. Tenho uma sensação de que lá há um convívio maior e mais contato entre as pessoas, coisa que não acontece na Zona Sul — conta ele, que é morador do Jardim Botânico.

O cirurgião Marcio Meirelles, parceiro de Londres na criação do Observatório da Saúde, a jornalista Renata Lago, mulher de Londres há seis anos, e o amigo Cláudio Vieira fazem parte da criação do instituto. Ao falar do médico, todos ressaltam sua preocupação com a humanização da medicina, tema que aparece também em seu primeiro livro, “Sintomas de uma época”, escrito em 2007.

(*Estagiário, sob supervisão de Natanael Damasceno)