Cotidiano

Atingidos dizem querer receber pelo que é deles

O clima da reunião foi tenso, com troca de acusações. Mesmo depois de duas horas de conversa, nada de concreto foi definido

Capanema – Os secretários da Casa Civil, Valdir Rossoni, e da Segurança Pública, Vagner Mesquita, estiveram ontem em Capitão Leônidas Marques para reunião com representantes do MAB, o Movimento de Atingidos por Barragens, que falam em nome de atingidos pela Hidrelétrica do Baixo Iguaçu. A finalidade foi tentar acalmar os ânimos depois de confronto de atingidos com homens da Polícia Militar, na véspera. O clima da reunião foi tenso, com troca de acusações. Mesmo depois de duas horas de conversa, nada de concreto foi definido.

Líderes do MAB afirmam que só uma sinalização confiável de que a pendência será de uma vez resolvida colocará fim às animosidades que atingiram seu ápice na quinta-feira no canteiro de obras da hidrelétrica do Baixo Iguaçu, em construção entre Capanema e de Capitão Leônidas Marques. As famílias dizem que a atitude de impedir o acesso à obra foi mais uma tentativa desesperada. “Há exemplos de usinas construídas em outras regiões onde aconteceu exatamente a mesma coisa. Ficaram enrolando e, no fim, não indenizaram os atingidos, que perderam seus bens”, diz um dos manifestantes.

As tentativas de negociação se arrastam há mais de dois anos por falta de consenso quanto aos valores de indenização das áreas que serão tomadas pelo empreendimento. O Consórcio que constrói a usina, formada pela Neoenergia e Copel, faltou a várias regiões nos últimos meses com representantes das famílias, em algumas sem sequer avisar os atingidos previamente.

Na quinta-feira, a Polícia Militar foi chamada e houve confusão. Os atingidos jogaram pedras e o revide ocorreu com bombas de efeito moral e balas de borracha. Então, as famílias decidiram abandonar o local. No entanto, segundo a PM, alguns voltaram e teriam jogado um dos carros da empresa no rio. A guarita da empresa também teria sido atacada. Funcionários do consórcio, que dizem ter sofrido ameaças, registraram queixa. Ninguém ficou ferido.

“É difícil de entender que com sem-terra, que são foras da lei, o governo demonstra não ter a mesma disposição. Somos donos das áreas que estão tentando nos tirar”, diz outro atingido. Uma missa foi a forma que a comunidade de Capitão encontrou para se solidarizar aos agricultores. Cerca de mil famílias são afetadas pelo empreendimento, orçado em R$ 1,7 bilhão. Pronta, a usina vai abastecer cidade com um milhão de habitantes a partir de 2018.