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Austrália rouba a cena na primeira semana, e vem para ser top 5 no Rio

Bicampeã olímpica (2004 e 2012), 11 ouros em Mundiais, a ciclista Anna Meares será a porta-bandeira da Austrália na cerimônia de abertura dos Jogos, daqui a oito dias. No voo que aterrissou na manhã de ontem no Rio, ela trazia em suas mãos, com unhas pintadas de azul, a biografia de outro símbolo de seu país: Cathy Freeman, a atleta de origem aborígene, ícone australiana, campeã olímpica nos 400m rasos justamente nos Jogos de Sydney-2000.

Meares é a grande estrela de uma delegação que veio com o objetivo de voltar ao top 5 do quadro de medalhas, mas que, antes mesmo de ela chegar ou de as provas começarem, já roubou a cena. Um misto de acaso com os incidentes na vila e estratégia de divulgação fez a Austrália virar o país mais comentado dos Jogos até aqui. O “aussie team”, como eles chamam, mostrou-se a mais azarada e também a mais midiática seleção da Olimpíada carioca.

Austrália na Vila nesta quarta-feira

A má sorte de ter ficado logo com o mais problemático entre os 31 prédios da Vila dos Atletas se transformou numa enorme dor de cabeça para os organizadores. O assunto dominou a semana, causou o incidente diplomático com a piada do prefeito Eduardo Paes, culminando com a entrega das chaves do prédio pelo próprio alcaide, em evento que aconteceu ontem.

Integrantes da equipe de comunicação garantem que o caso não influenciou o fato, já planejado, de a Austrália promover entrevistas coletivas diárias na área de imprensa do Parque Olímpico ? o único país a fazê-lo. Já foram três desde segunda-feira, sempre com presença de atletas e inscritas na programação oficial distribuída pelo Rio-2016 aos milhares de jornalistas credenciados. O país que deu lição de como receber na Olimpíada de organização superelogiada em Sydney-2000 mostra que também sabe ocupar seu espaço como visitante.

REAÇÃO APÓS FRACASSO NA NATAÇÃO

Sede de duas edições dos Jogos (antes de Sydney, houve Melbourne-1956), a Austrália mantém, desde Barcelona-1992, um lugar entre os dez melhores no quadro de medalhas, mas tenta frear relativa decadência. O auge, tradição que o Brasil espera manter no Rio-2016, foi como anfitriã, em 2000, quando o país foi 4º lugar geral com 58 medalhas. O nível foi mantido em Atenas-2004 (novamente 4º lugar, com a melhor marca própria de17 ouros), mas houve queda em Pequim-2008 e Londres-2012. Na última Olimpíada, o choque veio no principal esporte do país: apenas um ouro na natação.

O fracasso acendeu a luz vermelha. A preparação dos nadadores no atual ciclo foi como nunca vista, e o prognóstico a partir dos números recentes é que dê resultado: a considerar o ranqueamento pelo tempo com que os 39 nadadores obtiveram índice para o Rio, o time australiano é favorito para sair da piscina da Barra como campeão da natação, à frente até mesmo dos Estados Unidos.

CARTA PESSOAL DE UM ÍDOLO

A preparação incluiu detalhes ligados à fisiologia ? os atletas usaram pulseiras com sensores de monitoramento do sono para a adaptação ao inédito horário das 22h para as provas finais ? e reservou dedicação especial à parte psicológica para evitar a repetição do vexame de Londres. O time de natação ainda está concentrado em Auburn, nos EUA, onde cada atleta recebeu uma carta escrita por um antigo ídolo da natação australiana, com mensagens de incentivo e depoimento pessoal. Coube ao jovem Kyle Chalmers, de apenas 18 anos e estreante nos Jogos, a missiva assinada pelo maior medalhista olímpico do país, Ian Thorpe, o Torpedo.

A expectativa da delegação é conseguir entre 16 e 17 ouros, igualando a melhor performance. A revista americana ?Sports Illustrated? foi mais otimista e, em sua projeção, cravou 20 ouros australianos, nada menos que 11 na natação. Outros quatro viriam do ciclismo, três do remo, e os dois restantes dos coletivos hóquei sobre a grama masculino e rúgbi feminino. Para ilustrar, o Brasil sonha ser um top 10 com pelo menos 25 medalhas ? de todos os metais.

Ainda que não seja alcançada a expectativa da Sports Illustrated ou mesmo a menos ambiciosa meta da própria delegação, um ineditismo já está garantido: pela primeira vez em sua história nos Jogos, o time australiano tem uma maioria de mulheres. À frente de todas, e de todos, Anna Meares com a bandeira nacional.