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Atletismo tem desafio de revelar astro como Bolt

Após escrever a última linha de sua história olímpica no Engenhão ao vencer o revezamento 4x100m na sexta-feira, Usain Bolt atendeu a todos os pedidos de entrevistas e ainda teve paciência para tirar fotos com jornalistas e dar autógrafos mesmo com o relógio já entrando na madrugada. O jamaicano queria curtir cada momento de sua última apresentação no megaevento e pouco se importava com o fato de já ser madrugada. Agia com o entusiasmo de alguém que tivesse acabado de chegar ao estádio. Após sua última palavra, todos se entreolharam e ficou a pergunta: que graça terão as provas olímpicas de velocidade sem o maior de todos os tempos?

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Ao olhar para a nova geração, não há ninguém que prometa chegar perto do que o jamaicano alcançou com o inédito tricampeonato de todas as provas de velocidade (os 100m, 200m e 4x100m, sendo que o título do revezamento em Pequim-2008 ainda pode ser retirado por conta do doping de Nesta Carter), se é que isso será alcançado ou superado por alguém no futuro. O adeus de Bolt deixou uma sensação de vazio não só para o público como entre seus principais competidores. Além dos resultados esportivos, o seu carisma e poder de mudar uma atmosfera em segundos são únicos.

Prata nos 100m Mundial de Pequim, em 2015, e no Rio-2016, o americano Justin Gatlin, considerado o principal adversário do jamaicano, já admitiu que é impossível vencer Bolt e que não teria atingido um nível tão alto de desempenho se não tivesse o jamaicano como referência. Aos 34 anos, no entanto, Gatlin dificilmente irá ocupar o lugar do astro, que completa 30 anos hoje com direito a festa particular na Gávea.

YOHAN BLAKE É HERDEIRO DO RAIO

A tendência natural é que este posto seja ocupado por outro jamaicano. Medalhista de prata em Londres-2012, Yohan Blake, de 26 anos, é o nome desta nova geração que mais chegou perto do recorde mundial de Bolt nos 100m (que é de 9s58). Yohan fez 9s69, em 2009. Os outros nunca baixaram dos 9s80. Yohan, inclusive, foi o único a vencer um Mundial no auge do compatriota. Em Daegu-2011, o homem mais rápido do planeta queimou a largada na final e ficou fora da disputa. Neste cenário, Yohan, conseguiu seu único título mundial dos 100m.

Mesmo que nunca tenha chegado perto da melhor marca de Yohan, o canadense Andre De Grasse, a completar 22 em novembro, que no Rio-2016 foi bronze nos 100m e de prata nos 200m, talvez seja o mais forte candidato a um protagonismo nas provas de velocidade neste momento. Apesar de seus melhores tempos serem 9s91 (100m) e 19s80 (200m), o canadense é cinco anos mais novo que Blake e ainda tem muito a evoluir. Perguntado sobre como será o futuro na pista sem o jamaicano, o canadense mostrou certo descontentamento, e disse que competir com Bolt está sendo importante neste seu início de carreira.

? Não é questão de estar feliz… Eu gosto de competir com os melhores, e fazer isso com o Bolt neste meu começo só me fez crescer ? disse o canadense.

Sem citar o nome de De Grasse, o próprio Bolt, que manifestou ligeiro descontentamento consigo mesmo ao vencer os 200m sem ter conseguido baixar o tempo da semifinal (19s78), reconheceu que cansou um pouco, se disse ?velho?, mas afirmou que jamais poderia ?dar moleza? para os garotos:

? Não tenho mais 21 nem 26 anos, não é mais tão fácil para mim quanto antes. Mas eu não podia facilitar para os garotos aqui. Ainda sou eu que mando ? brincou Bolt, ao lado de De Grasse e do francês Christophe Lemaitre (bronze), já nem tão novo assim (26 anos).

Apesar de ter surpreendido com o bronze nos 200m, Lemaitre não é o nome mais badalado da França. Jimmy Vicault, de 24, é promessa ainda maior de bons resultados para a França neste ciclo olímpico que está começando. Em 2016, durante quase junho inteiro, ele ficou com a melhor marca do ano ao fazer 9s86. No fim deste mesmo mês, ainda anotou um 9s88. Seus tempos ainda estão longe de fazer frente aos 9s69 de Yohan. No Rio, o francês decepcionou e foi o penúltimo colocado com 10s06, um tempo modesto para uma final olímpica.

Velocista mais novo na final olímpica dos 100m, Trayvon Brommel, de 21 anos, é a principal promessa americana. Apesar de ter ficado em último, com 10s06, ele foi medalhista de bronze ao lado de De Grasse em Pequim-2015. No Mundial de pista coberta deste ano, ele venceu os 60m.

Outro nome desta nova geração que merece destaque é o sul-africano Akani Simbine, de 22 anos, que, com 9s94, chegou na quinta colocação na final olímpica. Seu melhor tempo na distância é 9s89, feitos em julho passado. No entanto, assim como a maioria desses nomes da nova geração, Simbine nunca baixou dos 9s80. E está muito longe de chegar perto de Bolt.