Cotidiano

Autor defende mortes em 'Game of thrones': 'Ninguém vive para sempre porque é herói'

RIO ? Para George R.R. Martin, toda história de respeito deve ter mortes impactantes. Afinal, na saga “As crônicas de gelo e fogo” (LeYa), que deu origem à série da HBO “Game of thrones”, ele dizimou dezenas de heróis queridos pelo público. Para o autor, narrativas em que apenas os personagens secundários morrem são “fraudes completas”.

Game of Thrones – 02-05-2016

O autor concedeu uma longa entrevista à revista de ficção científica “Galaxy’s Edge”. Em uma conversa com o escritor Joy Ward, ele repetiu um antigo bordão de Essos, um dos territórios fictícios do universo que criou.

“Um escritor, mesmo que faça fantasia, tem a obrigação de dizer a verdade. E a verdade é que, como se diz em ‘Game of thrones’, todos os homens devem morrer”, argumentou.

Martin fez críticas à falta de verossimilhança de algumas tramas. Para ele, a morte é algo inerente a qualquer batalha.

“Todos nós já lemos uma história como essa um milhão de vezes: um bando de heróis parte para uma aventura e o protagonista, seu melhor amigo e sua namorada passam por peripécias de arrepiar os cabelos. No fim, nenhum deles morre. Os únicos que morrem são personagens secundários. Isso é uma fraude completa. Não é assim que as coisas são. As pessoas, quando vão à guerra, perdem amigos e ficam feridos. Perdem a perna ou encontram a morte de maneira inesperada”, explicou ele.

Se um escritor quer ser honesto, ele precisa aceitar esse fato. Principalmente se quiser falar de batalhas e conflitos.

Um escritor tem a obrigação de dizer a verdade. E a verdade é que todos os homens devem morrer

“Uma vez que aceita a morte, você deve ser honesto e saber que pode derrubar qualquer um a qualquer momento. Ninguém vive para sempre só porque é um garoto bonito, o melhor amigo do protagonista ou o herói da trama. Às vezes, o herói morre. Pelo menos em meus livros é assim. Amo todos os meus personagens, é sempre difícil matá-los. Mas tem que ser feito”, afirmou.

A edição mais recente da revista online “Galaxy’s Edge” também conta com o conto de ficção científica “Fast friends” (“Amigos rápidos”, em tradução livre”), assinado por Martin.

Ele contou a Ward sobre o tempo em que publicava histórias em fanzines. Em 1971, chegou a pagar a taxa de US$ 94 para ter um conto publicado na “Galaxy Magazine”. Durante toda a década de 1970, o autor publicava tramas de ficção científica e fantasia em publicações deste tipo, até completar seu primeiro romance, em 1977.

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Mesmo sendo um autor bem sucedido dentro do gênero, Martin deu um conselho aos jovens autores. Jamais entrem na profissão pensando em ganhar dinheiro ou para ter um nome.

“Se você tem que escrever, se as histórias estão dentro de você, se você já inventou nomes e histórias para seus brinquedos quando era criança, pergunte-se: ‘E se ninguém jamais pagar um centavo pelas minhas histórias? Continuarei a escrevê-las?’ Se a resposta for ‘sim’, então você é um autor. E tem que fazer isso”, disse. “Se a resposta for ‘não, vou desistir em pouco tempo porque não consigo vender’, então desista agora e aprenda ciencia da computação. Ouvi dizer que existe um grande futuro nessas coisas de computadores”, brincou.

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