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Atletas da Indonésia aproveitam dia de oração para fazer turismo na cidade

INFOCHPDPICT000060169175-337.jpgRIO? A oração de sexta-feira na Mesquita da Luz, em Vila Isabel, ganhou contorno vermelho. Dia sagrado para o islamismo, a sexta pede que os muçulmanos se reúnam numa mesquita. O templo da Luz é o único no estado do Rio, e foi o primeiro destino da delegação da Indonésia fora da Vila dos Atletas, na Barra. Eles se juntaram aos brasileiros e migrantes que tradicionalmente fazem a oração no local numa pausa entre os treinos.

Os 28 atletas desembarcaram no Rio, na noite de quinta-feira. A grande maioria é muçulmana, um retrato que reflete o credo no país, cuja bandeira é vermelha e branca. Quase 90% da população segue o islamismo, ou mais de 200 milhões de pessoas.

? O islamismo é algo fácil. Tudo é fácil, na verdade. A oração de sexta é uma exceção, quando é necessário ir a uma mesquita. Fora disso, fazemos cinco orações por dia e pode-se orar em qualquer lugar. O plano da delegação é vir a esta mesquita toda sexta, durante a Olimpíada ? diz o chefe da delegação da Indonésia, Raja Sapta Oktohari.

Os atletas muçulmanos chegam ao Brasil num momento de radicalização de movimentos extremistas, em especial o Estado Islâmico (EI), e de um temor em relação a atos terroristas na Olimpíada ? mais uma vez, é o EI o que mais assusta. Duas operações da Polícia Federal (PF) nos dias que antecedem os Jogos resultaram em prisões de brasileiros simpatizantes do EI.

Para os atletas que seguem o islamismo, um medo comum é o da discriminação, o da confusão entre a prática da fé e a radicalização de grupos adeptos do terrorismo. O centro ecumênico existente na Vila dos Atletas já é desde o dia 24 um espaço de convivência entre as religiões e de troca de impressões sobre o significado de cada uma.

O islamismo é um dos cinco braços religiosos contemplados no centro ecumênico. Os outros são cristianismo, judaísmo, hinduísmo e budismo.

A coordenação do apoio religioso aos atletas muçulmanos, como a maioria dos indonésios, coube ao xeique Jihad Hammadeh, diretor da Assembleia Mundial da Juventude Islâmica na América Latina e presidente do Conselho de Ética da União Nacional das Entidades Islâmicas. Hammadeh, que acompanhou a delegação da Indonésia na Mesquita da Luz, relata situações de preconceito em razão da evidência dada a atos de terror cometidos por extremistas. Outras delegações devem comparecer ao templo nas próximas sextas.

? Existe a preocupação de todo muçulmano com discriminação, preconceito, mesmo vivendo em países islâmicos. Aconselhamos os seguidores a serem proativos. O preconceito é fruto do desconhecimento. Julgam a maioria pela minoria e se cria uma histeria social ? diz o líder religioso.

Alimentação diferenciada

Hammadeh afirma que o espaço do centro ecumênico na Vila dos Atletas destinado aos muçulmanos terá horários fixos para as cinco orações diárias. Dois capelães e quatro voluntários vão auxiliar os atletas. Nem a organização dos Jogos nem o xeique sabem precisar quantos são os participantes do evento que seguem o islamismo.

? Temos a necessidade de fazer orações em congregação, porque para nós equivale a 27 vezes a mais do que a oração individual. E é uma forma de os atletas muçulmanos confraternizarem, independente da nacionalidade ? afirma Hammadeh.

As delegações com atletas muçulmanos acertaram com a organização da Olimpíada a disposição de alimentos adequados aos preceitos da religião. Eles não comem carne de porco e o consumo de carne bovina e de frango depende do que é chamado de ritual da degola, em que todo o sangue é retirado do corpo do animal.

Para o chefe da missão da Indonésia, a alimentação distinta é uma das principais preocupações dos atletas.

? Esta comida especial é muito familiar para o islamismo, e este aspecto é comunicado à organização. Diferentes nações dependem deste tipo de comida. E já há uma familiaridade com o que se precisa ? afirma Oktohari.

Os indonésios têm esperança de medalha no badminton, arremesso de peso e tiro com arco. E acreditam no êxito dos Jogos Olímpicos no Brasil.

? Nós ouvimos muitas coisas sobre o Brasil, como vírus zika, segurança, questões sociais. O Brasil é um país grande e acreditamos que vai entregar os jogos perfeitamente. Não há preocupação com essas coisas. Viemos com a preocupação de ganhar ? diz o chefe da delegação.